O empresário Joesley Batista
afirmou à Procuradoria-Geral da República que pagou R$ 50 mil por mês a Aécio
Neves (PSDB-MG), ao longo de dois anos, por meio de uma rádio da qual o senador
era sócio.
Os pagamentos, de acordo com Joesley, foram solicitados diretamente pelo
tucano em um encontro no Rio, no qual Aécio disse que usaria o dinheiro para
"custeio mensal de suas despesas", segundo palavras do empresário da
JBS.
Joesley entregou aos procuradores 16 notas fiscais emitidas entre 2015 e
2017 pela Rádio Arco Íris, afiliada da Jovem Pan em Belo Horizonte. A JBS
figura nas notas como a empresa cobrada.
A Folha teve acesso ao relato, que está em um dos anexos da colaboração do
empresário entregue à PGR em 31 de agosto do ano passado, em material
complementar à primeira leva, de maio -- que atingira o presidente Michel Temer
e também Aécio.
As notas fiscais têm como justificativa a prestação de "serviço de
publicidade" e trazem a descrição de que o valor mensal era de
"patrocínio do Jornal da Manhã", um dos programas da rádio.
Pela soma das notas fiscais, a JBS pagou à rádio da família de Aécio R$
864 mil.
Reportagem da Folha de 13 de março revelou que Aécio vendeu suas cotas da
rádio Arco Íris para Andrea Neves, sua irmã, por R$ 6,6 milhões em setembro de
2016.
Nas declarações de Imposto de Renda do tucano, obtidas pela PGR mediante
quebra de sigilo autorizada pelo Supremo, o valor declarado das mesmas cotas em
2014 e 2015 foi de R$ 700 mil. Com o negócio com a irmã, o patrimônio declarado
de Aécio chegou a R$ 8 milhões em 2016.
No relato aos procuradores, Joesley disse não saber se algum serviço de
publicidade foi de fato prestado pela rádio Arco Íris, mas reforçou que o
objetivo dele foi repassar os R$ 50 mil mensais a fim de manter um bom
relacionamento com o senador, que tinha sido candidato à Presidência em 2014 e
poderia voltar a ser em 2018.
As notas fiscais mencionam o valor de R$ 54 mil, mas no anexo à PGR
Joesley cita R$ 50 mil — ele não esclarece se a diferença era imposto a ser
abatido para repassar o valor exato que teria sido solicitado pelo
tucano.
Acompanham as notas fiscais os respectivos comprovantes de pagamentos,
feitos via transferência eletrônica ou boleto bancário.
Os pagamentos saíram da conta da JBS S.A. direto para a da Rádio Arco Íris
Ltda., que fica na agência número 0925 do banco Itaú, localizada na Savassi,
bairro nobre de Belo Horizonte.
O primeiro pagamento registrado é de julho de 2015, mais de um ano depois
do início da Operação Lava Jato. O último, de junho de 2017. À época, a delação
da JBS já tinha vindo a público e Andrea e o primo, Frederico Pacheco, já tinham
sido presos.
Os dois foram detidos em maio e soltos pelo STF no mês seguinte em razão
do episódio em que Aécio foi gravado por Joesley pedindo R$ 2 milhões. Parte
desse montante foi entregue ao primo do tucano em dinheiro vivo, em uma ação
filmada pela PF.
Aécio, a irmã, o primo e um assessor de um senador aliado tornaram-se réus
no STF na última terça (17), sob acusação de corrupção passiva nesse caso. A
defesa diz que os R$ 2 milhões eram um empréstimo pedido a Joesley, que induziu
o tucano a receber em dinheiro vivo.
Para a defesa, houve um flagrante armado por Joesley e membros da
Procuradoria em março de 2017. O material da mesada entregue aos procuradores
indica que empresário e senador tinham relação anterior à delação.
OUTRO LADO: O advogado de Aécio Neves, Alberto Toron, disse, por meio de nota, que Joesley
Batista se aproveita de uma "relação comercial lícita" para
"forjar mais uma falsa acusação".
Ele confirmou a relação financeira entre JBS e a rádio Arco Íris e negou
que o senador, ao contrário do que diz Joesley, tenha solicitado os recursos
para despesas pessoais.
"O senador jamais fez qualquer pedido nesse sentido ao delator, da
mesma forma que, em toda a sua vida pública, não consta nenhum ato em favor do
grupo empresarial."
De acordo com o advogado, a prova de que a relação com a rádio era legal é
que o contrato com a JBS foi mantido normalmente até o encerramento, quando a
delação de Joesley já tinha sido feita.
"Ao dar início à negociação de acordo de delação, delatores se
comprometem a suspender qualquer prática irregular", afirmou.
Segundo Toron, o relato é mais uma demonstração de má-fé e desespero do
delator. "A afirmação do delator de que não sabia se os serviços teriam
sido prestados demonstra o alcance da sua má-fé, já que bastaria uma consulta
ao setor de comunicação das suas empresas para constatar que os serviços foram
correta e efetivamente prestados", disse.
"A falta de credibilidade e as sucessivas mentiras e omissões
praticadas pelo delator levaram a PGR a pedir a rescisão dos benefícios de sua
delação e contribuem para desqualificar mais uma mentira desse cidadão",
afirmou.
Procurada, a rádio Arco Iris se disse "surpresa" com o relato de
Joesley por tentar "dar caráter político a uma relação estritamente
comercial, comprovadamente correta, legal e legítima na prestação de serviços
publicitários".
De acordo com a empresa, a relação com a JBS está documentada por trocas
de e-mails com tratativas com os setores de marketing de marcas do grupo de
Joesley, como Vigor, Itambé e Seara.
A rádio enviou à Folha cinco comerciais veiculados na grade de
programação. Segundo a emissora, esses foram os localizados. A rádio diz que um
mesmo material pode permanecer meses no ar. Afirmou ainda que há campanhas
promocionais "gravadas com a voz do locutor da rádio". (Via: Folhapress)
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