Num intervalo de pouco mais de 24
horas, Ibope e Datafolha despejaram na praça dados frescos
sobre a corrida presidencial. No atacado, detectam o mesmo sinal: a polarização
entre Bolsonaro e Haddad. No varejo, expõem pelo menos uma diferença notável,
fora da margem de erro. Num levantamento, Ciro aparece semimorto. Noutro,
permanece vivo na briga por uma vaga no segundo turno.
Ciro manteve-se estático nas duas pesquisas: 11% no Ibope,
13% no Datafolha.
A diferença está no movimento de Haddad. No Ibope, o preposto de Lula deu
um salto de 11 pontos percentuais. Bateu em 19% das intenções de voto, abrindo
sobre Ciro um abismo letal de oito pontos.
No Datafolha, o poste petista avançou três casas. Foi a 16%,
distanciando-se apenas três pontos percentuais de Ciro. Como a margem de erro
da pesquisa é de dois pontos percentuais — para cima ou para baixo —, a dupla
estaria ainda em situação de empate técnico.
O mais importante na leitura de uma pesquisa é enxergar os movimentos que
ela insinua. A transferência de eleitores de Lula para Haddad fica evidente nas
duas sondagens. E não parece ter batido no teto, eis o movimento mais
relevante.
Entretanto, dependendo do instituto, a candidatura de Ciro pode estar na
UTI, respirando por aparelhos, ou na enfermaria, com os sinais vitais
preservados. Para avançar, Ciro terá de conquistar votos do eleitorado de
centro, hoje acomodado no cesto de rivais como Alckmin e Marina.
Há diferenças também nos cenários de segundo turno. No Ibope,
Bolsonaro (39%) encosta em Ciro (40%). No Datafolha, Ciro ainda aparece como
único candidato que venceria todos os rivais. Num embate direto contra
Bolsonaro, prevaleceria com seis pontos de frente: 45% a 39%. Há dez dias, essa
distância era de dez pontos.
Numa disputa em que quatro de cada dez eleitores admitem mudar de voto, a
informação sobre o grau de competitividade no segundo turno é valiosa. Permite
pelo menos que Ciro continue fustigando Haddad com perguntas como a que fez
nesta quarta-feira: ''Se houver uma crise grave, ele vai a Curitiba?''
De resto, os dois institutos trouxeram a mesma aferição da curva
ascendente de Bolsonaro. O capitão oscilou dois pontos para o alto. Amealhou
28% das intenções de voto, cristalizando-se como o polo anti-PT. Quanto aos
outros candidatos, as diferenças situaram-se dentro da margem de erro. Nos dois
institutos, Alckmin e Marina, abaixo dos dois dígitos, saíram da disputa pela
vaga de adversário de Bolsonaro no segundo round.
Numa campanha presidencial de quinta categoria, marcada pelo excesso de
raiva, as pesquisas acabam ganhando mais cartaz do que as ideias. As
estatísticas têm valor e merecem toda a atenção. Não é razoável que apenas
candidatos e financiadores disponham dos dados. O eleitorado tem direito à
informação. E pode fazer com ela o que bem entender. Mas do jeito que a coisa
anda, quando perguntarem ao brasileiro em quem pretende votar ele vai acabar
respondendo que está em dúvida entre o Datafolha e o Ibope. (Por Josias de Souza)
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