O sertanejo sempre buscou
alternativas para sobrevivência debaixo do clima árido da região. Em Carnaíba,
no Sertão do Pajeú, uma iniciativa desenvolvida no meio da caatinga vem
garantindo uma nova forma de sustento para o homem do campo.
Desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente do município e
implantado experimentalmente no Sítio Caxi, a 26 quilômetros do Centro, o
projeto de piscicultura familiar, através da criação de tilápias (oreochromis
niloticus) vem sendo considerado um êxito. Cerca de 1.200 peixes são
distribuídos em seis tanques montados no Centro de Experimento para a
Agricultura Familiar (Cepaf).
O objetivo do projeto é complementar a alimentação das famílias,
estimulando o consumo do peixe, gerar renda e proporcionar melhoria na
qualidade de vida das pessoas. A criação dos peixes propicia outro benefício.
Na hora da manutenção dos tanques, toda a água que estava dentro deles é
reaproveitada irrigando a produção de hortaliças cultivadas na área onde os
reservatórios estão montados. Essa água é rica em matéria orgânica.
Primeiramente o projeto foi pensado para atender 30 famílias, mas, segundo
o secretário de Agricultura de Carnaíba, José Ivan Pereira, 43, houve uma
demanda maior. “Foi uma surpresa a procura pelo fato de estarmos no
semi-árido”, diz o gestor. Ainda em fase experimental, o projeto está sendo
desenvolvido por 37 famílias, que receberam da prefeitura os tanques
devidamente povoados de tilápias.
Benefícios
À criação dos peixes e ao cultivo das hortaliças juntam-se a criação de
galinhas e do preá da Índia, formando assim uma cadeia produtiva dentro da
agricultura familiar no município. De setembro do ano passado, quando foi
lançado, para cá, o projeto de piscicultura já garantiu um cardápio diferente
para a população rural, que na maioria dos casos não tinha uma diversidade tão
grande.
“A nossa ação fortaleceu a alimentação familiar”, atesta José Ivan. Parte
da produção do Sítio Caroá foi, inclusive, distribuída em algumas unidades
municipais de ensino, reforçando a merenda escolar, e no hospital municipal
para ajudar na alimentação dos pacientes.
Projeto fixa o homem à terra
Além de ajudar na sustentabilidade da agricultura familiar, o projeto de
piscicultura carnaibense, também está tendo um outro papel importante na vida
da população rural do município. Entusiasmado com o resultado da novidade, o
camponês já não pensa mais em deixar a sua terra. É o caso do agricultor Flávio
Siqueira Batista, 40 anos. Depois de idas e vindas entre a terra natal e São
Paulo e Belo Horizonte, em busca de melhores condições de vida, Siqueira
descobriu a piscicultura e vem se beneficiando com a criação de tilápias. “O
projeto me fez ficar no meu lugar, está sendo muito proveitoso”, conta o
agricultor, que antes vivia apenas do plantio de milho e feijão.
O também agricultor Cícero Laurentino da Silva, 47, demonstra satisfação
quando fala da criação dos peixes. Na comunidade do Oitizeiro, onde mora,
instalou três tanques, cada um com 500 alevinos. “Vi que dava certo, que mudava
um pouco a realidade e resolvi investir”, relata Cícero Laurentino. “Já comecei
a comer dos peixes e achei bom. Fiz até um pirãozinho”, conta, rindo.
Mas contente mesmo com a criação dos alevinos ficou a agricultora Josefa
Gonçalves da Silva, 65. Dona Zefinha, como é conhecida, diz que tem o maior
carinho pelos peixes, que trata por “meus netinhos”. “Não me dão trabalho. É a
melhor coisa que tem para criar”, revela. No Sítio Lagoa do Caroá, onde reside,
dona Zefinha já se prepara para construir outro tanque, além do que já tem. A
comunidade do Caroá, inclusive, é beneficiada com um açude “abastecido” por
dois mil peixes, colocados lá pela prefeitura de Carnaíba. (Via: Diário de Pernambuco – Sebastião Araújo)
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