O presidente Jair Bolsonaro
aproveitou nesta segunda-feira (29) um evento com ruralistas no interior de São
Paulo para afirmar que vai enviar ao Congresso um projeto de lei que isenta de
punição o produtor que atirar contra invasores de terras. Bolsonaro disse que a
proposta em gestação no governo – uma promessa de sua campanha eleitoral – “vai
dar o que falar”, mas ajudará a combater a violência no campo. “A propriedade
privada é sagrada e ponto final”, afirmou o presidente durante discurso de
abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), um dos mais importantes eventos
do agronegócio do País.
Bolsonaro relatou, ainda, que a Câmara dos Deputados vai discutir, na
próxima semana, um segundo projeto de lei que autoriza a posse de armas de fogo
em todo o perímetro das propriedades rurais e não apenas nas residências.
Segundo ele, a votação foi acertada durante uma conversa no domingo, 28, com o
presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Semana que vem ele vai botar em pauta na Câmara um projeto de lei que
visa fazer com que a posse de arma de fogo para o produtor rural seja utilizada
em todo o perímetro da sua propriedade”, anunciou.
O presidente detalhou, também, a outra proposição que ele próprio enviará
ao Congresso. “O projeto nosso vai dar o que falar, mas é uma maneira que nós
temos de ajudar a combater a violência no campo. É fazer com que, ao defender a
sua propriedade privada ou a sua vida, o cidadão de bem entre no excludente de
ilicitude, ou seja, ele responde, mas não tem punição. É a forma que nós temos
que proceder para que o outro lado, que teima em desrespeitar a lei, tema
vocês, tema o cidadão de bem, e não o contrário.”
Bolsonaro atribui aos produtores rurais forte apoio na eleição para a
Presidência. “Eu sou um de vocês”, disse nesta segunda, durante a Agrishow.
O Movimento dos Sem Terra (MST) condenou a proposta e advogados ouvidos pela
reportagem questionam a aplicação do excludente de ilicitude a produtores
rurais que atirarem em invasores de terra (mais informações nesta página).
O pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio
Moro, inclui nessa regra apenas o policial que age para prevenir agressão ou
risco a reféns – considerando que, neste caso, ele estaria atuando em legítima
defesa. Pela lei atual, o policial deve aguardar uma ameaça concreta ou o
início do crime para então reagir. Na semana passada, em café com um grupo de
jornalistas, o presidente revelou sua intenção de apresentar um projeto
paralelo ao pacote de Moro e sinalizou que há discordância da parte do ministro
em estender o excludente de ilicitude. Procurado nesta segunda, Moro não havia
se posicionado até a conclusão desta edição.
Legislação: Ao discursar na abertura da Agrishow, Bolsonaro reafirmou, pela terceira
vez, apenas em abril, sua intenção de encaminhar modificações na legislação de
armas de fogo. “Invasão de domicílio ou de outra propriedade privada, como uma
fazenda, uma chácara… o proprietário pode se defender atirando. Se o outro lado
resolver morrer, é problema dele”, disse Bolsonaro, durante live que fez nas
redes sociais no dia 18.
Uma das mudanças propostas pelo presidente já está no Congresso e vai
passar a tramitar em regime de urgência. Bolsonaro vai aproveitar o projeto de
lei do deputado Rogério Peninha (MDB-SC) que autoriza posse de armas nas
propriedades rurais. O PL 377 está pronto para análise na Câmara.
Originalmente, o deputado propôs que o registro da arma de fogo dê o
direito de posse e porte “no interior de sua residência, propriedade rural ou
dependência destas”. Deputados do Podemos e do PSL já solicitaram a inclusão do
projeto na ordem do dia para votação.
Além de ampliar a posse e dar isenção aos produtores rurais, o presidente
quer garantir, por meio de decreto, o porte permanente a praças das Forças
Armadas com estabilidade no serviço militar. A medida também tem o mesmo
alcance para caçadores, atiradores e colecionadores.
Já o projeto de lei que trata do excludente de ilicitude ainda está sendo
elaborado. O porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, afirmou
nesta segunda que será enviado ao Congresso assim que “esses estudos estiverem
conclusos”, sem dar um prazo para isso.
Em encontro com jornalistas realizado na quinta-feira passada, Bolsonaro
sinalizou que deve mandar o projeto ainda neste primeiro semestre.
As medidas no acesso a armas de fogo já teriam sido discutidas com o
Ministério da Defesa, as Forças Armadas, o Ministério da Justiça e a Polícia
Federal. Elas fazem parte de um pacote que o governo preparou para dar o que
chama de “segurança jurídica ao agronegócio”.
Outra iniciativa prometida por Bolsonaro é retomar a reforma agrária, que
chegou a ser paralisada no início do governo. O presidente afirma que o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) vai atuar “sem viés
ideológico”, em lotes ociosos e com acordo de conciliação em caso de áreas
judicializadas.
Como o jornal O Estado de S. Paulo mostrou, o ritmo de invasões de terras
caiu desde a posse de Bolsonaro, historicamente uma época de pico nas ocupações
lideradas por entidades como o MST. Até a metade do mês, apenas uma invasão foi
registrada. (Via: Estadão)
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