O santuário do Morro da Conceição, na Zona
Norte do Recife, promove hoje, às 17h, uma cerimônia inter-religiosa.
Católicos, umbandistas, evangélicos, praticantes do candomblé, espíritas
kardecistas e juremeiros estarão juntos, pela primeira vez, aos pés da imagem
de Nossa Senhora da Conceição. A ideia é estimular a cultura de paz e abrir
caminhos para um tempo não de tolerância, mas de respeito às diversas
expressões religiosas existentes no País.
Sugerido
pelos padres missionários redentoristas que administram o santuário do Morro há
quatro anos, o ato inter-religioso é coordenado por Paula Guedes, integrante do
Terreiro Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão, em Água Fria, bairro da Zona Norte
da cidade. “A retomada desse diálogo religioso, com o respeito à manifestação
de fé escolhida por cada pessoa, será um dos momentos históricos da festa anual
em homenagem a Nossa Senhora da Conceição”, declara Paula Guedes.
Na
década de 1980, quando padre Reginaldo Veloso era pároco do Morro, havia missas
com a participação da comunidade afro, recorda Paula. “Nesse mesmo período, os
ônibus que saíam dos terreiros com panelas de oferendas para Iemanjá paravam no
monumento de Nossa Senhora e faziam reverências à santa antes de seguir para o
mar, seria ótimo ver as casas de candomblé repetindo isso”, destaca.
A
celebração deste sábado é aberta ao público e terá, aproximadamente, uma hora e
meia de duração com orações católicas, louvores, cânticos e toadas de terreiro.
Simpatizantes e seguidores das diversas religiões que subirem o Morro nesta
tarde serão recepcionados ao lado da igreja pelo primeiro bloco feminino afro
de Pernambuco. O Obirin (mulher ou feminino na língua iorubá) foi fundado por
Paula Guedes no Morro da Conceição, em maio deste ano.
Todos
os líderes religiosos que confirmaram presença na cerimônia falarão para o
público, informa o reitor do santuário do Morro, padre Mailson Régis Queirós
Costa. “Não queremos com esse ato formar mais católicos ou mais umbandistas,
queremos mostrar que as nossas diferenças não são empecilhos para vivermos na
paz”, afirma o sacerdote. O encontro, diz ele, tem função educativa na redução
de preconceitos.
“Com
frequência, escutamos notícias de terreiros incendiados e imagens destruídas em
igrejas, a intolerância religiosa está crescendo muito no Brasil, precisamos
nadar contra essa corrente de ódio travestida de amor cristão”, ressalta padre
Mailson Régis. A celebração de hoje, acrescenta o missionário redentorista,
reforça a vocação do Morro da Conceição como um território aberto a todas as
manifestações de fé.
O
reitor do santuário avisa que o ato inter-religioso, a partir de agora, será
incorporado à programação da pré-festa de Nossa Senhora da Conceição (a
abertura oficial da Festa do Morro será quinta-feira próxima com a Procissão da
Bandeira). “Vamos encerrar a cerimônia rezando o pai-nosso, por ser universal,
e cantando a Oração de São Francisco, por difundir a paz”, diz. O Afoxé Omim
Sabá, do Cordeiro, também participa do encerramento.
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