Um dia após demitir Abraham
Weintraub do Ministério da Educação num gesto ao STF (Supremo Tribunal
Federal), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enviou, por meio de
integrantes da ala jurídica do governo, recado à corte de que quer distensionar
a relação com o Judiciário.
Nesta sexta (19), os ministros Jorge de Oliveira (Secretaria-Geral), André
Mendonça (Justiça) e José Levi do Amaral (Advocacia Geral da União) viajaram a
São Paulo para um encontro com o ministro Alexandre de Moraes.
Moraes é relator do inquérito das fake news no STF e conduz o caso das
investigações do atos antidemocráticos contra a corte. O ministro irritou o
presidente Jair Bolsonaro ao quebrar sigilos de apoiadores e aliados políticos.
Oficialmente, a reunião serviu para que os ministros discutissem processos
relacionados à terra indígena Raposa Serra do Sol, prejuízos ao setor
sucroalcooleiro, a possibilidade de o TCU (Tribunal de Contas da União)
declarar indisponibilidade de bens e ação sobre controle de armas e munições
por parte do Exército.
O principal objetivo do encontro, porém, foi buscar uma aproximação com
Moraes.
Segundo relato à reportagem, os integrantes do governo disseram que
Bolsonaro está disposto a iniciar um nova fase na relação com o Judiciário.
Moraes é o relator do inquérito que investiga o disparo de fake news
contra o governo e que atinge aliados de Bolsonaro. Nesta semana, o STF decidiu
que a investigação é constitucional e autorizou o prosseguimento do inquérito
por 10 a 1.
O julgamento levou preocupação ao Planalto por mostrar que o Supremo está
coeso e decidido a barrar o que considera ataques à corte.
Além deste, Moraes também é relator de outro inquérito, que apura a
organização de atos antidemocráticos e que também envolve apoiadores de
Bolsonaro.
A reunião entre os ministros ocorre na semana em que o presidente fez um
dos gestos mais contundentes na tentativa de pacificar sua relação com a corte
ao tirar Weintraub do MEC, cujo anúncio ocorreu nesta quinta (18).
Em reunião no dia 22, o ex-ministro da Educação chamou de
"vagabundos" e defendeu a prisão de ministros do Supremo.
No último domingo (14), ele participou de ato a favor do governo Bolsonaro
um dia após manifestantes terem atirado fogos de artifício contra o Supremo
simulando o bombardeio.
Na ocasião, Weintraub voltou a falar em "vagabundos", mas não
especificou a quem se referia.
A participação do ministro no protesto reforçou os pedidos de integrantes do
STF pela demissão do aliado de Bolsonaro.
Temendo o avanço de investigações contra o Executivo, o presidente cedeu e
exonerou o aliado.
Na avaliação de integrantes do Supremo, o demissão demorou a ocorrer, mas foi
um gesto para distensionar o ambiente com a corte.
Mesmo assim, ministros ressaltam que não vão tolerar ataques desmedidos ao
Supremo.
A posição considerada ambígua de Bolsonaro, que ora acena em gesto de paz ao
STF ora reclama da corte, tem irritado os integrantes do tribunal.
Blog: O Povo com a Notícia