Venezuelanos que vivem em Manaus ficaram chocados quando souberam que o seu país, liderado pelo ditador Nicolás Maduro, enviará remessas de gás hospitalar para socorrer a capital do estado do Amazonas.
Sem o oxigênio disponível, as hospitalizações dispararam e as mortes em unidades públicas e privadas da cidade. Nesta sexta-feira (15), Manaus registrou o maior número de enterros em um único dia desde o início da pandemia, com 213 ocorrências.
Entre as causas das mortes, 102 foram provocadas pela Covid-19, outros 7 ainda são suspeitos de terem ocorrido por complicações da doença, segundo dados da prefeitura. A reportagem conversou com um grupo de venezuelanos que vivem num acampamento da "Operação Acolhida", montado pela prefeitura em parceria com a ONU (Organização das Nações Unidas) sob um viaduto ao lado do terminal rodoviário da cidade.
Todos ali integram o grupo de 6 milhões de pessoas que deixaram a Venezuela quando o país entrou em colapso. Muitos deles caminharam até a fronteira com o Brasil, na cidade de Pacaraima, em Roraima, em busca de ajuda humanitária.
No acampamento, composto por imensas barracas de lona branca, as famílias venezuelanas conseguem dormir à noite em segurança. Durante o dia, saem pelas ruas para fazer bicos ou pedir dinheiro nos semáforos da capital.
Se antes da pandemia a luta pela inserção social na cidade já era grande, agora, a situação piorou, diz Claritza Magdalena Suarez, 39. Suarez organizava suas roupas espalhadas sobre um colchão quando a reportagem visitou o espaço nesta sexta.
O marido dela, que não quis se identificar, também esboçou a mesma surpresa. "Não acredito nisso." Mesmo tendo sido quase que obrigados a deixar a sua terra natal quando não tinham nem o que comer no auge da crise venezuelana, o casal ainda foi capaz de soltar uma pista. "Será que o Nicolás mandou essa ajuda porque sabe que muitos venezuelanos estão aqui?", disse Suarez.
Com um currículo que inclui serviços prestados no setor petrolífero e funções que vão de camareira a auxiliar administrativa, Suarez sonha com um emprego. "Mas ficou difícil de arrumar algo nesta pandemia", diz.
Como seus compatriotas, ela também vai até o semáforo para pedir dinheiro. Cada centavo conquistado faz diferença. "Aqui eu ganho comida, banho e roupas. Esse dinheiro é para trazer os meus seis filhos que ficaram na Venezuela", afirma.
Ele afirmou que há venezuelanos morrendo sem oxigênio, usado agora por Maduro para buscar apoio político e se portar como um líder generoso, não como o ditador e violador de direitos humanos que é, em suas palavras.
Ao jornal Folha de S.Paulo, Borges disse que "a situação sanitária é verdadeiramente trágica. As pessoas fogem para o Brasil, Colômbia, Panamá, porque não há nada, os hospitais estão em caos. Sem eletricidade, sem água, remédios mínimos. Por isso as pessoas fogem para o Amazonas", afirmou.
De acordo com a universidade americana Johns Hopkins, que monitora o avanço da doença pelo mundo, 1.095 pessoas morreram na Venezuela vítimas da Covid-19, e houve 118.856 casos confirmados.