O jornalista brasileiro Fábio Aleixo, 33, recebeu nesta última quarta (13) a primeira das duas doses da Sputnik V, vacina criada pela Rússia e registrada para uso emergencial em agosto. Nem ele nem diplomatas consultados sabem dizer, mas provavelmente Aleixo é o primeiro brasileiro a ser inoculado com o polêmico imunizante.
Controverso porque o Instituto Gamaleya, criador da vacina, iniciou sua ampla fase 3, com mais de 40 mil voluntários, ao mesmo tempo em que procedia a imunização emergencial. Usualmente, o pedido ocorre com os resultados clínicos preliminares.
O Fundo Russo de Investimento Direto, que bancou o fármaco, aponta para a
russofobia no Ocidente as dúvidas levantadas sobre os dados até aqui. Os
resultados das fase 1 e 2 já foram publicados em periódicos científicos. A fase
3, segundo o Gamaleya, garantiu uma eficácia de 91,4%. Aleixo disse ter
estudado bastante a vacina, além de ter amigos que foram voluntários nos
testes.
"Desde que a vacina foi
anunciada e registrada aqui na Rússia, havia buscado o máximo possível de
informações sobre ela. Entender na teoria seus efeitos, a imunidade gerada e
efeitos colaterais", contou.
"Somou-se a isso o fato de dois amigos argentinos terem participado como
voluntários da fase 3 dos testes clínicos e gerado uma quantidade muito alta de
anticorpos ao fim do ciclo estabelecido de 42 dias. Anticorpos estes que não
estavam em seus organismos antes de receberem a Sputnik V."
A Sputnik V é uma vacina de duas doses que usa dois tipos diferentes de
adenovírus humano. "O primeiro que recebi é o vetor Ad26. O segundo, o
vetor Ad5. De acordo com o Instituto Gamaleya, criador do produto, isso aumenta
a eficácia da imunização."
O fundo negociou com Paraná e Bahia, mas acabou fazendo um acordo com a
farmacêutica União Química, de Goiás. Na sexta (15), pediu a autorização para
uso emergencial no Brasil. O plano inicial é trazer 10 milhões de doses e,
depois, iniciar a fabricação no país para uso doméstico e exportação.
Morador de Moscou desde fevereiro de 2018, Aleixo teve passagem pelo jornal
Folha de S.Paulo, cobriu a Copa do Mundo na Rússia e agora é produtor do canal
de TV estatal RT em Espanhol. No país, jornalistas são considerados grupo
prioritário, e a empresa ofereceu a vacinação emergencial a seus funcionários.
Aleixo foi enviado a uma clínica conveniada. Um dia antes da inoculação, fez
teste sorológico e de RT-PCR para identificar o vírus, que deram
negativos. "A única coisa que pediram foi para não beber álcool e ir
à bania [sauna russa] por três dias", disse.
No ano passado, algumas autoridades sugeriram até dois meses sem álcool para os
russos, que fazem em geral jus à fama de bons bebedores, o que gerou protestos
em redes sociais. O jornalista relatou febre de 38,3° C na primeira noite
e algum desconforto, que passaram.
"Como recomendado, tomei um comprimido de 500 miligramas de paracetamol.
Não foi muito fácil dormir e às vezes sentia desconforto e algumas dores leves
no corpo. Suei muito. Mas já pela manhã, ao medir de novo a temperatura, a
febre havia ido embora. Restaram apenas uma leve dor de cabeça e no braço, que
desapareceram ao longo dia, e uma pequena variação de temperatura."
"Dá para dizer que os sintomas foram como ou até inferior ao de uma
gripezinha. E até agora, bom, não virei nem jacaré, nem mesmo um urso
siberiano, como alguns brincaram que poderia acontecer", brincou. "Agora
é esperar a segunda dose, um pouquinho mais de reações e ter toda a imunidade
formada", afirmou. A previsão era que isso ocorresse em 21 dias.
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