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domingo, 9 de maio de 2021

Com ‘sete vidas’ na política, Renan ressurge, admite erros, relembra embates e vira tormenta de Bolsonaro

Renan Calheiros (MDB-AL) senta no sofá preto de seu amplo gabinete, ajeita a máscara e conta que já perdeu seis de suas sete vidas na política. “A relatoria da CPI da Covid é o que me sobrou, o que me resta”, diz o senador.

Quatro mandatos de presidente do Senado, crises com governos federais, escândalos, acusações de corrupção, e confusões com partidos e políticos marcaram até aqui as outras “vidas” de Renan, 65 anos e vacinado com a primeira dose da Astrazeneca.

No centro do poder nos últimos 35 anos, Renan justifica sua trajetória, fala das relações conturbadas com PT e PSDB, diz ser um personagem ‘franco’ no Congresso e admite erros: “Time que joga aqui nessa tabela [aponta para anotações da reportagem sobre seus comentários políticos] não tem como não perder e cometer erros”.

Ele aponta o maior deles: ter distribuído sua declaração de Imposto de Renda à imprensa na época do que considera a pior crise política que já viveu, em 2007. Naquele ano, foi acusado de receber dinheiro de um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão da filha que tivera com a jornalista Mônica Veloso.

“Foi um grande erro. Entreguei o IR e pedi ao Ministério Público para ser investigado, e fiquei oito anos sob investigação”, afirma. Desgastado, Renan renunciou à presidência do Senado.

O alagoano de Murici (AL) está como senador desde 1995. De lá para cá, a Casa se renovou, desafetos ficaram pelo caminho, e Renan se mantém como peça relevante no tabuleiro político – sofrendo reveses acachapantes, como em 2007 e 2019, ou como protagonista, no comando do Senado várias vezes e agora relator da CPI que atormenta o governo de Jair Bolsonaro.

Renan costuma ser problema e solução para os governos – a depender da circunstância. Foi de líder da tropa de choque a algoz do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. Sete anos depois, saiu do Ministério da Justiça, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), trocando acusações com o então governador de São Paulo, o tucano Mário Covas. “O Covas pediu minha exoneração”, relembra.

Renan acusa o PT de tentar derrubá-lo da presidência do Senado em 2007, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem é amigo. Votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016. Chegou a afirmar que Michel Temer, do seu partido, o MDB, “fazia de conta” que governava o país em 2017. E agora virou peça relevante no xadrez do governo Bolsonaro.

Não há dúvidas nos corredores do Senado de que o relatório final da CPI, a ser apresentado por Renan na conclusão da investigação, será uma peça política pesada, com uma enxurrada de sugestões de responsabilizações do governo e, muito provavelmente, do próprio presidente.

“É uma investigação fácil de fazer, tem muita coisa aí, só fazer uma linha do tempo”, afirma Renan.

“Quem decidiu incluir a cloroquina como política pública, com dinheiro público?”, questiona ele, em longa conversa com a Folha de S.Paulo em seu espaçoso gabinete, um dos mais cobiçados do Senado.

Sobre as ameaças do ministro da Justiça, Anderson Torres, de escalar a Polícia Federal para investigar governadores, Renan leva alguns segundos para formular uma frase em tom de recado ao Planalto: “O governo não vai transformar a CPI em sucursal do gabinete do ódio”.

A CPI da Covid é comparada no Congresso a outras duas: a CPI dos Correios, que investigou em 2005 e 2006 o esquema do mensalão no governo Lula, e a do caso Collor, em 1992. “Eu estava na presidência do Senado na CPI sobre o mensalão e depus por quase nove horas na do Collor. Nenhuma CPI teve tanto apoio popular como essa da pandemia”, diz Renan.

Para ele, os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich à CPI na semana que passou foram essenciais para reforçar a narrativa de negacionismo do presidente Bolsonaro e de sua atuação a favor de medicamentos sem eficácias e contra medidas de isolamento social.

Na avaliação do senador, um ministério da Saúde paralelo opera no governo, no que ele chama de “gabinete das sombras”.​

Com mandato até 2027, Renan transita por todos os lados da política e coleciona aliados com a mesma facilidade com que rompe com eles – e a mesma desenvoltura com que restabelece as relações. “Eu falo com todo mundo”, gaba-se.

E também leva tombos sem precedentes, submerge e, quando a política abre brecha, volta à cena.

Renan não é um habitué de CPIs no Senado. Sua experiência mais marcante foi na condição de testemunha, em 1992, na CPI da Câmara que levou ao impeachment de Collor.

Ele depôs por oito horas na época. Afirmou que Collor, hoje senador também por Alagoas, sabia do esquema de desvios de PC Farias, tesoureiro do ex-presidente. “Hoje, temos uma ótima relação pessoal, já me apoiou algumas vezes e eu o apoiei”, diz.

A saída do governo de FHC não foi seu único estranhamento com os tucanos. Em 2009, protagonizou histórico bate-boca com Tasso Jereissati (PSDB-CE) no plenário do Senado. “Não aponte esse dedo sujo para cima de mim”, disse o cearense na ocasião.

“O dedo sujo infelizmente é o de Vossa Excelência. O dedo dos jatinhos que o Senado pagou”, respondeu Renan, chamando o colega de “coronel de merda” fora dos microfones.

Doze anos depois, ele ri e minimiza o barraco. “Houve um excesso. Logo depois, procurei o Tasso e pedi desculpas”, diz. Hoje, ambos estão do mesmo lado na CPI da Covid. (Via: Folha de S.Paulo)

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