A Fiocruz ultrapassou o Butantan como maior fornecedora de vacinas contra a Covid-19 no Brasil com a entrega desta segunda (31). São 47,6 milhões de doses disponibilizadas pela fundação, ante 47,2 milhões já enviadas pelo instituto paulista.
Ambos os laboratórios chegaram a paralisar recentemente suas linhas de produção, mas elas foram retomadas na semana passada depois que remessas de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) vieram da China -esse material ainda passará por várias etapas antes de ser enviado ao Ministério da Saúde.
O Butantan não fornece doses da Coronavac ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) desde 14 de maio, quando transferiu 1 milhão de unidades. O governo João Doria (PSDB) atribuiu a interrupção ao atraso na liberação da matéria-prima, por um suposto entrave diplomático do governo federal.
Já a Fiocruz parou por cinco dias, afirmando que houve uma aceleração nos envases nas semanas anteriores e por isso o IFA foi consumido antes do previsto. Não teve, porém, que suspender as entregas, feitas sempre às sextas-feiras, já que possuía doses na etapa de controle de qualidade.
Com as 5,9 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca/Oxford disponibilizadas na última sexta (28) e mais 600 mil entregues nesta segunda, a fundação passa a marca do Butantan. Considerando o que já foi aplicado na população, porém, a Coronavac ainda é maioria: 63%, contra 35% da AstraZeneca e 2% da Pfizer.
A Fiocruz agora garante as remessas semanais até o dia 3 de julho. O instituto paulista, por sua vez, só deve entregar seus próximos lotes daqui a cerca de 15 dias, quando for concluído o processamento do insumo recém-chegado, suficiente para 5 milhões de unidades.
"A matéria-prima, enviada pela biofarmacêutica Sinovac, parceira do Butantan, passará pelos processos de envase, rotulagem, embalagem e por um rígido controle de qualidade para que a vacina seja entregue ao PNI", diz a instituição, cuja fabricação permitiu o início da imunização contra a Covid-19 no país, em janeiro.
O instituto afirma que já cumpriu o primeiro contrato firmado com o Ministério da Saúde, de 46 milhões de doses, e agora trabalha para totalizar os 100 milhões acordados. Em dezembro, pretende começar a produção com o insumo próprio em uma nova fábrica.
Já a Fiocruz tem como meta enviar 112 milhões de doses até o fim do terceiro trimestre, incluindo as importadas, antes de iniciar a fabricação própria, de mais 110 milhões de unidades, até o fim do ano.
A fundação vem dizendo nas últimas semanas que o atraso na chegada do IFA não teve impacto no seu cronograma, mas a previsão mais recente do Ministério da Saúde mostra uma redução da quantidade do imunizante esperada para junho –de 34,2 milhões para 20,9 milhões de doses.
O secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz, disse na quarta (26) em audiência na Câmara dos Deputados que o encolhimento ocorreu devido à falta do insumo. "Quando tivemos confirmação de que não seria possível a produção, reduzimos nosso cronograma", declarou ele, segundo quem o ministério busca antecipar lotes de IFA para reverter a queda.
A Fiocruz diz aguardar essa possibilidade para informar sobre as próximas entregas. "Com a capacidade de produção que a instituição já atingiu, caso a próxima remessa chegue ainda no início de junho, será possível aumentar as entregas do mês", informou em nota.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também atribuiu o problema à dificuldade de obter matérias-primas e vacinas a "nível mundial". "Não é falta de dinheiro, é dificuldade com os insumos", disse na ocasião. "A própria iniciativa privada viu que não é simples adquirir vacinas no exterior", afirmou.
Com esse e outros ajustes, a pasta reduziu a previsão total de vacinas para junho em 16%. De 52,2 milhões de doses, o quantitativo passou para 43,8 milhões. Até esta segunda (31), foram vacinados com a primeira dose 45 milhões de brasileiros, o equivalente a 28% da população adulta.
CRONOGRAMA PREVISTO PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE EM 25.MAI*