Com sintomas muito parecidos aos da sarna, o surto que se alastra na Região Metropolitana do Recife (RMR) pode ter sido motivado pelo uso indiscriminado de Ivermectina durante a pandemia. Pelo menos 264 moradores de seis cidades já apresentam lesões cutâneas, que ainda estão sendo investigadas pelas secretarias de saúde municipais.
Espalhados em Olinda, Jaboatão, São Lourenço, Camaragibe,
Paulista e Recife, os pacientes se queixam de uma forte coceira que se
intensifica à noite e evolui para feridas, mesmo com o uso de antialérgicos.
Antiparasitário, foi incluso no polêmico “kit covid”
defendido pelo Governo Federal, junto com outras substâncias sem nenhuma
evidência científica que indicasse seu uso contra a Covid.
Alguns profissionais continuaram prescrevendo a substância,
mesmo após o próprio fabricante reprovar essa indicação. Pessoas também tomaram
o remédio por conta própria, confiando na suposta eficácia propagada por alguns
planos de saúde e também por integrantes do “gabinete paralelo”, que teria sido
formado para aconselhar o presidente Jair Bolsonaro.
Pesquisa alertou para
possível surto em agosto
Um estudo publicado no dia 15 de agosto deste ano, por
pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), deu sinais de que o
uso indiscriminado do remédio pode ter desenvolvido a super-resistência do Sarcoptes
scabiei, ácaro responsável escabiose, também conhecida como sarna humana.
Além de questões de climáticas e socioeconômicas, os fatores
que podem ter contribuído para a evolução do parasita se relacionam ao aumento
da dosagem e uso repetitivo da Ivermectina em um curto intervalo. Por isso,
também não está descartado o aumento da resistência de outros parasitas, como
piolhos.
“Fatores como evidências de resistência do Sarcoptes scabiei
à ivermectina e intensificação de fatores relacionados à incidência de
escabiose como pobreza, baixa escolarização, confinamento familiar e aumento de
compartilhamento de artigos domésticos podem levar à manifestação de surtos de
escabiose. Este aumento pode ser especialmente danoso para pacientes
pediátricos de baixa renda, além dos riscos à saúde da população em geral”,
apontou o estudo liderado pelo professor Alfredo Dias, que já alertava sobre a
possibilidade do surto antes do primeiro registro em Pernambuco.
O estudo também citou que a partir de junho de 2020, as vendas
de ivermectina no Brasil aumentaram consideravelmente, passando de R$ 44
milhões em 2019 para R$ 409 milhões, uma alta de 829%. Há quem diga que foi
mais.
Pode
ser ainda mais grave
Comprovada ou não a relação entre o surto e o uso
indiscriminado de Ivermectina, o fato é que a doença causa preocupações ainda
maiores do que uma coceira ou danos à pele.
“A persistência e difusão da escabiose pode causar aumento de
mortalidade em crianças devido a infecções secundárias, e prejudicar seu
desenvolvimento pois leva a distúrbios do sono, reduzindo a sua capacidade de
concentração e produtividade, além dos riscos à saúde da população em geral”,
conclui o estudo conduzido na UFAL.
Sem
prazo para a confirmação
Ainda classificada como “lesão cutânea a esclarecer”, outra
linha de investigação aponta a possibilidade da doença ser causada por
mosquitos.
A Secretaria de Saúde do Recife, primeira a registrar o
surto, acompanha os casos desde o início de outubro e emitiu alerta
epidemiológico para controlar as ocorrências junto ao Centro de Informações
Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). A pasta não deu prazo para
confirmar a causa da doença.
A Secretaria Estadual de Pernambuco destacou que as
secretarias municipais ficam responsáveis pelas investigações.
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