Durante dois anos e 14 dias, o ajudante de obras Dorgival José da Silva Junior, de 24 anos, ficou preso acusado de matar o filho, um bebê de apenas oito meses. A criança morreu em outubro de 2019, na casa onde morava com os pais e o irmão gêmeo, no bairro Nova Vida 1, em Petrolina, Sertão de Pernambuco.
Na última quinta-feira (18),
depois de 12 horas de julgamento no fórum da cidade, a defesa de Dorgival
conseguiu provar a inocência dele. Um alívio para o coração da professora Maria
Luzinete Gomes.
No
dia seguinte ao veredito, a mãe, que sempre acreditou na inocência do filho,
estava na porta do presídio Doutor Edvaldo Gomes. 744 dias
depois, Dona Luzinete e Dorgival se abraçam, sem grades ao redor e o sentimento
de que a justiça tinha sido feita.
A retomada da liberdade começou
com o pagamento de uma promessa feita por eles. Mãe filho caminharam por
25 km, durante quase 7 horas, do presídio até a casa de Dona Luzinete, que fica
no N1, zona rural de Petrolina.
“As pessoas diziam: ‘você com
essa idade, vai a pé, 25 km?’. Eu dizia que isso era pouco. Ruim foi dois anos
de espera. Seis horas, sete horas a pé, 25 km, não é nada”, diz Maria Luzinete.
Para chegar até o final dos 25 km
de caminhada, é preciso voltar até a madrugada do dia 20 de outubro de 2019,
quando a história da família mudou. “Quando a gente acordou e fomos fazer o
leite dos meninos, percebemos que um dos nossos filhos não estava respirando.
Ligamos para o Samu, para saber o que tinha acontecido. O Samu chegou, viu a
criança e, infelizmente, não tinha mais o que ser feito”, recorda Dorgival.
Na noite da morte do pequeno
Douglas Ravi, na casa da família estavam Dorgival, a mãe da criança, o irmão
gêmeo de Douglas e a babá. Todos dormindo, após retornar de uma festa de
aniversário. Depois que o Samu constatou a morte do bebê, a polícia foi
chamada. “Foi feita a perícia e depois fomos encaminhados para a delegacia para
prestar depoimento”, diz o pai.
Não demorou
para que Dorgival fosse considerado suspeito do crime. De acordo com o advogado
de defesa, Marcílio Rubens, a perícia técnica, que esteve na casa da família,
detectou que Douglas sofreu uma asfixia direta, o que causou a morte.
“Os indícios
iniciais traziam a presença de sangue humano em uma camisa utilizada por
Dorgival, no dia anterior à morte do bebê. Essa camisa foi localizada pela
perícia e, constatado que o sangue seria do bebê, houve a suposição de que o
pai teria praticado o crime. Em razão disso, foi determinada a prisão dele”,
explica o advogado.
O
advogado Marcílio Rubens atuou na defesa de Dorgival — Foto: Emerson Rocha / g1
Petrolina
Dorgival foi preso
no dia 4 de novembro, 14 dias a pós a morte do filho. Uma situação pela qual ele nunca imaginou passar. “Nunca pensei
que além da dor de perder meu filho, ia ser preso por conta disso. Fiquei
realmente surpreso”.
Enquanto ele
passava os dias presos, do lado de fora a família lutava para provar a sua
inocência. Para o advogado, a ação dos familiares foi
crucial para o desfecho do caso.
“O que contribuiu
sobremaneira, decorrente do próprio esforço, sacrifício financeiro feito pela
família, que é uma família simples, mas que se desincumbiu de custear uma
perícia particular, de ir em busca de outras provas, sob pena de um sacrifício
feito por eles, mas que possibilitou uma contraprova em relação às provas
inicialmente produzidas e o questionamento acerca dessas provas, demonstrando
que havia falhas investigativas”.
Durante o julgamento,
o Ministério Público também pediu a absolvição de Dorgival, por entender que as
provas seriam insuficientes para sustentar o pedido de condenação. A defesa
alegou que a causa da morte não foi uma esganadura, assim como, que o pai não
poderia ser o autor de qualquer violência contra a criança. Por meio de perícia
particular paga pela família de Dorgival, ficou provado que Douglas Ravi
morreu após se asfixiar no próprio vômito.
Do sonho de ser pai
ao pesadelo na prisão
Ser pai sempre fez
parte dos planos de Dorgival. Quando descobriu que a esposa estava grávida de
gêmeos, ele conta que “foi a maior alegria do mundo”.
“Eu tinha o sonho
de ser pai, e descobrir que era gêmeos, foi uma bênção na vida da gente. Eu era
muito feliz, muito abençoado por Deus, por ter os meus filhos”.
A morte de Ravi e a
prisão mudaram a vida da família de ponta a cabeça. Além da liberdade e do
filho morto, Dorgival perdeu os primeiros anos do filho que está vivo, o
casamento e o emprego.
“Não conseguia
dormir. Além de ter perdido meu filho, fui encaminhado para aquele lugar. Não
desejo a ninguém. Perdi o emprego, esse tempo todo que passei lá, longe do meu
outro filho. Não tive a oportunidade de acompanhar o
crescimento de meu outro filho. O sonho de ser pai. Fui impedido de
acompanhar o crescimento do meu filho”, lamenta Dorgival.
Enquanto lutava para comprovar a inocência de Dorgival, a família teve que conviver com notícias falsas sobre a morte da criança. Para Emerson Gomes, mesmo preso, o irmão sempre quis descobrir a verdade sobre a morte da criança. (Clique aqui e leia a matéria na íntegra do G1 Petrolina)
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