Considerada uma das principais facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) se destaca pela organização dos seus membros, o que é seguido à risca pelos que fazem parte do grupo. Prova disso é a existência de uma cartilha, com diversas regras a serem cumpridas por todos, e que foi parcialmente divulgada pelo portal Uol nesta semana.
O documento foi obtido após a revista de um detento de uma penintenciária paulista que estava a caminho da enfermaria quando passou por uma inspeção dos agentes. De acordo com a publicação, a cartilha foi encaminhada para perícia, que constatou ter sido escrita pelo próprio preso, condenado a quatro anos e cinco meses na semana passada, por associação criminosa.
Em juízo, o presidiário confessou ter escrito a cartilha, mas negou ter relação com o PCC. O documento contém sete páginas e 45 regras, que vão desde proibição a "atos de talaricagem", quando qualquer faccionado em se envolver com a mulher de outro integrante, até veto por homossexualidade, descrevendo inclusive as possíveis punições como afastamento, exclusão ou pena de morte.
Acompanhe o Blog O Povo com a Notícia também nas redes sociais, através do Facebook e Instagram.
Chamam atenção também regras em torno de calúnia; "caguetagem" (delação); chantagem (quando uma pessoa descobre algo sobre a outra e usa isso para se beneficiar); e despreparo (quando o faccionado não consegue desenvolver os compromissos da organização).
Além dos "mandamentos", o linguajar também é destacado e segundo o colunista do Uol, Josmar Jozino, descreve diversos termos utilizados pelos membros da facção no dia a dia ou em conversas com outros faccionados. Inclusive, algumas gírias são utilizadas normalmente por pessoas que não têm nenhuma ligação com a facção.
- Antigos: Presos que cumpriram suas penas há muitos anos;
- Arrastar: Levar alguém a se prejudicar;
- Atracar: Chegar, aparecer;
- Atravessar correria: Atrapalhar atividades;
- Axé: Chance; atenuação de uma falta;
- Bandeira branca: Proibição de qualquer motim, levante, rebelião;
- Barraco: Cela;
- Batismo: Passagem de "primo" para "irmão";
- Berro e ferramenta: Armamentos;
- Blindar (a mente): Não se deixar "levar psicológico";
- Boi: Banheiro;
- Bonde: Transporte de presos de um lugar a outro; Em certas ocasiões, pode se referir também a movimentação de objetos;
- Burra: O mesmo que cama;
- Cabeça branca: Diretor da unidade prisional;
- Cabelo de punk: Maconha de baixa qualidade;
- Cabuloso: Aquele que não deixa ninguém subjugá-lo, "entrar em sua mente";
- Cadeia do Comando: O mesmo que "Cadeia do PCC";
- Cadeia do PCC: Prisão orientada por diretrizes e pela disciplina do PCC;
- Cadeia favorável: O mesmo que "Cadeia do PCC";
- Cagueta: Derivado de alcaguete, é um termo utilizado pelos prisioneiros para se referir aos delatores;
- Caiu: Diz-se geralmente quando algum objeto não autorizado foi surpreendido por funcionários ou policiais;
- Caminhada: (1) Histórico ("Qual a sua caminhada?"); (2) Série de procedimentos a serem cumpridos ("Me ensinou a caminhada");
- Cara de proceder: Aquele que demonstra agir de acordo com o "proceder";
- Chapão: Porta de ferro;
- Chefão: Termo pelo qual os presos se dirigem aos funcionários;
- Cobrança: Diferente de punição, diz respeito a uma das "consequências" possíveis dos atos de alguém, na qual se lembra do compromisso de agir de acordo com a "disciplina do Comando";
- Coisa: Inimigo, categoria utilizada para se referir tanto aos presos de outras facções quanto aos funcionários da segurança pública;
- Colega: Forma como as visitantes chamam as pessoas que também visitam parentes nas cadeias;
- Colônia: Centro de Progressão Penitenciária;
- Comando: O mesmo que PCC;
- Consequência: resultado, efeito de atos ou palavras;
- Convívio: Espaço destinado aos que mostram ter "proceder";
- Corre: Forma de ganhar dinheiro;
- Correr com: Ato de quem está "lado-a-lado";
- Corre contra: Fala-se de quem faz oposição ao PCC;
- Correria: Atividade;
- Crime: Conceito utilizado não só para fazer referência aos atores que praticam crimes, mas também a uma ética e uma conduta prescrita;
- Crime original: Valoração positiva do "Crime";
- Cunhada: Companheira do "irmão";
- Dar a palavra: Endossar conduta;
- Dar um pepino: Aparecer um problema;
- Dar um psicológico: Intimidar ou persuadir;
- Decisão: Chamar para briga, geralmente realizada no pátio e que pode resultar na morte de um dos envolvidos;
- Decisão na faca: Briga com o uso de facas;
- De igual: Expressão utilizada pelos presos para evocar o estatuto de "Igualdade";
- Deselegante: Conduta que não obedece à etiqueta prisional; Desenrolar: Esclarecer;
- De toca: Estado de quem não enxerga o que está diante dos olhos, algo que se considera ser óbvio;
- Dia de visita: Dia em que é permitida a entrada de visitantes na unidade prisional;
- Disciplina do Comando: Condutas recomendadas aos participantes do PCC;
- Em choque: Espantado, sem ação, com medo, assustado;
- Entrar na mente: O mesmo que "dar um psicológico";
- Exclusão: Perda do atributo de "irmão";
- Faculdade: Prisão;
- Família: (1) Moradores de uma cela; (2) O mesmo que PCC;
- Faxina: (1) Cela onde moram presos responsáveis por funções políticas e administrativas no interior de um pavilhão; (2) Nome dado aos moradores da cela "faxina";
- Fechar: Unir-se a; concordar;
- Fita: Ação, tarefa ou situação;
- Frente: Espécie de representante;
- Gaiola: Espaço cercado por grades;
- Gancho: Suspensão da condição de "irmão";
- Ganhar a cadeia pro PCC: Conquistar território prisional para o Comando; Fazer da prisão uma "Cadeia do PCC";
- Ganso: Informante da polícia;
- General: Posto hierárquico que existia no PCC antes da incorporação da "Igualdade" ao seu lema; Gozar cadeia: Demonstrar prazer por estar recluso;
- Humildade: Comportamento de quem considera os outros iguais; Ideais do PCC: Orientações de base do PCC;
- Igualdade: Ideal incorporado ao antigo lema do PCC (Paz, Justiça e Liberdade) e que supõe que um preso não é mais, melhor ou maior que o outro;
- Inclusão: Procedimento de entrada na unidade prisional;
- Instruído: Ensinado;
- Interditado: Pessoa a quem não se podem vender drogas e com quem não se podem consumi-las;
- Invadir a mente: Ação que visa convencer ou persuadir alguém; o mesmo que "dar um psicológico";
- Irmão: Membro "batizado" no PCC;
- Isqueirar: Incitar intrigas ou brigas;
- Jumbo: Conjunto de itens levados pelas visitantes aos prisioneiros;
- Junto e Misturado: Quando não é mais possível distinguir as unidades;
- Justiceiro: (1) Aquele que comete homicídios em troca de dinheiro; (2) Quem mata "ladrões";
- Lado-a-lado: Qualidade da relação entre duas ou mais pessoas, na qual existe uma cooperação desprovida de hierarquia;
- Ladrão: Quem se reconhece e/ou é reconhecido como fazendo parte do "Crime", independente de sua especialidade criminosa;
- Lagarto: Aquele que se deixa ser mandado por outro, faz o que o outro manda ou assume crimes cometidos por outras pessoas;
- Lançar: O mesmo que criar;
- Malandro: Alguém que sabe lidar com situações adversas;
- Malandrão: Preso típico da época que antecedeu a existência do PCC, caracterizada pela exploração financeira e sexual de outros presos;
- Malandrismo: Pressão psicológica ou física para subtrair algo de um terceiro;
- Melhor hora: Diz-se de um embate adiado para quando a "bandeira branca" cair, ou em rebeliões;
- Meter o louco: Arriscar;
- Mil graus: O número de graus indica a importância da atividade;
- Mona: Homossexual;
- Moscar: Vacilar, demonstrar falta de malícia, de atenção e de astúcia; Mula: Brincadeira;
- Mundão: O exterior das cadeias; o local da liberdade;
- Mular: O mesmo que brincar; O verbo "brincar", entre os presos, possui conotação sexual e não é utilizado para se referir a relações jocosas;
- Nóia: Viciado em drogas;
- Oposição: Prisioneiros ligados a outros comandos que não o PCC;
- Padrinho: "Irmão" que propôs o "batismo" de outro "irmão" e que carrega a responsabilidade por trazer este novo membro ao PCC;
- Pagar o boi: Fazer a limpeza do banheiro;
- Pagar raiva: Provocar a ira;
- Pagar simpatia: Querer agradar os outros;
- Pagar sujeira: Dificultar a vida, ser rígido com relação às normas institucionais;
- Partido: O mesmo do que PCC;
- Passar a caminhada: Informar;
- Pedir seguro: Recorrer à administração da prisão e solicitar que seja protegido dos demais presos;
- Pedra: O mesmo que "burra", cama;
- Pelo certo: Em concordância com o "proceder"; Perder o papel: Ser "excluído" do PCC, deixar de ser "irmão";
- Perreco: Discussão, intriga;
- Piloto: Posição política exercida por presos;
- Pipa: Bilhete;
- Pistas: Ruas, locais exteriores à prisão;
- PJLIU: Iniciais do lema Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e União para todos;
- Pote: Cela destinada ao cumprimento de castigo determinado pela administração da prisão;
- Pousar: Prestar atenção em conversas ou atos alheios; espiar;
- Praia: Centro da cela; Praiano: Quem dorme no chão;
- Primário: Quem está na cadeia pela primeira vez e ainda não cumpriu um ano de reclusão;
- Primo: Presos que residem no "convívio" de cadeias comandadas pelo PCC, mas que não são seus membros "batizados";
- Proceder: Comportamento esperado de um prisioneiro, por meio do qual ele é avaliado pelos outros presos;
- Progresso: Trabalho que faz parte de um plano de fuga, geralmente escavação de buracos;
- Puxar cadeia: Cumprir pena;
- Quebrada: Local de moradia atual ou passada, com a qual se estabeleceu uma relação afetiva;
- Quinze: PCC;
- Radial: Corredor que dá acesso aos pavilhões de uma cadeia;
- Raio: O mesmo que pavilhão;
- Ramelar: Errar ou agir em desacordo com o que é esperado;
- Rapa: O mesmo que limpeza;
- Repudiado: Fala-se do "irmão" que, em razão da gravidade de suas faltas, além de ter sido "excluído" do PCC, teve sua morte decretada;
- Representar o Comando: Firmar a adesão ao PCC;
- Residente: Quem está preso há mais de um ano, ou que já esteve preso anteriormente;
- Responsa: O mesmo que responsabilidade;
- Retirar a palavra: Voltar atrás;
- Ritmo: Particularidade;
- Rua: Local da liberdade; o exterior da prisão;
- Salve: (1) Forma de chamar alguém; (2) Comunicado; (3) Recado; (4) Saudação;
- Salve geral: Comunicado a ser amplamente divulgado; Seguro: Espaço destinado aos presos cujas vidas são ameaçadas por outros prisioneiros;
- Sem futuro: Pessoa sem "proceder"; Senhor: Polícia ou funcionário (e somente eles);
- Senhora: Familiar do preso;
- Setor: Concernente a atividades laborais no interior da prisão;
- Sintonia: Regime de relações que permite que uma iniciativa, ideia, ato ou enunciado de alguém acione uma cadeia imitativa que ressoe, não sem resistências e adaptações, entre os que estão "na mesma caminhada";
- Sintonizados: Aqueles que estão "em sintonia" uns com os outros;
- Sociedade: Categoria que faz referência aos que não são do "Crime", não estão "em sintonia", não participam do PCC;
- Sofrimento: Experiência vivida na prisão; Somar: O mesmo que "correr lado-a-lado";
- Subir: O mesmo que morrer; Subir a praia: Acordar pessoas que dormem no chão;
- Subir pra burra: Deixar de dormir no chão para passar a dormir na cama;
- Sujeito homem: Homem de "proceder", que age em conformidade com o "proceder";
- Talarico: Quem se envolve afetivamente ou sexualmente com esposa ou companheira de preso;
- Tatu: Buraco escavado com finalidade de fuga;
- Testar a febre: Provocar a ira;
- Tirar cadeia: Cumprir pena;
- Tirar cadeia como Mandela: Cumprir pena durante muitos anos;
- Tirar a camisa ou rasgar a peita: Pedir para ser desligado da organização se comprometendo a não prejudicar o grupo;
- Toca atolada: Pessoa que não enxerga e demonstra não querer enxergar o que está diante de seus olhos;
- Tomar a cadeia: Neutralizar os funcionários;
- Torre: Posição política existente no PCC, responsável pelos "salves" que orientam as ações dos presos;
- Tranca: Fechamento das celas;
- Transparência: Ausência de segredos;
- Vacilão: Pessoa que sempre repete os mesmos erros;
- Valetes: Duas pessoas que dormem na mesma cama, com as cabeças opostas;
- Verme: Polícia em geral;
- Visão: Conhecimento aliado à clareza de raciocínio, lucidez;
- Visita: Como os presos costumam chamar os visitantes;
- Viúva: Espaço cercado por grades; o mesmo que "gaiola";
- Voz: Posição política que existia em cada cela (voz do barraco), em cada pavilhão e em cada cadeia;
- Vulgo: Apelido;
- Xis: O mesmo que cela;
- Zé Povinho: Quem não participa do regime de relações do PCC, mas também não é "coisa";