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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Caravana da Seca: médicos apontam problemas do Agreste e Sertão de Pernambuco

cremepe
Em Ibimirim, no Sertão de Pernambuco, a Unidade Mista Marcos Ferreira D’Ávila não realiza partos cesárea, falta médico plantonista, e os profissionais que operam máquinas de raio-x são expostos a radiação sem equipamentos de segurança. Esses foram alguns dos pontos que mais chamaram a atenção dos profissionais que participaram da Caravana da Seca, entre os dias 16 e 20 de setembro.
O grupo formado por 20 profissionais do  (Cremepe) e do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) percorreu alguns municípios do estado para saber como está a situação nas unidades de saúde e escolas municipais ou estaduais da região. Eles estiveram nas cidades de João Alfredo, São Bento do Una, Caetés e Bom Conselho, no Agreste, e Arcoverde, Sertãnia, Ibimirim, Betânia e Serra Talhada, no Sertão.
O balanço contou com a presença do presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto d’Ávila, e também do vice-presidente do CFM, Carlos Vital. “Essa pesquisa pode não ter o rigor científico exigido, mas tem uma avaliação da percepção da população sobre os seus problemas, como a questão da seca. Isso é importantíssimo para podermos entender o que está acontecendo”, acredita d’Ávila.

A intenção do grupo foi visitar locais mais atingidos pela estiagem e avaliar a qualidade de água, unidades de saúde e escolas locais. Os 20 médicos se dividiram em três grupos – a primeira equipe avaliou as unidades de saúde do município. Outro grupo, formado por profissionais de nutrição, fez avaliações com crianças e aferiu a pressão de profissionais da educação. Uma terceira equipe fez a pesquisa de rua, conversando com a população sobre a percepção dos serviços. Também foram coletadas amostras de água para análise laboratorial, cujos resultados devem ficar prontos na próxima semana.
Uma das pesquisas feitas na rua questionava a população sobre o que havia de pior no local onde mora. Dos entrevistados, 32% responderam que era a pobreza, 29% a sede, 12% a tristeza, 8% a fome e 18% outras coisas. “Isso é um quadro muito preocupante. Essa é a pior seca que tivemos em muitos anos. A tristeza de ver o boi morrendo, a pobreza que faz as pessoas mudarem de local. Tudo isso é relacionado à situação de seca que essas pessoas estão vivendo. Quase metade delas só recebe água quinzenalmente ou uma vez por mês, quando recebem”, afirma o presidente do CFM.
De acordo com a presidente do Cremepe, Helena Carneiro Leão, o ponto inicial da viagem foi a água. “Essa caravana foi despertar principalmente para aqueles surtos de infecção intestinal, divulgados na mídia tantas vezes. Achamos que deveríamos ter uma ação específica em alguns municípios do Sertão que teriam sido afetados e tomamos essa decisão”, informou ela. Ela destacou que as unidades de saúde do interior precisam, além de estrutura física e de um maior número de médicos, de gestores que realmente resolvam os problemas da cidade. “Nosso SUS [Sistema Único de Saúde] precisa urgentemente de gestão efetiva e financiamento adequado. Sem carreira de estado para médicos, sem efetivação de médio e longo prazo, ficaremos sempre nesta mesma situação”, avaliou.
Das nove unidades de saúde visitadas, uma em cada cidade, oito teriam que ter um responsável técnico médico. “Isso é uma lei de 1932, que exige um responsável técnico médico. De oito unidades que são exigidas, três não tinham. É um absurdo. [...] Quanto às equipes médicas, vimos que seis das nove estavam completas, mas mesmo completas você tem que colocar um médico em 48 horas de escala. Por que precisa de um médico nessas escalas? Porque falta uma carreira de estado, falta qualidade. Por isso, não temos médicos nesses locais”, apontou o presidente do CFM.
A caravana constatou ainda escalas defasadas, com ausência de médicos em alguns dias da semana, além de muitos profissionais trabalhando sem carteira de trabalho. “Nós não aguentamos mais trabalhar com bolsa, com promessas de um salário, um recibo, sem garantias. No setor da saúde, quase todos os contratos são precários. Quem é que quer trabalhar sem férias, sem 13º, sem nenhuma garantia trabalhista? É por isso que a saúde está assim”, acredita d’Ávila.
No blog da Caravana do Sertão, os médicos registraram os pontos que mais chamaram atenção. O Hospital Monsenhor Alfredo Dâmaso, em Bom Conselho, no Agreste, atende cerca de 200 pacientes por dia, mas as salas de emergência não possuem equipamentos de reanimação, como observado pelo médico fiscal da caravana, Otávio Valença. Apenas um médico realiza plantão noturno durante quatro dias da semana.
A cidade de Betânia, no Sertão, foi uma das mais atingidas pela seca. Conforme pesquisa realizada com os moradores, muitos deles afirmaram que deixariam a cidade, se pudessem, por causa da constante falta de água e excessivo calor. Há dois anos não chove no município.
O balanço mostra também que 27% dos profissionais das escolas visitadas apresentam quadros de hipertensão. “Não sabemos se é por não beberem muita água, se é pela alimentação com muito sal ou ainda questão de estresse, mas esse é um dado preocupante. Está acima da média mundial, de 20%. É algo que precisa ser visto com mais atenção”, defende d’Ávila.
O resultado da visita e os relatórios da análise laboratorial da qualidade de água serão enviados às autoridades responsáveis como Secretarias Municipais de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde, Ministério da Saúde, Gabinete da Presidência, Ministério Público estadual e Federal e Tribunal de Contas do Estado (TCE). A reportagem é do G1.
Blog: O Povo com a Notícia