Às margens do Rio São Francisco, a cidade de Cabrobó, no Sertão pernambucano, desenvolve um processo de desertificação. Entre as causas estão o desmatamento e falta de cuidado com o solo na produção agrícola. Além disso, o acúmulo de sal já impossibilita o uso da terra para o plantio. “Com o decorrer do tempo, isso foi acontecendo e ninguém olhou com os olhos que deveriam ser vistos. A situação é que hoje temos esse problema que é sério em nossa região”, explicou o secretário de Agricultura de Cabrobó, Marizan Silva. Na área, o arroz era cultivado há cerca de 20 anos através de irrigação por inundação. As únicas plantas que resistem ao solo salino são as algarobeiras. A quantidade de sal é visível e chega a formar camadas brancas. A Ilha da Assunção também está sendo tomada pela desertificação. O local já foi bastante explorado na produção de arroz. No ano passado, índios Truká plantaram o cereal, mas não colheram nada. “Dos 5 mil hectares que a gente tem apto a produção agrícola, 3 mil estão totalmente comprometidos com a salinização”, afirma o líder indígena Neguinho Truká.
No Brasil, segundo o Ministério do Meio Ambiente, existem quatro núcleos de desertificação: os núcleos do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba, o núcleo de Cabrobó, além dos municípios pernambucanos de Belém do São Francisco, Carnaubeira da Penha, Floresta e Itacuruba. Segundo o pesquisador da Embrapa Semiárido e engenheiro florestal, Iêdo Bezerra, o problema foi descoberto há 26 anos. “Nós últimos 12 anos, se perdeu, aproximadamente, mais de 20 mil hectares do bioma Caatinga”, contabilizou. E o semiárido é mais vulnerável à desertificação pela característica do solo que, em geral, é seco por causa do clima. Mas, a ação do homem, na agricultura, pecuária e no desmatamento agrava a situação.
As famílias que antes sobreviviam da agricultura tiveram que deixar a Zona Rural de Cabrobó por causa da desertificação. Entre elas, muitos índios buscaram na cidade oportunidades de trabalho. “As famílias da gente tem padecido. Nossa juventude principalmente está buscando alternativas nos grandes centros por falta de opção no campo”, relatou Neguinho Truká. De acordo com o botânico José Alves, a desertificação também põe em risco a fauna e a flora. No local foram encontradas espécies raras de plantas do bioma caatinga, como a 'discocactus bahiensis' e a 'discocactus buenekeri', mas elas podem ser extintas. “Os altos índices de desmatamento, queimadas inadequadas, sem planejamento e em grandes quantidades têm um efeito dominó que promove e acentua o processo de desertificação”, expôs. (G1)
Blog: O Povo com a Notícia