Resultado do inquérito está sendo apresentado neste momento em
entrevista coletiva online, comandada pelo delegado Ramon Teixeira, responsável
pelas investigações. - JC Online
A Polícia Civil de Pernambuco indiciou por abandono de incapaz com
resultado de morte a moradora Sarí Corte Real, pela queda do garoto Miguel
Otávio Santana da Silva, 5 anos, ocorrida no dia 2 do mês passado.
O resultado do inquérito foi apresentado na tarde desta quarta-feira
(01.07), em entrevista coletiva online, comandada pelo delegado Ramon Teixeira,
responsável pelas investigações.
“A conduta de permitir o fechamento da porta, claramanete intencional,
conduziu a criança à área de insegurança, diante dos vários riscos existentes
no edifício. Com essa ação, diversas poderiam ser as formas de encontrar o
resultado morte indesejável, mas previsível”, afirmou o delegado.
Ele afastou a possibilidade do homicídio doloso e do dolo eventual.
Ramon Teixeira ressaltou que, apesar de ser um caso difícil, o inquérito buscou
agir mais de forma isenta do que verdadeiramente ocorreu. “A gente sempre zelou
pela transparência, porque a sociedade merece e precisa de respostas para o que
aconteceu. Desde o primeiro momento agimos com zelo, exclusivamente pautado
pela técnica”, disse.
Além do delegado, participou da coletiva o perito do Instituto de
Criminalística (IC) André Amaral, um dos responsáveis pelo laudo
pericial.
“Com sincronias de imagens, conseguimos visualizar a dinâmica de tudo o
que aconteceu. Do momento em que ele sai do elevador até o momento da queda.
Foi possível, diante dessa cronometragem, afirmar que não havia a possibilidade
da existência de outra pessoa no local, no momento da queda”, afirmou André Amaral.
Nesta quarta-feira (01) encerrava-se o prazo de 30 dias para conclusão do
inquérito.
Miguel caiu do 9º andar do Edifício Píer Maurício de Nassau, conhecido
como Torres Gêmeas e localizado no bairro de São José, Centro do Recife. Ele
foi deixado sozinho no elevador por Sarí Corte Real, que era patroa da mãe do
garoto, Mirtes Souza. Com quase três volumes e mais de 400 páginas, o inquérito
reuniu mais de 20 depoimentos, incluindo moradores e funcionários do prédio.
No dia seguinte à queda, o delegado Ramon Teixeira chegou a autuar em
flagrante a patroa da mãe do garoto, por homicídio culposo. O policial afirmou,
na época, que Sarí foi negligente por deixar Miguel usar um elevador sozinho,
mas não teve a intenção de matá-lo. A pena para esse crime é de até três anos
de detenção. Com a conclusão do inquérito, o caso segue para o Ministério
Público, a quem caberá fazer a denúncia. A promotoria poderá concordar ou não
com o indiciamento feito pela polícia.
Uma das peças mais importantes do inquérito é a perícia científica,
realizada pelos peritos do InstituTo de Criminalística. Na última sexta-feira,
o delegado recebeu o laudo pericial feito no edifício.
No documento, com mais de 80 páginas, os peritos constataram que Sarí
Corte Real apertou o botão da cobertura, antes de deixar a criança sozinha no
elevador. O laudo mostrou também que não houve participação direta de ninguém
na queda de Miguel, depois que o menino desce do elevador no 9º andar.
VERSÃO CONTESTADA
A conclusão da perícia desconstrói a declaração prestada por Sarí Corte
Real. Em depoimento à polícia, na última segunda-feira, ela negou ter apertado
o botão da cobertura. Na Delegacia de Santo Amaro, ao ficar frente a frente com
Mirtes Souza, a mãe de Miguel, Sarí também garantiu que não havia apertado a
tecla do equipamento.
Sarí Corte Real mora no 5º andar do Edifício Píer Maurício de Nassau,
conhecido como Torres Gêmeas e localizado no bairro de São José, Centro do
Recife. Ao descrever todos os passos dados por Miguel, depois que ele é deixado
sozinho no elevador, a perícia mostrou que o equipamento desce até o 2º andar.
A porta se abre, mas Miguel não sai. Depois, o elevador sobe direto para o 9º
andar, justamente onde o garoto desce.
Ao sair do equipamento, o menino passa por uma porta corta-fogo, que dá
acesso a um corredor. No local, ele escala uma janela de 1,20 m de altura e
chega a uma área onde ficam os condensadores de ar. É desse local que Miguel
cai, de uma altura de 35 metros.
Ao reconstituir toda a dinâmica que antecedeu a queda da criança, a
perícia concluiu que a morte foi “acidental, e não provocada”. O termo
“provocada” é para deixar claro que Miguel não se suicidou nem foi empurrado
por ninguém.
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