O Brasil comemora, neste domingo (18), o Dia do Médico, data em que também é celebrado o Dia de São Lucas, conhecido como o santo protetor dessa categoria que, ao longo de toda a pandemia, especialmente nos meses de pico da covid-19, colocaram-se em sacrifício da própria vida.
Ao lado de outros profissionais de saúde que têm trabalhado no combate à doença, os médicos seguem com o papel de soldados do cuidado para aniquilar um agente infeccioso invisível: o novo coronavírus. Uma frase repleta de princípios hipocráticos sempre salta à mente quando lembramos a categoria: “curar algumas vezes, aliviar quase sempre, consolar sempre”.
Diariamente muitos deixam suas casas e colocam o bem-estar do paciente em primeiro lugar, sem esquecer a valia de agir com sentimento humanitário e coração caridoso. Observei, ao longo desta pandemia, como eles incansavelmente abraçaram princípios bioéticos fundamentais: a beneficência (maximizar o benefício e minimizar o prejuízo da assistência) e a não maleficência (reduzir os efeitos adversos ou indesejáveis das ações diagnósticas e terapêuticas no ser humano). Equilibrar esses dois pontos, em meio a uma crise sanitária cheia de interrogações e medos, é um ato de respeito ao outro e ao coletivo. Somando a isso, está um papel do médico que também vimos bastante neste tempo do novo coronavírus: o de respeitar a autonomia do paciente, que tem o direito em receber todas as informações e participar mais ativamente do tratamento que lhe é proposto.
“Para a geração de médicos da atualidade, independentemente da idade, nada se compara com o que já aconteceu nesta pandemia. É mais do que uma vivência profissional. Como seres humanos, passamos por esta crise e crescemos. Quem não aprendeu a ter empatia com o próximo nesse momento, compreende mais nunca”, diz o chefe do setor de Doenças Infectocontagiosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), Demetrius Montenegro.
Neste ano, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) lança a campanha de valorização e agradecimento aos médicos pernambucanos que estiveram e continuam na linha de frente e nos cuidados aos pacientes durante a pandemia de covid-19. Uma mensagem de gratidão do presidente do Cremepe, o cardiologista Mario Fernando Lins, tem sido veiculada em rádios e jornais do Estado para homenagear a categoria, que tem abraçado a missão do cuidado para que a sociedade sofra em menor gravidade com as consequências da doença. “Nossa gratidão e respeito aos médicos que tombaram e aos que permanecem firmes atuando nos serviços de saúde, muitas vezes arriscando a própria vida e de seus familiares, na garantia do inestimável suporte à vida dos pacientes durante a pandemia. A todos, um especial dia dos médicos nestes duros tempos da covid-19”, salienta Mario.
Ainda no contexto de pandemia, o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, sublinha que milhares de médicos têm exercido com maestria a Saúde Pública, que tem a vigilância, a investigação e o controle de riscos e danos à saúde como uma tríade essencial. “Quando seguimos os passos da Saúde Pública, exercemos a medicina para milhões de pessoas ao mesmo tempo. Precisamos valorizar o papel dos médicos que têm atuado contra a covid-19, e muitos se expuseram (ao vírus) sem deixar de cumprir suas funções”, diz Jailson, pediatra e pesquisador, que enaltece o trabalho da categoria em defesa da ciência como norte para tomada de decisões, especialmente durante a atual crise sanitária. “Certamente o médico sairá mais valorizado deste processo todo, assim como o SUS (Sistema Único de Saúde)”, acrescenta Jailson.
Para marcar este Dia do Médico, o secretário de Saúde de Pernambuco, cardiologista André Longo, ressalta que é preciso reconhecer o empenho de todos aqueles que estão na linha de frente do combate à covid-19, seja atendendo a população nos hospitais estaduais ou em atividades administrativas essenciais, que precisaram ser mantidas durante todo este ano para garantir o pleno funcionamento de toda a rede de saúde. “São muitos os médicos com atitudes heroicas nesta pandemia. Vários trabalharam em carga horária superior à que têm, além de terem se desgastado e se arriscado, à revelia da família”, destaca Longo.
O depoimento do secretário nos remete a uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) iniciada no último mês. O levantamento busca compreender o impacto da pandemia de covid-19 no trabalho dos médicos brasileiros. Os que participam respondem questões que abordam aspectos como relacionamento com pacientes, volume de atendimentos, impactos econômicos gerados pela pandemia e uso da telemedicina, entre outros. Neste primeiro momento, serão abordados 25 mil médicos. Na seleção, foram levados em conta aspectos como local de residência, idade, sexo, posse de título de especialista ou não.
A pesquisa é coordenada pelo neurologista Hideraldo Cabeça, 1º secretário do CFM e conselheiro federal pelo Pará. “Queremos saber em que medida essa crise elevou o nível de estresse dos médicos no trabalho, se as horas de descanso foram comprometidas, se houve melhora na relação de confiança com os pacientes ou, até mesmo, se (a pandemia) exigiu deles a busca por capacitação e qualificação”, diz. Ao fim da pesquisa, o CFM encaminhará uma síntese dos resultados aos participantes e utilizará essas informações para definir estratégias para valorização da medicina e qualificação da assistência.
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