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sábado, 25 de janeiro de 2025

Meio milhão de brasileiros aderiram à foto da íris em troca de pagamento até projeto ser barrado pelo governo; Saiba mais

A World, iniciativa que registra a íris de humanos para que ela sirva como uma "impressão digital" mais avançada, diz que seu objetivo é diferenciar pessoas de robôs cada vez mais convincentes, mas para muitos moradores de São Paulo, uma das cidades onde o projeto está desenvolvendo suas ações, ter olho fotografado é uma forma de ganhar um dinheiro a mais. Isso porque estão sendo pagos cerca de R$ 600 em criptomoedas, desde esta sexta-feira (24).

Porém, segundo informações do portal g1, a partir deste sábado (25), o projeto não poderá mais remunerar quem participar dele. A determinação é da Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) divulgada um dia antes. O órgão é responsável por fiscalizar o cumprimento da Lei Geral da Proteção de Dados (LGPD).

A preocupação do órgão é que essa interferência pode acontecer "especialmente em casos nos quais potencial vulnerabilidade e hipossuficiência (expressão jurídica que se refere à falta de condições financeiras) tornem ainda maior o peso do pagamento oferecido".

Embora os registros da íris tenham disparado na capital paulista desde o fim do ano passado, muitas pessoas entrevistadas pelo portal g1 em pontos da periferia e também no Centro da cidade, não sabiam explicar do que se tratava o protocolo World e nem se havia riscos.

São Paulo ainda é a única cidade no Brasil que participa do projeto, mas a World tem planos de estendê-lo para outras regiões do país em breve, segundo informações do gerente de operações da Tools for Humanity, Rodrigo Tozzi, em entrevista ao g1 no último dia 17.

Importante saber que a Tools é a empresa responsável pela operação da World, uma iniciativa que tem, entre seus fundadores, Sam Altman, da Open AI, a criadora do ChatGPT. Após a decisão da ANPD, a World disse que "está em conformidade com todas as leis e regulamentos do Brasil".

O fato é que o boca a boca e as redes sociais fizeram as ações do projeto se espalhar pelo país, que tratam, em algumas postagens, como "venda de uma foto da íris", especialmente no TikTok. A contagem de participantes parou, 10 dias atrás, em "mais de 400 mil pessoas", e não é mais atualizada pela World. Eram 115 mil no começo de novembro passado, quando o projeto foi retomado em São Paulo depois de uma fase de testes, em 2023.

A expansão das divulgações gerou um crescimento meteórico e culminou na abertura de outros pontos para a execução do projeto. Antes eram 10 pontos de escaneamento; agora 51 espalhados na capital paulista, até sexta-feira (24). Estações de metrô e trem, além de terminais de ônibus, facilitaram a adesão ao projeto.

O crescimento do projeto chamou a atenção da ANPD, o que levou o órgão a pedir explicações sobre o procedimento. Informações do portal g1 dão conta de que na União Europeia, a autoridade de proteção de dados da Baviera, na Alemanha, determinou a exclusão de dados em todo o bloco, ainda que a World afirme que não fica com os registros das íris, já que segundo eles, o dado é codificado, fracionado e guardado por parceiros, incluindo universidades estrangeiras.

Especialistas em direito digital e tecnologia levantaram preocupações com a clareza das informações que são dadas para os participantes e se eles realmente estão cientes de como o projeto funciona. E sobre o que será feito com os dados no futuro, já que fazer o registro é relativamente simples.

Basta baixar o aplicativo World App, fazer um cadastro que não exige nenhuma informação pessoal e aceitar os termos e a política de privacidade; escolher local, data e horário para a verificação da íris; no ponto de verificação, assistir a um vídeo sobre inteligência artificial, privacidade e prova de humanidade; nesse local são tiradas três fotos (uma do rosto e uma de cada um dos olhos) com a Orb, câmera de alta definição que escaneia a íris; ainda no local, a pessoa precisa tirar uma selfie dentro do World App, com o celular dela conectado ao wi-fi do projeto; isso é para confirmar que é a dona do celular é a mesma que acabou de fazer as fotos na Orb.

O participante, até esta sexta-feira (24) também deveria informar se desejava receber criptomoedas Worldcoin (o projeto tem sua própria moeda virtual).

A preocupação de especialistas na área acham fundamento, quando, ao se tratar de entender o destino dos dados e suas implicações, acaba sendo um desafio. Isso por que, a partir do registro da íris com a Orb, o que acontece, segundo Tozzi, da Tools for Humanity. é que as fotos viram um código numérico que é criptografado ainda na Orb; esse código é enviado para o celular da pessoa: ela passa a ser dona dessa "impressão digital"; o mesmo código é quebrado em vários fragmentos e é armazenado em diferentes servidores de "terceiros confiáveis"; e finalmente ele é apagado da Orb.

“Terceiros confiáveis", que recebem esses dados em pedaços, leia-se, as universidades de Berkeley (Estados Unidos) e Erlangen-Nürnberg (Alemanha) e a empresa inglesa de blockchain Nethermind. Ou seja, o plano é ampliar cada vez mais essa rede de "impressões digitais", com os parceiros da World.

Embora no momento a iniciativa não tenha integração com aplicativos muito conhecidos, futuramente, se empresas, como bancos, e governos entenderem que é uma boa usar a íris como forma de diferenciar humanos e robôs, o projeto estará pronto para prestar o serviço, contando com um banco de dados bastante vasto.

Mas, para alguns especialistas na área, a explicação de que os dados dos usuários são fragmentados e armazenados em vários servidores não reduz as preocupações sobre o projeto.

A preocupação desses profissionais encontram respaldo quendo constatado que o "termos e condições" e a política de privacidade da World, que aparecem no aplicativo quando a pessoa vai se cadastrar, são documentos longos que tratam sobre tudo ligado à rede, incluindo a carteira digital, os apps integrados ao World App e os pontos de verificação.

A World, inclusive, não garante que os "serviços" serão exatos, completos, confiáveis ou atuais, e adianta que, na medida do permitido por lei, não será responsável por quaisquer danos "indiretos", "punitivos" e "incidentais" causados ao usuário. Além disso, o texto também isenta a empresa de responsabilidade por "erros, lapsos ou imprecisões no nosso Conteúdo" e até mesmo por "ações dos Operadores da Orb".

A World é administrada pela World Foundation, organização sem fins lucrativos que se define como gestora, e não dona, da iniciativa. O projeto, porém, foi criado pela Tools for Humanity, que, hoje, diz colaborar desenvolvendo o aplicativo World App.

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