O empresário Emilio Odebrecht
pode até tentar, mas não consegue disfarçar a arrogância de quem está
acostumado a mandar. Nas conversas com os procuradores federais, o patriarca da
família baiana deixa claro a reverência com que era tratado por políticos de
várias legendas no Brasil e no exterior. A informação é da colunista da Folha,
Raquel Landim.
É impressionante a extensão do poder que chegou a desfrutar, mas a verdade
é que hoje ele está mais acuado do que leva crer sua atitude nos vídeos
divulgados pela Justiça.
Além de ter seu filho e herdeiro, Marcelo Odebrecht, preso há quase dois
anos em Curitiba, o empresário vem assistindo seu império desmoronar.
A situação financeira da Odebrecht é muito delicada. O grupo depende da
venda de ativos e de intricadas renegociações com os bancos para não quebrar.
Alguns ramos de negócio já conseguiram mais prazo dos credores, mas ainda
há pesadas dívidas a solucionar na empresa de petróleo e nas concessões de
infraestrutura.
A crise é tão grave que até a construtora se tornou foco de preocupação do
mercado, apesar do perfil de longo prazo de seu endividamento.
Atravessando uma crise de reputação sem precedentes, a empresa não
conseguiu nenhuma obra nos últimos tempos e, sem novos projetos, a receita se
tornou insuficiente para pagar as despesas.
Para piorar a situação, o Grupo Odebrecht também vem sendo asfixiado pela
administração Temer, a ponto de representantes do conglomerado reclamarem de
"deslealdade governamental".
Eles se referem ao embate entre os diferentes órgãos públicos, colocando
em dúvida a amplitude do "perdão" obtido pela empresa ao fechar o
acordo de leniência com o Ministério Público Federal.
A discussão gera insegurança jurídica, o que dificulta a venda de ativos e
a busca de novos clientes. Em resumo: a empresa não consegue virar a página
apesar do acordo.
Além disso, o BNDES travou cerca de US$ 600 milhões em financiamentos para
obras da Odebrecht fora do país, alegando que precisa rever os contratos já que
existem suspeitas de corrupção.
Antes da Operação Lava Jato, obstáculos desse tipo seriam facilmente
removidos pela influência de Emilio Odebrecht. Hoje o clima em Brasília é de
vingança contra a empresa.
Um influente dirigente partidário disse à coluna que "não deveria
haver salvação para a Odebrecht, já que os políticos não vão se salvar" e
que "não é possível que Emilio Odebrecht continue rindo do Brasil".
Pessoas que acompanham a situação de perto dizem que o governo Temer e
seus aliados querem tornar a construtora um exemplo do que acontece com
empresas que ousam contar como corrompiam os políticos.
Blog: O Povo com a Notícia