O
governo decidiu colocar à venda um pedaço da Eletrobras. Demoroooooooou! Em junho de 2016, já lá se vai mais de
um ano, o ministro Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) já havia
classificado a situação da estatal elétrica como “insustentável”. Estava claro que a companhia teria de vender ações
para sair do buraco. O papelório será negociado na bacia das almas, num
instante em que a situação fiscal do Estado brasileiro é ruinosa.
Na prática, a privatização já chegou à
Eletrobras faz tempo. Negociada no balcão da baixa política, a estatal
dedica-se há anos à satisfação dos interesses patrimonialistas do condomínio
partidário que dá suporte legislativo ao Planalto. A empresa foi vítima do
mesmo complô que levou a Petrobras à breca. Na era petista, sua ruína é obra do
PMDB e do PT.
Hoje, a Eletrobras acumula uma dívida de R$ 50
bilhões. Na origem do problema estão três flagelos: a inépcia gerencial, o
fisiologismo político e a corrupção. Para complicar, Dilma Rousseff ajudou a
afundar a empresa ao impor em 2012 uma redução populista e artificial das
contas de luz. Mal comparando, o governo fizera a mesma coisa na Petrobras, ao
represar os reajustes dos combustíveis.
Graças à roubalheira, a Eletrobras foi captada
pelo radar da Lava Jato. Apenas na construção da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte detectaram-se propinas de R$ 150 milhões. A cifra veio à luz em delações
de executivos da Andrade Gutierrez. A dinheirama foi rachada entre PT e PMDB,
metade para cada legenda.
São investigados em inquéritos relacionados à
obras de Belo Monte figurões do PMDB: Romero Jucá (RR), Renan Calheiros
(AL), Valdir Raupp (RO), Jader Barbalho (PA) e Edison Lobão (MA). A colaboração
judicial do ex-senador petista Delcídio Amaral adicionou ao rol de encrencados
os ex-ministros Erenice Guerra e Silas Rondeau, do governo Lula, e Antônio
Palocci, dos governos Lula e Dilma.
Ironicamente, a Eletrobras é joia de uma área
em que Dilma se vangloriava de reinar. Xerife do setor energético desde o
primeiro mandato de Lula, madame jamais desapontou os políticos que tratam o
público como privado. Em 2004, quando era ministra de Minas e Energia, Dilma
fritou um respeitado presidente da Eletrobras, Luis Pinguelli Rosa, para
acomodar na poltrona Silas Rondeau, afilhado político de José Sarney.
Em 2005, alçada à Casa Civil nas pegadas da
queda do companheiro José Dirceu, Dilma endossou a indicação de Rondeau para
substituí-la no comando da pasta de Minas e Energia. Dois anos depois, o
afilhado de Sarney foi pilhado pela Polícia Federal na Operação Gautama.
Acusado de receber envelope com propina de R$ 100 mil, Rondeau deixou o cargo.
Substituiu-o, com o aval de Dilma, Edison Lobão, outro ministro da cota de
Sarney.
Em 2010, eleita sucessora de Lula, Dilma
manteve Lobão na Esplanada. Trocou-o mais tarde por outro senador do PMDB: Eduardo
Braga (AM). Hoje, sob Michel Temer, o ministro é do PSB. Mas a Eletrobras
continua sob a área de influência do PMDB do Senado. De modo que a privatização
formal da estatal tende a reduzir amoralidade na esfera pública. Com duas
vantagens: entrará algum dinheiro nos cofres do Tesouro. E os serviços tendem a
melhorar. (Via: Blog do Josias de Souza)
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