Uma das principais entidades
representativas dos caminhoneiros enviou reivindicações e alertou o presidente
Michel Temer sobre a iminência de uma greve de grandes proporções a sete dias
do início dos bloqueios em estradas.
Num ofício enviado ao presidente em 14 de maio, a Abcam (Associação
Brasileira dos Caminhoneiros) avisou que, caso a categoria não tivesse o apoio
do governo federal na redução de tributos e na mudança da política de reajustes
da Petrobras, "uma paralisação geral" seria "inevitável".
"Imagine o Brasil ficar sem transporte por uma semana ou mais? Seria
terrível para todos, mas parece que só dessa forma vocês vão voltar seus
olhares para as nossas necessidades e reivindicações", diz o documento,
assinado pelo presidente da entidade, José da Fonseca Lopes.
Ele não assinou o acordo proposto pelo governo na última quinta (24), dia
em que a crise do diesel atingiu seu ápice e o Planalto, finalmente, cedeu, em
parte, à categoria. "Isso não é uma ameaça, e sim um pensamento que aflora
a cada momento na cabeça de cada transportador autônomo", escreveu Lopes
na carta a Temer.
O ofício tem o protocolo da Presidência da República, mostrando que a
entrega foi feita naquele mesmo 14 de maio, às 10h03. Procurado
pela reportagem nesta sexta (25), o Planalto ainda não informou que
providências tomou a partir do recebimento.
Foi a segunda tentativa da associação de emplacar sua pauta. Em 5 de maio,
representantes da entidade se reuniram na Casa Civil com a
subchefe substituta da Subchefia de Articulação e Monitoramento, Viviane
Esse; o subchefe adjunto de Política Econômica da Subchefia de
Articulação e Monitoramento, Pedro Florêncio, e o subchefe adjunto de
Infraestrutura da Subchefia de Articulação e Monitoramento, Demerval
Junior. Deixaram o encontro insatisfeitos.
Na ocasião, Lopes afirmou ser inaceitável o argumento do governo de
que o aumento do diesel serve para manter o cumprimento da meta fiscal. "A
gente sugeriu que a tributação seja feita, por exemplo, na renda fixa, já que
esta não contribui para a recuperação da economia", declarou, segundo
comunicado divulgado pela Abcam.
A carta a Temer teve um tom duro, culpando não só as medidas econômicas,
mas a corrupção, pelas dificuldades dos caminhoneiros.
"Já não suportamos a falta de conduta ética do governo federal,
corrupção ativa e passiva, desleixos, prevaricações, improbidades
administrativas e muitos outros procedimentos vergonhosos que o governo vem
praticando sem se preocupar com as consequências", criticou Lopes.
Ele classificou a matriz econômica de Temer de "famigerada e
louca", e a culpou por jogar o Brasil num "buraco".
"Somos reféns de um governo que vive uma gastança sem fim,
desperdícios, endividamentos, ralos bilionários de corrupção e regulações
insanas, seu intervencionismo atrasado, sua aversão ao transporte brasileiro,
sua incompetência criminosa e sua fome insaciável por poder", protestou.
A associação requereu a redução da carga tributária sobre o diesel a zero
e a isenção da Cide. Também pediu a criação de um fundo de amparo ao
transportador autônomo e a criação de um sistema de subsídio para a compra do
diesel.
O desabafo de seis páginas termina com um pedido de apoio imediato do
governo, sob risco de uma revolta. "Mostraremos que nós, cidadãos, temos,
sim, direito de escolha." (Via: Folhapress)
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