O ataque aéreo norte-americano
que matou o comandante da
Guarda Revolucionária do Irã, o general Qasem Soleimani, no
aeroporto de Bagdá (Iraque), na noite de quinta-feira (2), abre um novo
capítulo nas tensões entre os governos de Washington e Teerã.
Embora o Irã tenha perdido uma figura de extrema importância, Gunther
Rudzit, professor de relações internacionais e coordenador do Núcleo de Estudos
e Negócios em Oriente Médio da ESPM, afirma que o país tende a se fortalecer
após o episódio.
"Pela importância política e militar que o Soleimani tinha, o Irã não
vai poder deixar barato, vai ter que retaliar. É uma grande perda, mas ele não
é insubstituível. Por outro lado, [o ataque] veio a calhar. O Irã passou por
semanas de protestos contra o aumento da gasolina, com 200 mortos, milhares de
presos. Essa mudança de foco, do interno para o externo, acaba sendo boa para o
regime aliviar as pressões internas."
A resposta do Irã, acrescenta o professor, deve ser "à altura".
"Eu não acho que [a retaliação] vá ser sutil. Pode até demorar um pouco,
mas o Irã terá que dar uma resposta dura", acrescenta.
Donald Trump é quem mais ganha
com a ação militar desta quinta-feira. Rudzit lembra que, em junho, o
presidente dos EUA havia dito que não atacaria o Irã após o regime de Terrã
derrubar um drone norte-americano no estreito de Ormuz. A alegação foi a de que
evitaria mortes.
O Irã também foi responsável pelo sequestro de navios petroleiros na
região, ataque a uma refinaria de petróleo na Arábia Saudita e, mais
recentemente, ataque a uma base americana no Iraque, que terminou com um
terceirizado morto, e a depredação da embaixada norte-americana em Bagdá. Todos
esses episódios aumentaram a tensão entre os dois países.
O fato de os Estados Unidos terem reagido apenas agora pode ser usado por
Trump para mostrar como ele foi estratégico a cauteloso ao matar a pessoa mais
importante do exército iraniano.
"Agora no Senado fica mais fácil para os Republicanos defenderem o
voto contrário ao impeachment dele [Trump]. E para a campanha, vai poder
mostrar que tem pulso firme. Mas os inimigos americanos agora vão testar a
vontade dele de lutar."
Para o professor doutor Tullo Vigevani, especialista em relações
internacionais e cientista político da Unesp (Universidade Estadual Paulista),
"as políticas norte-americanas estão sempre movidas por interesses
internos, inclusive eleitorais".
"Esse é um elemento de desestabilização e mostra que a confiança
nessas políticas pode ser ruim para quem as apoia", acrescenta.
Vigevani ressalta que o Iraque, cenário do ataque contra o oficial iraniano,
também perde, pois mostra que todas as intervenções estrangeiras em seu
território, que já duram quase duas décadas, não levaram a paz aos
iraquianos.
"Desde as intervenções de 2001 que levaram à guerra contra o terror,
o Iraque não ganhou qualquer tipo de estabilidade. A exportação da democracia,
que era o argumento norte-americano, não foi alcançada. Hoje, continua a
desordem e um grande sofrimento da população."
Aliada do Irã, a Rússia prestou condolências ao povo iraniano pela morte
do general Soleimani. O Ministério das Relações Exteriores do país classificou
o ataque como "um passo aventureiro, que conduzirá a um aumento de tensões
em toda a região".
De qualquer forma, a Rússia ganha momentaneamente com as tensões no
Oriente Médio, afirma o professor Gunther Rudzit.
"A Rússia gostou da ação, porque o preço do petróleo subiu e isso dá
um alívio, mesmo que momentâneo, para a economia russa, que depende muito do
petróleo."
A alta do petróleo, por outro lado, desagrada a China, que praticamente é
uma aliada do regime de Teerã.
"Os chineses não gostam porque o preço do petróleo tem impactos na
economia deles, que está desacelerada, e também na economia global",
afirma Rudzit.
A tendência é que países do Golfo aliados dos americanos, como a Arábia
Saudita, também mantenham uma postura mais cautelosa, segundo o especialista da
ESPM. "Não interessa a eles um conflito aberto."
O que não há dúvidas, completa Rudzit, é que "essa escala de tensões
vai continuar".
A principal questão é: qual será a dimensão da reação iraniana? Ele
ressalta que a retaliação pode ser a equipamentos ou bases militares dos
Estados Unidos no Oriente Médio ou na Ásia, e pode não ser imediata. (Via: R7)
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