Há quem pense que frio no Nordeste é uma
utopia. A região, famosa pelas praias e pelo calor quase o ano todo, guarda no
seu interior alguns oásis de, pasmem, frio. Em Pernambuco, é comum em algumas
cidades aproveitar para tomar chocolate quente com o objetivo de, realmente, se
aquecer.
Triunfo, com a maior altitude do Estado, 1.010 metros, é a
“cidade mais fria de Pernambuco”, com temperatura média de julho de
15,1°C. Garanhuns, no Agreste, não fica muito atrás. Com altitude de 842m,
marca a média de temperatura mínima em julho de 16°C. Por esses registros, os
municípios fazem do frio uma atração turística. Mas com a pandemia do novo coronavírus,
julho ficou diferente: o frio é igual ou maior, mas as cidades mudaram seus
cenários.
Triunfo
e Garanhuns não são as únicas cidades em que os moradores podem desfrutar de
agasalhos, toucas e luvas porque o clima esfriou. Atrás delas, estão Caruaru e
Arcoverde, por exemplo, com temperaturas médias mínimas de 17,3°C e 16,7°C.
Mas, sem dúvidas, a fama maior vai para as duas primeiras. Há quem diga já ter
visto nos termômetros, durante a madrugada, a temperatura de 8°C em Triunfo. O
relato vem do advogado Daniel Lima, de 43 anos. Ele conta que desde que a
estação chegou este ano, já teve dias em que a temperatura mínima prevista era
de 11°C. “A sensação é que esse ano está ainda mais frio que o do ano passado”,
comenta o morador da cidade. O frio é sentido diariamente, mas aperta pela
noite e pela madrugada, famosa pelas quedas de temperatura. “Isso acontece
porque, principalmente quando não há nebulosidade no céu, a tendência é o solo
perder toda a radiação absorvida durante o dia, o que faz cair a temperatura
nos termômetros”, explica a meteorologista da Agência Pernambucana de Águas e
Clima (APAC), Edvânia Santos. Oficialmente, a APAC não tem o registro da menor
temperatura em 2020 em Triunfo.
Em
muitos locais de Pernambuco, se espera que o inverno traga a chuva, como no
litoral e Zona da Mata. “Mas isso depende da região que a cidade se encontra.
No caso do Sertão, a estação costuma ser fria e seca”, explica Edvânia.
Contrariando o costume, Triunfo tem uma previsão pluviométrica bem alta para a
média da região no mês de julho por causa da sua altitude. Enquanto se espera
28 mm de chuva para o Sertão, a cidade mais alta do Estado prevê 117 mm para o
mês de julho. As chuvas já têm feito parte do cotidiano do advogado Daniel
desde maio, mas nesse início do mês ele afirma ter percebido uma estiada. No
entanto, a meteorologista Edvânia afirma que “as chuvas estão correndo dentro
da média em Pernambuco”, então o período chuvoso deve continuar ainda na cidade.
Venham
as chuvas do mês ou não, Triunfo tem sentido os efeitos da pandemia, já que faz
parte do Circuito do Frio e costuma promover eventos culturais em julho, como o
Triunfo Jazz, que teve sua segunda edição ano passado. Daniel é um frequentador
assíduo das atividades de inverno da cidade e sente pela mudança de um ano
atípico. Sair para tomar uma bebida quente ou ir conhecer a montanha do
Bico do Papagaio, ponto mais alto do Estado, são algumas das atividades comuns
no roteiro do frio que tiveram que ficar de fora da programação dele nessa época.
“É muito comum sair para fazer passeios turísticos, como ir na Cachoeira da
Pinga ou andar no teleférico que corta o grande açude da cidade. Triunfo fica
cheia de turistas. É a época que mais tem pessoas de outros lugares na cidade”,
relata o triunfense.
FIG, frio e chuvas
Essa
falta sentida por Daniel também acontece para muitos moradores de Garanhuns,
que vão vivenciar seu inverno de julho de uma forma bastante diferente.
Responsável pelo festival de inverno mais conhecido do Estado e um dos mais
importantes do país, que completaria 30 anos de existência em 2020, o FIG
também foi cancelado por causa da pandemia. Uma das moradoras que sente
bastante por essa situação é empresária Simone Rodrigo, de 33 anos, que
frequenta o festival assiduamente desde que se mudou para a cidade, há 10 anos.
No primeiro ano, marcou presença nos polos nos 10 dias de programação. “Sinto
falta de poder ir para o FIG com os amigos. E também sei o quanto o evento é
importante para economia porque o movimento de turistas é muito grande”,
comenta.
Quanto
ao frio, esse não mudou com a chegada do coronavírus. “A cidade é fria até
mesmo no verão. Agora no inverno tem variado durante os dias, mas a gente sabe
que quando vai sair sempre precisa levar um casaquinho junto, porque a noite
vai esfriar mais”, conta Simone. Respeitando o isolamento social e com as
cafeterias e restaurantes fechadas pela cidade, Simone tem passado maior parte
do frio agasalhada em casa.
As
temperaturas mais baixas da Suíça Pernambucana, como Garanhuns é
conhecida, também pode ser explicado: a altitude ajuda na queda de
temperatura. No entanto, diferente de Triunfo, Garanhuns se situa no Agreste,
que é marcado por um inverno chuvoso, com média pluviométrica para o mês de
julho de 133mm, enquanto a da região é de 108mm. As chuvas têm sua marca
registrada no FIG. Entretanto, na visão da moradora Simone, ano passado as
chuvas já tinham sido mais intensas nesse período.
Blog: O Povo com a Notícia