Mais de 50 funcionários de agências bancárias da Bahia foram infectados
pela Covid-19, diz o Sindicato dos Bancários da Bahia. Em conversa com o BNews,
o presidente licenciado Augusto Vasconcelos disse que somente na Caixa
Econômica foram "dezenas de casos de contaminação".
O sindicato entrou com uma representação no Ministério Público do
Trabalho (MPT) para cobrar a testagem de todos os funcionários, não somente dos
que apresentam algum sintoma ou com familiares que testaram positivo. A
denúncia também se estendeu aos demais bancos.
Vasconcelos reconhece a importância da Caixa Econômica no cenário da
pandemia no Brasil, já que o banco tem o "maior volume de
atendimento" devido ao auxílio-emergencial, e que as cenas de
"aglomerações" são também resultado do desmonte da instituição
financeira.
"Tudo que está acontecendo é resultado do desmonte da Caixa nos
últimos anos, perdemos 20 mil postos de trabalho, o que contribui para
aglomerar, porquê você diminui a força de trabalho nas agências e,
consequentemente, aumenta o tempo de espera do atendimento", justificou o
presidente do Sindicato.
Ainda segundo Vasconcelos, muitos funcionários da Caixa tem buscado o
sindicado para denunciar o temor de voltarem aos trabalhos. O banco estaria
sugerindo o fim do trabalho remoto, o que implicaria no retorno de milhares de
trabalhadores às agências no estado, que tem mais de 120 mil casos confirmados
da doença e 2,9 mil mortos.
Uma funcionária da agência Dois de Julho, localizada na Avenida
Paralela, em Salvador, confirmou em conversa com o BNews que a
Caixa determinou o retorno gradativo das atividades.
Em seu relato, ela diz que o trabalho remoto estava bem avaliado, mas a
direção decidiu pela retomada gradativa, primeiro dos supervisores. No dia 29
de junho, foi determinado o retorno de 30% dos trabalhadores das unidades.
Na última semana, segundo a funcionária, ficou sob responsabilidade das
vice-presidências pela continuidade ou não do home office. O setor que coordena
as agências manteve a proporção de 30% de trabalho presencial, mas a chefia que
coordena as "áreas meio" - que inclui gerentes, coordenadores,
supervisores, engenheiros, arquitetos e técnicos bancários - aumentou a
porcentagem para 50%.
No caso da Agência Dois de Julho, onde a maior parte dos funcionários
estava trabalhando remotamente, é que fica instalada em um prédio com grande
circulação de pessoas. De acordo com a funcionária, com o retorno às atividades
no local, seriam mais de 1 mil pessoas trabalhando diariamente, entre a equipe
da Caixa e outros trabalhadores. Para ela, a ação não tem justificativa e
apenas expõe ainda mais os funcionários à chance de se contaminar.
"A empresa está negligenciando com a possibilidade de retorno de
quase todos os funcionários. Não faz sentido porque são funções que podem
ser realizadas tranqliamente de casa e o banco quer nos expor a um riso de
contaminação maior. E também para a população, já que serão mais pessoas nas
ruas, no transporte, circulando na cidade, dimunido o isolamento social e a
proteção", declarou.
EXTREMO-SUL
Região que abriga algumas das cidades com maior taxa de contaminação por
Covid-19, o extremo-sul da Bahia vive uma crescente de funcionários de bancos e
terceirizados infectados.
Em conversa com o BNews, o presidente do Sindicato dos
Bancários do Extremo Sul da Bahia, Carlos Eduardo Coimbra, disse que as cidades
com maior ocorrência de casos são Teixeira de Freitas e Eunápolis, onde uma
unidade do Crediamigo, que presta serviços para o Banco do Nordeste, registrou
nove pessoas contaminadas em um local onde trabalhavam 10 funcionários.
De acordo com o líder do sindicato, existe uma dificuldade em
contabilizar e acompanhar o número real de casos, já que os bancos preferem
"esconder" os episódios de testagem positiva para o novo
coronavírus.
"Em geral os bancos tentam esconder os casos, manter o sigilo, aí
só temos conhecimento das informações por meio de denúncias", diz o
presidente do Sindicato, que confirmou que os bancários do extremo-sul também
têm sido pressionados para retornarem ao trabalho.
Carlos afirma que Caixa Econômica tem negligenciado o protocolo de
retomada do funcionamento das agências, com "desinfecção totalmente
irregular" na tentativa de "abrir as unidades às pressas".
Ele pontua que a decisão do Governo Federal de restringir à Caixa o
saque do auxílio-emergencial foi equivocada, já que a instiuição também é
responsável por outros benefícios como o FGTS, o que contribui para as cenas de
aglomeração.
O OUTRO LADO
Procurada pelo BNews, a Caixa Econômica Federal se limitou a
responder que providenciou os equipamentos de proteção individual que são
recomendados pelo Ministério da Saúde, para aqueles funcionários que
"estão em trabalho presencial". Em nota, garantiu que todos que
pertencem ao "grupo de risco" serão mantidos em regime de trabalho remoto.
A Caixa garantiu ainda que as agências são higienizadas antes de abrir e
"durante o funcionamento".
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