Na última sexta-feira (27), a médica Carolina Lucas, de 32 anos, usou suas redes sociais para publicar um desabafo após o fim de um plantão que durou 24 horas em uma emergência particular de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O que ela não imaginava era a proporção que a postagem ia tomar.
"Há pelo menos três semanas, a gente já vinha percebendo um aumento no número de pacientes com Covid-19 chegando à Unimed de São Gonçalo. Naquela sexta-feira, foi o cúmulo. Quando cheguei para trabalhar, já havia três pacientes esperando transferência para internação. Ao longo do dia, essa fila foi aumentando, com a chegada de 10, 20 pacientes buscando atendimento. Alguns muito graves. Éramos quatro médicos revezando, sem conseguir parar no almoço. Engolimos a comida para voltar ao trabalho. Eu só consegui fazer uma pausa às 3h, quando deitei um pouco para descansar e todos os pacientes foram transferidos. Foi quando escrevi o desabafo", disse a médica em entrevista ao O Globo.
Carolina é mãe de um menino de 4 anos e de uma bebê que nasceu em março, no início da pandemia. Voltou ao trabalho em agosto, mas foi infectada pelo novo coronavírus em outubro. "Em março, quando começaram as restrições, eu fiquei em casa assustada acompanhando as notícias e o trabalho dos colegas de longe. Sempre me questionei como estaria a situação quando voltasse. Eu tinha esperança de que as pessoas já estivessem mais conscientes do que estamos enfrentando, mas não foi o que aconteceu. Em agosto tudo parecia mais controlado, mas em meados de outubro, quando fiquei infectada, percebi que a situação foi piorando novamente", disse.
Ainda de acordo com O Globo, Carolina conta que a atuação em diferentes unidades de saúde a ajuda a ter um panorama da doença no estado, e reforça a constatação da piora no quadro da pandemia. "Vejo as dificuldades de quem pode arcar com um plano de saúde e os desafios ainda maiores de quem não pode. O cenário é ruim em todos os lados. É muito frustrante ver que as pessoas não estão se cuidando. Chego ao trabalho já agoniada, vendo pessoas nas ruas sem máscara, sem manter distanciamento algum", lamenta.
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