Articulações comandadas pela cúpula do PT e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para enquadrar lideranças regionais do partido e favorecer a pré-candidatura presidencial enfrentam resistência em ao menos dois Estados do Nordeste: Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Ontem, Lula se reuniu em sua residência em São Paulo com Marília Arraes (PT) para tentar contornar a insatisfação da deputada, que disse estar sendo usada como “massa de manobra” no arranjo estadual e ameaça deixar o partido. Outro que fala em se desfiliar é Jean Paul Prates (RN), líder do PT no Senado, que não consegue apoio da legenda para uma candidatura à reeleição.
De acordo com o Estadão, o
Nordeste é a única região em que o PT derrotou Jair Bolsonaro na eleição de
2018 e onde a sigla espera alcançar uma vantagem significativa sobre os
adversários na disputa presidencial deste ano. Sétimo maior colégio eleitoral
do País, com 6,6 milhões de eleitores, Pernambuco é considerado Estado-chave
para a candidatura petista por ter como partido hegemônico o aliado PSB.
‘Massa de manobra’
Antes de se reunir com Lula,
Marília Arraes criticou abertamente o PT por tê-la indicado para concorrer ao
Senado em uma reunião em que estava ausente. “Não fui consultada e não
autorizei que envolvessem o meu nome em qualquer negociação”, afirmou em nota
divulgada na noite de anteontem. A deputada, que quer se candidatar ao governo,
também lembrou de desgastes do passado.
“Em 2018, o acordo de cúpula
PT/PSB impediu a minha candidatura ao governo do Estado, quando liderávamos
todas as pesquisas de opinião. Em 2020, nas eleições para a prefeitura do
Recife, a cúpula do PT fez de tudo para inviabilizar politicamente a minha
campanha, o que ajudou a dar a vitória ao adversário. E agora, indelicadamente,
usam o meu nome, como massa de manobra.”
Apoio
Inicialmente, Lula tinha como
plano lançar em Pernambuco o senador Humberto Costa (PT) ao governo. Acabou
recuando para apoiar o PSB, que apresentou o deputado Danilo Cabral (PSB) como
pré-candidato. Ao PT, caberia, então, uma indicação ao Senado. Além de Marília,
o partido cogitou os nomes do deputado federal Carlos Veras, da deputada
estadual Tereza Leitão e do ex-prefeito Odacy Amorim.
Na última semana, a presidente do
PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), ligou para Marília para tentar convencê-la a
ficar na sigla e disputar o Senado. A deputada, no entanto, disse que já estava
organizando sua saída – ela cogita ir para o Solidariedade.
Internamente, a deputada vivia
desgastes com a bancada da legenda na Câmara. À revelia do partido, disputou e
ganhou a vaga da segunda-secretaria da Casa. Petistas queriam lançar o deputado
João Daniel ao cargo.
Após o encontro com Lula, Marília
Arraes divulgou uma nova nota em que diz que ambos conversaram sobre “a
situação eleitoral em Pernambuco e as alternativas que se colocam no Estado”.
PSD
No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra
(PT) convidou o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT) para disputar o
Senado. O aceno desagradou ao senador Jean Prates, que era suplente da
governadora e assumiu o Senado quando Fátima trocou o Congresso pelo governo
potiguar. Sem conseguir se viabilizar no PT, Prates quer renovar seu mandato
fora do partido, mas com o apoio de Lula. O senador poderá se filiar ao PSD,
mas Lula ainda tenta evitar a sua saída.
Na disputa envolvendo o
ex-ministro e ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro em 2018, o
petista venceu no Nordeste com larga vantagem – obteve 69% dos votos válidos.
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