Ao repetir a estratégia de 2018, o PSB aposta na nacionalização da eleição em Pernambuco para manter a hegemonia à frente do governo estadual.
A tática para o pleito de 2022 é atrelar a imagem do
pré-candidato a governador, Danilo Cabral, à do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT).
Com boa avaliação em Pernambuco, Lula é tido como principal
cabo eleitoral do estado pelo PSB.
A pista do que deverá acontecer até a campanha eleitoral foi
percebida na tônica dos discursos de lançamento do deputado federal Danilo
Cabral para o Governo de Pernambuco, na segunda-feira (21).
Ele foi escolhido pelo partido duas semanas após o PT retirar
a pré-candidatura do senador Humberto Costa para o governo, em gesto ao PSB
dentro da aliança nacional que os dois partidos negociam.
Na eleição estadual anterior, os petistas haviam rifado a
deputada federal Marília Arraes (PT) para apoiar a reeleição do governador
Paulo Câmara (PSB), em sinalização parecida. A diferença é que o processo
anterior foi desgastante, diferente de 2022.
A linha de atuação de campanha do PSB deverá repetir 2018,
avaliam dirigentes da legenda. Naquele ano, o partido apelidou os adversários
de “Turma do Temer”, em alusão ao então presidente, que tinha altos índices de
impopularidade.
Há quatro anos, o governador do estado, Paulo Câmara,
disputava a reeleição, enquanto o adversário era Armando Monteiro (PTB), que,
mesmo tendo votado contra o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, foi a favor
da reforma trabalhista proposta por Temer em 2017.
Além disso, os candidatos ao Senado apoiados por Armando eram
os ex-deputados Mendonça Filho (União Brasil) e Bruno Araújo (PSDB), ambos
ex-ministros do governo Temer.
No ato de lançamento de Danilo Cabral, o PSB explorou a
relação intensa entre Lula e o ex-governador Eduardo Campos de 2007 a 2010,
quando eles estavam no poder na Presidência e em Pernambuco, respectivamente.
“O povo brasileiro tem sim saudade de Luiz Inácio Lula da
Silva. E nós queremos Lula de volta. Por tudo o que Lula representou para o
Brasil. Pelo conjunto de ações e de políticas que ele implantou e que trouxe de
volta para o Brasil o orgulho de ser brasileiro”, diz Danilo.
Em 2021, após o STF (Supremo Tribunal Federal) anular as
condenações do ex-presidente na Lava Jato, devolvendo os direitos políticos a
Lula, Danilo Cabral foi um dos primeiros a defender nos bastidores o apoio do
PSB ao petista.
Nos bastidores, a cúpula peessebista em Pernambuco não
pretende apenas associar Danilo a Lula pelas ligações dos partidos, mas também
associando os opositores ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem a sua maior
rejeição no Nordeste.
O PSB alega que, uns mais, outros menos, mas os seus
adversários na disputa pelo governo teriam vínculos com Bolsonaro.
O prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil), é
filho do ex-líder do governo, o senador Fernando Bezerra (MDB). O prefeito de
Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), é do mesmo partido que o presidente.
A prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), não é tida como
bolsonarista pelo PSB. Mas, como ela poderá se aliar a Anderson na eleição,
poderá ser alvo dos ataques.
Além disso, o PSB pretende responsabilizar aliados de
Bolsonaro no estado por problemas incômodos à população.
Para ter Lula como seu principal cabo eleitoral, o PSB terá
de superar acusações de contradição feitas pelos adversários. É o caso do voto
de Danilo Cabral e do apoio do PSB ao impeachment de Dilma Rousseff.
“Essa questão já foi superada. O presidente do partido
[Carlos Siqueira] já se manifestou sobre isso, o partido reconheceu que houve
um erro histórico na votação do processo [de impeachment], por tudo que a gente
está vivenciando no Brasil. Agora a hora é de olhar para frente, tirando
Bolsonaro e elegendo Lula presidente. Esse é o foco que temos que ter nesse
momento”, diz Danilo Cabral.
Outra contradição é a campanha eleitoral do PSB contra o PT
na eleição de 2020 no Recife.
Na ocasião, as duas siglas foram ao segundo turno do pleito
municipal, quando o então candidato João Campos usou o antipetismo como
estratégia contra a petista Marília Arraes na capital, já que a força maior de
Lula é no estado como um todo, sobretudo no interior.
Para líderes do PT, o constrangimento não é dos petistas ao
se aliar a João Campos, mas do próprio prefeito. Avaliam que foi ele quem subiu
o tom em 2020 e não o PT.
O prefeito do Recife, inclusive, surpreendeu ao defender
enfaticamente que o PSB seja o primeiro grande partido a oficializar o apoio a
Lula. A postura é diferente de dois anos atrás, quando fez críticas ao PSB. Ele
diz que a prioridade deve ser a aliança nacional e critica o avanço da pobreza
no governo Bolsonaro.
“Depois da eleição, os palanques têm que ser desmontados. O
Brasil está vendo como é grave deixar palanque armado por quatro anos, como o
presidente Bolsonaro, que acha que todo dia é dia de eleição”, disse.
“O mais importante agora é como temos que enfrentar que mais
de 20 milhões de brasileiros estão na pobreza e é preciso unidade política para
superar isso, não apenas pensando em interesses individuais ou partidários”,
afirmou o prefeito do Recife.
No ato de lançamento de Danilo Cabral, João Campos aplaudiu
uma fala da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Em 2020, a dirigente
foi um dos principais alvos da campanha dele à prefeitura.
Campos também deve ser outro cabo eleitoral de Danilo Cabral.
Preliminarmente, a ideia é que o prefeito vá a municípios do interior aos
finais de semana, fora do expediente, para ajudar o pré-candidato a governador.
João Campos é bem conhecido em razão da votação recorde em
2018 quando foi candidato a deputado federal, além de ser filho de Eduardo
Campos.
O tom lulista no lançamento de Danilo Cabral incomodou
aliados de centro. Eles defendem que o PSB faça gestos na direção deles, na
mesma linha que Lula adota nacionalmente ao indicar que o ex-governador de São
Paulo Geraldo Alckmin deverá ser seu vice na eleição.
Esses integrantes mais ao centro e à centro-direita pleiteiam
que a vaga de senador na chapa de Danilo Cabral fique com uma das siglas, como
PSD, Republicanos ou PP. Todavia, como o PT requisitou a vaga, a disputa do
centro poderá ficar pela vaga de vice. (Via: Folhapress)
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