A Polícia Civil de Nepomuceno (MG) está investigando três mulheres responsáveis por uma página de fofocas nas redes sociais, ativa desde 2020. O caso ganhou notoriedade após uma jovem de 20 anos, Natália do Mirante, tirar a própria vida na semana passada. Duas das administradoras já prestaram depoimento.
Desde sua criação, há quatro anos, a página “Gossipnep” expunha moradores de Nepomuceno, cidade com 22 mil habitantes. Enquanto muitos viam o perfil como um espaço de entretenimento, para aqueles que eram alvo das postagens, como Natália, o impacto era devastador.
Juliana Adonmiram, irmã de Natália, desabafou sobre o sofrimento da jovem: “Eu achava que minha irmã era forte, mas no fim não era. E ela ficava desesperada, ficava, inconsolável, achava que ninguém gostava dela, que o cabelo dela era feio e muita gente sabia que o cabelo dela estava deixando ela triste. Eles foram lá mexer no ponto fraco dela”.
O advogado Higor Paz explicou que postagens difamatórias, mesmo virtuais, configuram crime de difamação, previsto no artigo 138 do Código Penal, com penas de três meses a um ano, além de multa.
A investigação, iniciada em janeiro, identificou três administradoras da página após denúncias. Duas delas foram ouvidas e liberadas após o cumprimento de mandados de busca e apreensão. As investigadas alegaram que criaram a página por tédio e para se divertir, mas admitiram que o conteúdo postado saiu de controle.
A Polícia Civil ainda ouvirá a terceira administradora, que não reside em Nepomuceno. Marcelo Luiz Adomiram de Souza, advogado da família de Natália, pretende acionar a Justiça com o apoio de outras vítimas, buscando penas mais severas.
Uma das investigadas negou envolvimento nas postagens sobre Natália, enquanto outra admitiu publicações antigas, mas não recordava a origem das mensagens. A Polícia Civil continua apurando a origem das mensagens.
“Segundo elas, elas estavam com tédio e resolveram criar uma página para se divertir. Uma delas chegou até a usar o termo falar que era um correio elegante da internet. Então elas falaram que o pessoal começou a mandar fofoca e elas resolveram postar. O negócio foi saindo do controle e elas começaram a postar isso. Então chegou um ponto que elas não tinham mais filtro e tudo que chegava ali era postado. Às vezes elas recebiam algumas ameaças, chegavam a desativar a página, mas passavam o tempo, o pessoal querendo fofoca, pedia, elas retornavam a página novamente”, informou Bruno Bastos, delegado de Nepomuceno.
Raiane Mendonça, outra vítima da página, criticou a demora na ação: “Precisou de uma morte para agirem. São cinco anos de página e cinco meses de investigação. Espero que a Justiça funcione e todas as envolvidas paguem.”
Juliana, irmã de Natália, finalizou com um apelo: “Elas têm que pagar pelo que fizeram, serviços comunitários não vão trazer minha irmã de volta.”
Os celulares apreendidos passarão por perícia, e a investigação continua para identificar todos os envolvidos.
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