Socialite.activate (elemento, 'Widget');

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Governo visa melhorar popularidade liberando R$ 12 bilhões do FGTS de quem fez saque aniversário

Foi assim: quando, em 2020, o governo Jair Bolsonaro decidiu autorizar o saque aniversário - que na prática é uma antecipação de recursos que seriam aplicados na habitação - foi colocada uma cláusula que, em tese, seria uma compensação à liberação dos recursos com a retenção dos valores das demissões.

A regra foi posta claramente advertindo que quem optasse pelo saque aniversário, precisaria esperar dois anos para receber o saldo existente entre os seus depósitos e o total do empréstimo se fosse demitido. O que, na prática, faria com que o banco onde fizesse a antecipação usasse saldo como garantia do valor do empréstimo.

Embora o governo Lula tenha dito que atende a uma pressão dos trabalhadores, a verdade é que não há, ao menos no noticiário, qualquer informação da insatisfação dos trabalhadores, e muito menos a queixa de que muitos não foram avisados das restrições de saque.

Até porque os bancos estão oferecendo o crédito no limite dos depósitos de modo que, ao anunciar o saque dos saldos, o governo chegou ao número de R$ 12 bilhões , quando até dezembro de 2024, os saques decorrentes dos empréstimos somaram R$ 142 bilhões.

Ou seja: o governo está liberando uma parcela que é menos que 12% do que já foi entregue aos trabalhadores, e que não pode ser sacada na hora da rescisão do seu contrato de trabalho.

O que também revela que o número de pessoas que vão sacar o saldo deve ser uma parte dos 36,8 milhões de empregados que fizeram a antecipação.

O problema é que, para o saldo do FGTS, agora existem dois problemas. O saque aniversário permite a antecipação do valor retido. E agora, a liberação das demissões que, como estima o governo, será próxima aos R$ 12 bilhões a menos no saldo do fundo.

Sem acabar com o saque aniversário

O correto seria o governo acabar com o saque aniversário e voltar as pessoas a resgatar a demissão, como sempre foi. Mas o governo Lula decidiu aproveitar a oportunidade de fazer política, surpreendendo até mesmo as centrais sindicais, que não incluíram o saque na lista de reivindicações de 2024 e de 2025.

ENTRE NO CANAL DO WHATSAPP

Elas foram surpreendidas com o convite para a solenidade em Brasília, embora aprovem a medida: especialmente a CUT, cujo foco de atuação hoje é essencialmente os servidores públicos, que não têm FGTS e se financiam com crédito consignado.

No fundo, a medida do governo é mais uma forma de ataque ao FGTS que, a cada ano, vem perdendo capacidade de financiar mais habitações pela série de modalidades de saque que ocorreram especialmente no governo Bolsonaro.

Em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a cogitar liderar todos os depósitos para que os trabalhadores administrassem os recursos isoladamente.

Ele não levou em conta que uma medida desse porte acabaria com o fundo, e deixariam de garantir a retirada dos recursos na hora da demissão.

Foi necessária uma articulação das entidades do setor da construção civil para barrar a proposta, numa negociação liderada pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco.

Mas ainda assim, Guedes propôs o saque aniversário com o discurso de que ajudaria a melhorar a economia, sem perceber que os bancos rapidamente usariam a antecipação como um recebível onde o trabalhador pode sacar o equivalente a 10 anos recebendo o valor do que tem no FGTS com o desconto dos juros da operação de crédito pessoal.

O problema é que o governo Lula também decidiu fazer política anunciando a liberação dos saldos com o argumento de que o dinheiro é do trabalhador.

É uma interpretação equivocada, pois os R$ 12 bilhões não devem ajudar muito a economia, embora façam falta no saldo do FGTS para financiar a casa própria.

CBIC protestou lembrando o que aconteceu em 2019 e 2020

Ontem, ao ser informada da liberação do saldo do FGTS, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) protestou lembrando que em 2019 e 2020 este mesmo procedimento foi utilizado e não há qualquer avaliação de resultados sobre o impacto real na economia brasileira.

Para a realização do saque emergencial 2020, foi necessário injetar no FGTS o saldo das contas do PIS-PASEP, que lá permanecem com a possibilidade de retorno ao governo somente em 2025.

Na semana passada, ao analisar o impacto do saque aniversário, o presidente da CBIC, Renato Correia, revelou que na operação de saque aniversário, quem perde é o trabalhador.

Dados oficiais mostram que, entre 2020 e 2024, mais de R$ 70 bilhões não puderam ser sacados por trabalhadores dispensados sem justa causa que aderiram à antecipação do saque aniversário.

Segundo ela, mais da metade dos R$ 142 bilhões foram para o sistema financeiro. Ao menos R$ 76,8 bilhões foram pagos aos bancos como juros na operação de antecipação.

“Um trabalhador que decida, por exemplo, antecipar e sacar R$ 10 mil do seu saldo, o equivalente a cinco anos, vai pagar uma taxa média de 1,79%. Isso significa que ele vai receber R$ 5,3 mil e entregar ao banco cerca de R$ 4,6 mil em taxa de juros”, diz Renato Correia.

Acompanhe o Blog O Povo com a Notícia também nas redes sociais, através do Facebook e Instagram.