Ele tem 88 anos, a
mesma idade da fundação da cidade, é o líder político da família mais antiga do
município e no início do mês tornou-se o prefeito mais velho do Brasil.
Eleito pela terceira vez, o
professor Josibias Cavalcanti (PSD) teve 7.556 votos e fez valer a força da sua
família no destino da pequena Catende.
Com cerca de 40 mil habitantes, a
cidade da zona da mata pernambucana atravessa sua maior crise. Em junho, o
então prefeito Otacílio Alves Cordeiro (PSB) foi preso acusado de ser líder de
uma organização criminosa que desviou pelo menos R$ 25 milhões dos cofres
públicos.
Para tornar o cenário ainda mais
dramático, Catende sofre com o crescimento da violência. Neste ano, os
registros de homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte mais que
dobraram no município. Pularam de 14 nos primeiros nove meses do ano passado
para 32 no mesmo período deste ano. Neste mês de outubro, mais cinco
assassinatos ocorreram na cidade.
“Quero pacificar Catende. Já
recebi telefonemas me ameaçando de morte. Confesso que tenho medo às vezes, mas
tomo os meus cuidados”, disse Cavalcanti, que só anda com dois seguranças
(policias aposentados) armados.
“Com a minha idade, poderia ficar
na rede me balançando, mas não consigo. Quero morrer trabalhando e não
trabalhar morrendo”, acrescentou o professor, como é chamado por seus
eleitores.
Cavalcanti é um sobrevivente
político da cidade sacudida pelo escândalo de corrupção envolvendo o antigo
prefeito. Vice de Cordeiro nos dois mandatos, ele rompeu com o aliado meses
antes do início da “Operação Tsunami”, que prendeu o prefeito.
A desavença ocorreu porque
Cordeiro preferiu apoiar a sua chefe de gabinete, Danda de Otacílio, que ficou
em segundo lugar na eleição.
Ele disse que era filiado ao PFL
(partido fundado em 1985 para abrigar os políticos que apoiaram a ditadura)
quando conheceu Juscelino Kubitschek durante a campanha presidencial nos anos
50. Em outro momento, Cavalcanti contou que compôs o hino da cidade “em 1999”
logo após deixar o serviço militar. “Sou ruim de datas”, desconversa, ao
admitir que foi traído pela memória.
A família de Cavalcanti é uma das
mais antigas da cidade. Ele chegaram ao local quando o politico completou 4
anos. “Mesmo assim, sou mais velho que Catende. Faço aniversário em agosto e o
município foi fundado em setembro”, brinca. Além de comandar o local por dois
mandatos (69-73) e (77-81) e ter sido vice outras três vezes, seu pai foi
prefeito de lá.
Cavalcanti voltou ao poder
ajudado pelo caos administrativo. Assumiu a prefeitura após a prisão de Cordeiro.
Adversários alegam que ele se beneficiou do cargo na campanha. “É tudo a mesma
coisa. A panela vai continuar vazia aqui nos próximos quatro anos”, acredita
Miguel Marcondes, 43, que votou nulo.
A oposição acusa o professor de
ter contratado dezenas de funcionários de forma emergencial antes da eleição.
“Funcionários sabotavam o meu
trabalho. Rasgavam os pneus dos carros. Não faziam o que pedíamos. Tive que
contratar mais gente para fazer a cidade funcionar”, justifica Cavalcanti, que
foi contra o impeachment de Dilma Rousseff e é favorável a nova eleição
presidencial. Em Catende, a petista teve mais de 80% dos votos em 2014. (Por: Sérgio
Rangel – Folha de São Paulo)
Blog: O Povo com a Notícia
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