Monarquias,
quando bem estabelecidas na cultura popular, costumam só serem abaladas por
eventos internos. São raras as que não caem somente de dentro pra fora,
expostas por algum escândalo. Em tempos nos quais Pernambuco é exaltado no
Twitter com a expressão #Pernambucomeupaís, a "monarquia socialista"
que governa o Estado parece começar a se abalar, não pela voz da oposição que
grita à porta dos palácios há anos sem muito sucesso, mas pelos verbos e,
principalmente, pelos adjetivos e substantivos que saem da boca da matriarca
da família, Ana Arraes.
Desde a morte do filho, o
ex-governador Eduardo Campos, a filha de Miguel Arraes parecia que iria
manter-se quieta em seu cargo no TCU, sendo mais técnica que política. Até que
os ataques de João Campos contra o próprio tio, e filho de Ana, Antônio Campos,
despertaram a mulher que, até antes de João, tinha a maior votação da história
de PE para a Câmara Federal. Em 2010, Ana teve 387 mil votos. João Campos teve
460 mil votos em 2018.
Mas, apenas ter poderio histórico
e político não é o mais importante nessa análise. O fato é que às vozes da
oposição que gritavam para os muros dos palácios ganharam o reforço de ninguém
menos que a avó do principal herdeiro, de forma ativa e disposta a não deixar
passar nenhuma oportunidade para desnudá-lo perante os súditos e até mesmo
dentro dos muros, entre os mais fieis companheiros. Estava faltando em
Pernambuco, uma boa história de crise familiar monárquica. A família real, pelo
que se sabe, já existe.
Caso seja candidato, João Campos
terá que ir além de provar que mesmo não tendo experiência terá capacidade de
governar o Recife a partir de 2021. Seu segundo maior problema, depois desse,
será explicar por qual motivo nem a própria avó, mãe de Eduardo Campos e filha
de Miguel Arraes, apoia sua candidatura. No imaginário popular, avós são seres
capazes de apoiar tudo que os netos façam pelo amor que sentem por eles. Isso
pode pesar. (Por Igor Maciel é colunista de
política do Jornal do Commercio)
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