Na novela “O Bem Amado”, do dramaturgo Dias
Gomes (1922/1999), levada ao ar na década de 1970, o prefeito da fictícia cidade
de Sucupira, Odorico Paraguaçu, interpretado por Paulo Gracindo (1911/1995),
tem como principal meta inaugurar um cemitério, mas não consegue alcançá-la
porque na cidade ninguém morre.
Por ironia do destino, ao final da história, o
próprio prefeito “inaugura” a obra, onde é o primeiro a ser enterrado. Situação
parecida com a da ficção ocorreu em Bonito de Minas, de 11,2 mil habitantes,
distante 644 de Belo Horizonte, no Norte de Minas.
No
último fim de semana, emocionados, os moradores acompanharam o velório e o
sepultamento do prefeito da cidade, José Pedro Pires da Rocha (PSB), o Zé
Galego, de 64 anos. O corpo dele foi o primeiro a ser sepultado na parte
da ampliação do cemitério municipal de Bonito de Minas, na prática, considerada
como um “novo cemitério”, construído durante sua própria gestão. A obra ainda
está em fase de acabamento.
Emancipado
de Januária em 1997, Bonito de Minas possui um Índice de Desenvolvimento Humano
de 0,537, um dos mais baixos de Minas Gerais. Por outro lado, o município tem
uma grande extensão territorial (3.914 quilômetros quadrados).
Eleito
vice-prefeito em 2016, Galego tinha assumido o comando da prefeitura em abril
de 2018, tendo em vista que o então titular, José Reis, (PHS), se afastou do
cargo para ser candidato a deputado estadual e foi eleito foi eleito
com 45.746 votos.
A morte
de José Pedro Rocha ocorreu sexta-feira passada. Ele viajava sozinho para
Brasília (DF) e, na estrada, sentiu uma dor no peito. Procurou um hospital de
Planaltina (GO), onde sentiu um infarto. Os médicos tentaram reanima-lo, sem
sucesso.
Nesta
segunda-feira (20), foi empossado como prefeito de Bonito de Minas o
presidente da Câmara Municipal, o vereador Dilson Barbosa Santana (PP), o
“Dilson de Senhorinha”. Na prática, ele só vai iniciar os trabalhos na
prefeitura na quarta-feira, porque, com a morte de Zé Galego, foi decretado
luto oficial no município nesta segunda e terça-feira.
O
corpo do chefe do executivo foi velado no prédio da prefeitura. O caixão foi
coberto com uma bandeira do município. O enterro ocorreu no fim da tarde de
domingo, com acompanhamento de cerca de 500 pessoas. Na descida do caixão
da sepultura, o clima de emoção aumentou mais ainda, ao som da marcha fúnebre
de Chopin, executada por um morador.
O
”novo” cemitério de Bonito de Minas fica situado ao lado do antigo cemitério da
cidade, do qual é separado por um muro. Mesmo assim, a obra foi iniciada pela
prefeitura há cinco meses como uma “ampliação” do cemitério antigo, que tem
mais de 70 anos. As vagas para sepultamento no local aproximam do fim,
motivando a expansão.
Para
a conclusão da obra ainda falta o término de uma capela e de calçamento
(passarela). De acordo com um servidor municipal de Bonito de Minas, foi uma
pessoa da família de Zé Galego pediu que ele fosse sepultado no “novo
cemitério” antes mesmo da conclusão dos serviços previstos, tendo em vista
que, “por uma que questão de justiça” , ele deveria ser enterrado
“numa obra feita por ele”.
O
novo prefeito, Dilson Barbosa Santana, evitou fazer comentários sobre o fato do
seu antecessor ter sido o primeiro a ser enterrado no “novo” cemitério
construído na gestão dele. “Acho que Deus “marcou” a chegada do dia dele e
aconteceu isso, mas não posso falar sobre essa questão do cemitério”, disse
Santana. (Ele contou que mesmo continuando no mesmo grupo politico local liderado
pelo deputado José Reis), quando Zé Galego assumiu o comando da
prefeitura, passou a fazer oposição ao então chefe do executivo.
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