Uma ré acusada de lavar dinheiro do tráfico de drogas em São Paulo assumiu mandato na Câmara dos Deputados. Ely Santos, do Republicanos, estava na suplência do partido, mas tomou posse no último dia 9 devido a pedido de licença do titular, Roberto Alves, que é pastor da Universal. Ela é irmã do prefeito de Embu das Artes (região metropolitana de São Paulo), Ney Santos, do mesmo partido, que também é réu no mesmo processo e suspeito de liderar uma organização criminosa composta por parentes e pessoas próximas.
O prefeito inclusive está
inelegível por receber em campanha dinheiro de origem ilegal. O partido,
ligado à Igreja Universal, é aliado do governo Jair Bolsonaro e abriga hoje um
dos filhos políticos do presidente, Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de
Janeiro.
Ely chegou a permanecer presa
preventivamente por dois meses entre 2016 e 2017 no período em que o Ministério
Público de São Paulo apresentou a denúncia de organização criminosa tendo como
principal alvo o irmão. À época, Ney ficou foragido diante de ordem de prisão e
não compareceu à cerimônia de posse na prefeitura. Mas o Supremo Tribunal
Federal concedeu habeas corpus posteriormente.
Em junho deste ano, houve mais
um constrangimento para o político, quando a Polícia Civil baiana fez buscas em
fazenda de um irmão dele no interior do estado e apreendeu uma arma e R$ 670
mil em dinheiro. O inquérito ainda não foi concluído, e Ney, 41, é o principal
investigado — a deputada não é alvo nesse caso.
O prefeito estava no local no
momento da ação e chegou a ir a uma delegacia prestar esclarecimentos.
Policiais encontraram na propriedade um avião, no qual o político transportou
sua família, e uma pista de pouso não homologada. Na posse da deputada, neste
mês, o irmão esteve na Câmara com a família, gravou vídeos e divulgou
compromissos em Brasília no qual tratou da liberação de recursos para Embu das
Artes.
Disse em rede social que ela
será novamente candidata à Câmara no próximo ano. No domingo (21), promoveu um
comício, com centenas de pessoas, para comemorar a posse da “primeira deputada
federal da história de Embu das Artes”.
Em sua primeira sessão como
titular, a deputada do Republicanos votou com o governo Bolsonaro na PEC dos
Precatórios, projeto que virou uma grande aposta governista para 2022. Ely, de
44 anos, já foi secretária municipal do Desenvolvimento Social e informou à
Justiça Eleitoral que sua profissão é empresária. Em 2018, o prefeito de Embu
das Artes, que ela diz ser seu mentor, licenciou-se do cargo para trabalhar na
campanha dela.
Obteve 49 mil votos
alavancados por um forte financiamento do partido — R$ 1,3 milhão dos fundos
eleitoral e partidário. Ficou como primeira suplente. A deputada, cujo nome
civil é Eliane de Sousa Alves Machado, possui dois números ativos de CPF.
Segundo expôs em denúncia o Ministério Público, esse cadastro duplicado foi
usado para confundir autoridades em relação à abertura de empresas.
A denúncia afirma que a
parlamentar à época participava de negócios usados por Ney para lavar dinheiro
do tráfico e o liga à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Diz
que ela teve função de laranja, assim como outras pessoas acusadas, para
contornar bloqueios judiciais de bens do político.
Afirma ainda, por exemplo, que
um posto de combustível foi adquirido por ela quando o irmão esteve preso, em
2005, e que recebeu procuração para gerir diversos postos dele. Em manifestação
neste mês, os promotores reafirmaram que, em interceptação telefônica entre
membros do PCC, Ney foi chamado de “intocável”. Porém o processo, aberto em
2016, teve pouca movimentação desde então, em meio a discussões sobre em qual
jurisdição deveria tramitar.
O Ministério Público de São
Paulo apura atualmente a infiltração na política da facção e o caso de Embu das
Artes é um dos focos dos promotores. (Via:
Blog: O Povo com a Notícia