Preso há nove meses em Curitiba,
condenado a 19 anos de cadeia e prestes a amargar novas sentenças, Marcelo
Odebrecht revelou o desejo de alistar-se na infantaria dos delatores da Lava
Jato. A força-tarefa do petrolão trata a novidade como rendição, não delação.
Para obter benefícios judiciais, o príncipe regente da Odebrecht terá de
dedurar até a sombra. A exposição das relações promíscuas da maior empreiteira
do país com Lula é ponto de honra para os procuradores. Querem detalhes sobre
as palestras, o tráfico de influência internacional, os repasse$ ao Instituto
Lula, a reforma do sítio de Atibaia, tudo e mais um pouco.
O
hálito quente dos executivos da Odebrecht na nuca de Lula aqueceu-lhe a placa
do processador. Durante discurso para uma plateia de sindicalistas na noite desta
quarta-feira, em São Paulo, o sábio da tribo do PT ofendeu o bom-senso.
Responsabilizou o doutor Sérgio Moro pelo desemprego. Fez isso horas depois de
o IBGE informar que a taxa de desemprego nas seis maiores regiões
metropolitanas do país cresceu de 7,6% em janeiro para 8,2% em fevereiro. Entre
os jovens de 18 a 24 anos, o flagelo é bem maior: 20,8%. Em cada cinco jovens,
um encontra-se no olho da rua.
“A
Operação Lava Jato é uma necessidade para esse país”, disse Lula, antes de
revelar suas reais intenções: “Agora, eu queria que vocês procurassem a
força-tarefa, procurassem o juiz Moro pra saber se eles estão discutindo quanto
essa operação já deu de prejuízo à economia brasileira.”
Lula
pediu aos sindicalistas que perguntem ao juiz da Lava Jato “se não é possível
fazer o combate à corrupção sem fechar as empresas, sem causar desemprego.”
Escorou sua pregação num organismo que costumava satanizar: “Segundo o FMI,
2,5% da queda do PIB se deve ao pânico criado na sociedade brasileira.” Numa
evidência de que sua placa ferveu, Lula declarou: “Quando tudo isso terminar,
você pode ter muita gente presa, mas você pode ter também milhões de
desempregados nesse país.”
O
mensalão e o petrolão nasceram na administração Lula. Se o morubixaba do PT não
tivesse repartido as diretorias da Petrobras entre seus cleptoaliados, não
haveria Lava Jato. Mas ainda assim existiria a ruína econômica, porque essa
parte do desastre nacional está associada a outra criação de Lula: o mito da
gerentona. Superando as previsões mais pessimistas, Dilma revelou-se um fiasco
gerencial sem precedentes. No momento, arrasta pelos corredores do poder as
correntes da impopularidade. É reprovada por 69% dos brasileiros, informa o
Datafolha.
O
ruim pode ficar muito pior. Lula revela-se decidido a “ajudar” sua criatura.
“Nem que seja a última coisa que eu faça na vida, vou ajudar a Dilma a governar
esse País com a decência que o povo merece.'' Barrado por uma liminar do
ministro Gilmar Mendes, do STF, o salvador ainda não conseguiu assumir nem a
Casa Civil. Mas acha que está exercendo seu terceiro mandato.
Lula
deu a entender que algo lhe subira à cabeça na sexta-feira da semana passada,
quando discursou no coração de São Paulo, na manifestação que o sindicalismo e
os movimentos sociais convocaram para apoiá-lo e para se contrapor ao
impeachment. “A impressão que tive na Avenida Paulista foi que vocês estavam me
dando posse.''
Há
14 dias, numa palestra para empresários paranaenses, Sérgio Moro
soou como se antevisse as críticas de Lula. Declarou-se “consternado com esse
quadro econômico de recessão e de desemprego.” Mas disse não não dar crédito à
tese segundo a qual “a culpa é da Lava Jato.” Mencionou os “movimentos
favoráveis no mercado”, com oscilações positivas nos índices da Bolsa de
Valores, quando há diligências policiais. “Para mim é um indicativo de que a
Lava Jato não é exatamente um problema.” Reiterou: “Trabalhar contra um quadro
de corrupção sistemático é algo que só nos traz ganhos. Não tenho nenhuma dúvida
quanto a isso.”
Moro
afirmou que só há dois caminhos à disposição. E a “sociedade democrática
brasileira” terá de optar por um deles. “Podemos fazer como se fez muito:
varrer esses problemas para debaixo do tapete, esquecer que eles existem” ou
“enfrentar os problemas com seriedade e da forma que eles devem ser
enfrentados.” Para o magistrado, “a primeria alternativa não é aceitável.”
No
Brasil, sempre que uma investigação ameaça a aliança que une as oligarquias
econômica e política, fabricam-se crises e teses para avacalhar os inquéritos.
Lula faz pose de alternativa. Mas frequenta a cena política como principal
operador da turma do tapete. Age para esconder a sujeira. Vale a pena ouvi-lo
de novo: “Quando tudo isso terminar, você pode ter muita gente presa, mas você
pode ter também milhões de desempregados nesse país.” Lula está mais próximo da
cadeia do que do emprego de presidente que gostaria de reconquistar em 2018. (Via: Josias de Souza)
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