Os percentuais de votos brancos e
nulos confrontaram as previsões de analistas políticos e não alcançaram
patamares elevados no primeiro turno das eleições.
A porcentagem de brancos nas votação presidencial foi de 2,7%, o menor
índice do século -em 2014, foi de 3,8%. Os votos nulos, por sua vez, cresceram
de 5,8% para 6,1%.
Enquanto as regiões Sul e Sudeste concentraram os votos brancos, o
Nordeste e o Tocantins tiveram as maiores porcentagens de votos nulos.
Pernambuco foi o estado com o maior percentual de nulos, chegando a 9,5%,
seguido por Sergipe e Bahia, ambos com 8,4%. O Rio Grande do Sul teve o maior
índice de brancos, com 3,4%, seguido por Minas Gerais, com 3,1%.
"Havia uma expectativa de que brancos e nulos batessem recorde este
ano. Os percentuais gerais estão dentro das médias históricas, mostrando que o
eleitor, no meio do processo, aderiu à campanha e foi votar em um
candidato", diz Fabio Vasconcellos, cientista político e professor da Uerj
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Os municípios com menor percentual de votos brancos ficam na região Norte,
têm IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) médio ou baixo e
escolheram Fernando Haddad (PT) para presidente. A menor porcentagem de brancos
foi de 0,27%, em Monte do Carmo (TO), cidade de IDHM 0,622.
Vasconcellos pondera que a relação entre baixo IDHM e baixo índice de
brancos possa ser explicada pela posição socioeconômica do eleitor. "Quanto
mais o eleitor percebe que tem algo a perder, mais ele se interessa em
participar", afirma.
Já os municípios com menor percentual de votos nulos ficam, a maioria, no
Rio Grande do Sul e têm IDHM médio ou alto. A maior parte elegeu Jair Bolsonaro
(PSL). O menor índice de nulos, 1,2%, foi em Coronel Barros (RS), cidade com
IDHM de 0,744.
Para o especialista, a campanha presidencial teve forte componente de
plebiscito, opondo petistas a antipetistas e mobilizando os eleitores. Por
isso, os votos nulos teriam sido menores nas cidades com maior IDHM, onde o
consumo de informação também tende a ser maior.
"Há protesto, há descrença, mas há, também, a percepção reativa à
possível volta do PT ao Executivo. Isso, acredito, talvez seja o principal
fator explicativo da queda dos nulos em lugares com alto IDHM que, como
sabemos, envolve melhores níveis de educação e renda", afirma.
Os altos percentuais de votos nulos em cidades com baixo IDHM, diz o
professor, podem estar associados não só à descrença, mas, em menor escala,a
erros na hora do voto.
É o que também afirma Mauro Paulino, diretor do Datafolha, relembrando as
eleições de 2010. Na ocasião, gráfico do instituto indicava que quanto mais
desenvolvido o município, menor era o percentual de votos nulos.
"É um indício muito forte de que, quando a pessoa quer protestar,
mais fácil digitar branco e que, quando há erro, a maior parte se concretiza em
votos nulos." Segundo ele, os erros são mais comuns quando o eleitor
precisa escolher dois senadores, como ocorreu em 2018 e 2010.
Paulino relata que a intenção de votar branco ou nulo atingiu taxa recorde
um mês antes das eleições. Quando começou a cair, os votos foram
majoritariamente transferidos para o candidato do PSL.
"Essa revolta e insatisfação com os políticos em geral acabou se
revertendo também em votos para o Bolsonaro."
Os municípios com maiores índices de votos brancos, por sua vez,
dividem-se entre Rio Grande do Sul e Minas Gerais e têm IDHM médio. O cientista
político José Álvaro Moisés, professor da USP (Universidade de São Paulo),
avalia que o voto branco tem caráter de protesto mais acentuado.
"É provável que o voto nulo, principalmente em região de baixo
desenvolvimento, represente uma dificuldade das pessoas. Se há mais votos
brancos no Sudeste, diria é um indicador de um voto mais de protesto, mais
claro." (Via: Folhapress)
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