O general da reserva disse que já fez uso da mesma "regra de
engajamento", no linguajar militar, enquanto atuava no Haiti e que não se
trata de uma autorização para matar de forma indiscriminada. As declarações
foram feitas em entrevista exclusiva à Rádio Nacional, da Empresa Brasil de
Comunicação (EBC).
“Minha regra de engajamento no Haiti era muito parecida com essa que o
futuro governador colocou. É óbvio que muita gente faz uma distorção nisso e
acaba dizendo que é uma autorização para matar. É uma reação necessária à
exibição ostensiva que tem sido feita no Rio de Janeiro de armas de guerra nas
mãos, muitas vezes, de jovens”, disse.
O militar lembrou que esses fuzis, normalmente, são empregados em ações
que resultam em mortes de inocentes e de policiais envolvidos em confrontos e
defendeu a retomada do respeito pelas forças legais. “Nós não vamos readquirir
esse respeito com as regras de engajamento benevolentes que temos hoje”,
destacou.
“Não é uma autorização para matar indiscriminadamente. Precisa ter um
critério muito bem consolidado. Precisa haver um treinamento bem feito das
tropas para que isso seja respeitado. Tivemos essa regra no Haiti durante mais
de dez anos e não há casos de execuções indiscriminadas. É uma questão de
treinamento e, de pouco a pouco, se readquirir o respeito.”
Endurecimento das regras - “Não podemos, em prol de eliminar gente que não pode viver num
Estado civilizado, que a gente cause efeitos colaterais e acabe matando
inocentes. Tem que ser uma regra de engajamento muito bem consolidada junto
àqueles que vão fazer uso dela", insistiu Augusto Heleno.
"Acho que a situação que estamos vivendo nos leva a pensar num
endurecimento dessas regras. Isso tem que ser muito bem aplicado para não
parecer que é isso que estão colocando: uma autorização para matar. Isso não é
o que se pretende com esse endurecimento. É exatamente dissuadir que isso
continue a acontecer”, destacou.
O futuro ministro da Defesa classificou a polícia do Rio de Janeiro como
"talvez uma das mais valentes no mundo". "Quem já subiu o morro
tomando tiro, quem já enfrentou uma comunidade tomando tiro que você não sabe
de onde vem, sabe o que é isso. As polícias no Rio de Janeiro são muito
corajosas, mas precisam ter na sua retaguarda um outro tipo de apoio –
principalmente esse apoio logístico que foi implantado pela intervenção e que
pode servir de modelo para o resto do país.”
Sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro, o futuro ministro da
Defesa avaliou que o general Braga Neto nomeou comandantes que classificou como
“exemplares” e que ele segue norteando sua gestão na capital fluminense por uma
nova mentalidade de logística, administração de bens, administração de pessoal
e gestão de recursos humanos dentro das polícias.
“Isso tem mostrado um resultado sensacional na intervenção, pelo pouco
prazo em que ela está acontecendo. Não dá para resolver o problema do Rio de
Janeiro, que foi pouco a pouco se agravando até por isso. Aqueles que eram
responsáveis por se apresentar como os faróis, como a referência para a força
policial estavam, em boa parte, na cadeia. É óbvio que isso tem reflexos
inevitáveis no desempenho da tropa.”
"Despolitização" das polícias - O general Heleno considera que não se deve
estimular o emprego das Forças Armadas em situações de intervenção federal,
como a que se instalou no Rio de Janeiro desde fevereiro deste ano nem que se
banalizem as operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). "As Forças
Armadas extrapolam em muito as suas missões constitucionais”, avaliou.
“Eu não acho que as Forças Armadas devam incentivar esse emprego
[participação na garantia da lei e da ordem]. E não incentivam realmente. Elas
são chamadas quando o governador do estado declara ao Ministério da Justiça que
está numa situação difícil porque sua polícia esgotou as possibilidades de
emprego ou entrou em greve, que é uma coisa inconstitucional, mas acontece.”
Para o militar, esse tipo de situação pode ser solucionada por meio do
que chamou de “despolitização” das polícias, sejam elas militar, civil e mesmo
a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. De acordo com o general da
reserva, não há espaço para politização em instituições que são de Estado e
que, segundo ele, devem ser regidas por uma gestão baseada na meritocracia.
“Uma coisa que pode mudar muito esse panorama é o exemplo. Os
comandantes necessariamente têm que dar o exemplo. Não podemos assistir casos
de corrupção na cúpula de algumas polícias. Isso se alastra com muita
facilidade. Essa é uma correção de rumos indispensável. Essas polícias precisam
ter um outro tipo de gestão.”
Mesmo barco: O general da reserva disse ainda que é preciso esquecer o que chamou de
“confrontos de campanha” e trabalhar pela reconstrução do país. O militar se
referiu ao momento como uma oportunidade para exortar brasileiros a um novo
período “de tolerância, de conciliação e de busca do bem comum”.
“Temos muito o que fazer. Temos que esquecer esses confrontos de
campanha. Tudo isso tem que ser deixado de lado agora. Vamos trabalhar pela
reconstrução desse país, que é um país fantástico e que merece chegar muito
mais longe do que chegou até hoje."
E concluiu: "Estamos juntos. É preciso entender isso. Nós estamos
todos no mesmo barco e precisamos todos remar. Ninguém pode colocar o remo
n'água e não remar. Vamos colocar o remo na água para remar." (Via: Agência Brasil)
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