O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, assinou nesta sexta-feira (22) a portaria que declara o fim da emergência sanitária provocada pela Covid-19.
A medida atende a um desejo do presidente Jair Bolsonaro (PL) de reforçar o discurso de que venceu a crise sanitária, apesar de a gestão federal estar no centro das críticas por mais de 660 mil mortes por novo coronavírus.
A mudança também força gestores federais, de estados e municípios, a adequarem regras ligadas à Espin (Emergência em Saúde Pública de importância Nacional).
Queiroga fixou um período de 30 dias para o fim da emergência entrar em vigor. A ideia é que até lá os gestores mudem os textos que desejam manter ativos.
Estados e municípios chegaram a cobrar até 3 meses, mas a leitura do governo Bolsonaro é de que, se for preciso, algumas normas podem ter a validade prorrogada.
"A portaria vem para ratificar o que já existe na prática. Como falar em emergência de saúde se hoje está acontecendo o Carnaval?", disse Queiroga à imprensa após assinar a portaria.
Entre as regras mais sensíveis que são impactadas pela portaria está a
autorização emergencial de uso das vacinas, como a Coronavac, e de medicamentos
para Covid. A diretoria da Anvisa deve aprovar uma resolução para prorrogar por
um ano esta permissão.
O governo federal declarou o começo da emergência sanitária em 4 de
fevereiro de 2020, em portaria assinada por Luiz Henrique Mandetta (União-MS),
então ministro da Saúde.
A Espin deu bases para gestores se prepararem para o combate à Covid. Permitiu, por exemplo, contratações mais simples, sem licitação, de serviços e funcionários.
Também montou uma estrutura de planejamento das respostas à pandemia,
liderada pelo COE (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública), que
foi abandonado pelo governo durante a crise.
Diversas leis, portarias, além de regras de estados e municípios, colocaram a Espin como uma espécie de prazo de validade. Desde fevereiro a Saúde passou a mapear quais medidas têm de ser adaptadas ao fim da emergência. Entre elas, há regras sobre trabalho remoto, telemedicina, liberação de verbas ligadas à pandemia, entre outras.
A portaria assinada nesta sexta-feira (22) tem 4 artigos. Afirma que o
ministério orientará estados e municípios sobre a "continuidade das
ações" que compõem o Plano Nacional de Contingência da Covid, "com
base na constante avaliação técnica dos possíveis riscos à saúde pública
brasileira e das necessárias ações para seu enfrentamento".
O governo ainda tem dúvidas sobre o impacto do fim da Espin para algumas leis,
como a 13.979, que permite a adoção de isolamento, vacinação compulsória, uso
de máscara, entre outras medidas. Bolsonaro boicotou estas restrições durante a
pandemia.
Queiroga tem dito que não há mais razão para o uso obrigatório de máscaras, mas
ele reconhece a colegas que o fim da Espin não impede que um prefeito ou
governador cobre esta medida.
O ministro da Saúde e Bolsonaro chegaram a prometer acabar com a pandemia
(emergência sanitária global) no Brasil e declarar que a Covid-19 se tornou uma
endemia, cenário em que a doença apresenta número estável, mesmo que alto, e em
local determinado.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o ministro modulou o discurso ao ser alertado
por auxiliares que não tem poder de encerrar a pandemia. Esta tarefa cabe
apenas à OMS (Organização Mundial da Saúde). Além disso, apontar a doença como
uma endemia requer tempo maior de análise para garantir que não há risco de
novos surtos.
"Devemos, a partir do início do mês que vem, com a decisão do ministro da
Saúde de colocar fim à pandemia, voltarmos à normalidade no Brasil", disse
o presidente em março, quando a promessa ainda era a de acabar com a pandemia.
A Espin é regulamentada por uma portaria de 2011. O texto afirma que a
emergência deve ser declarada em surtos e epidemias com as seguintes
características: apresentem risco de disseminação nacional, sejam produzidos
por agente infeccioso inesperado, possam reinserir no Brasil uma doença
erradicada, tenham gravidade elevada ou extrapolem a capacidade de resposta do
SUS.
A emergência também pode ser declarada em situações de desastre e
desassistência à população.
O governo já adotou a Espin por 18 meses, a partir de novembro de 2015, por
causa do surto do zika vírus e sua associação com a microcefalia.
O cerne da mudança assinada por Queiroga é reforçar a versão de que o governo
venceu a crise sanitária, além de desestimular o uso de máscaras e outras
medidas de proteção contra o vírus.
O governo federal já recomendou dispensar o uso de máscaras em ambientes de
trabalho de estados e municípios com número de casos da Covid considerado
"baixo" ou "moderado", mas a medida ainda é distante de
promessas anteriores de Bolsonaro e Queiroga de acabar com a pandemia ou
impedir o uso obrigatório de máscaras.
Em nota, a Saúde disse que considerou a capacidade de resposta do SUS e a
melhora no cenário da pandemia para acabar com a emergência. "A alta
cobertura vacinal é um dos principais motivos para a queda na transmissão da
Covid."
O fim da Espin também extingue a Secovid (Secretaria Extraordinária de
Enfrentamento à Covid-19), estrutura criada por Queiroga para coordenar as
ações na pandemia.
Em fala à imprensa, o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Arnaldo
Medeiros, disse que o monitoramento da Covid-19 não será alterado. Ele afirmou
que serão mantidas as políticas de testagem, monitoramento de contatos e de
vigilância genômica da doença.
O secretário-executivo da Saúde, Rodrigo Cruz, disse que o fim da Espin também
não altera a programação de transferência de recursos a estados e municípios.
A pandemia de Covid-19 causou oficialmente a morte de mais de 660 mil brasileiros. Bolsonaro decidiu ignorar recomendações de entidades de saúde, como a OMS, e boicotou o distanciamento, uso de máscaras e desestimulou a vacinação contra a Covid, especialmente das crianças. Também promoveu a fabricação e uso de medicamentos sem eficácia da Covid-19, como a hidroxicloroquina, hoje encalhada nos estoques federais e de municípios.
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