Com acenos negativos na base
aliada, o presidente Michel Temer disse a auxiliares não acreditar mais que
conseguirá aprovar uma reforma previdenciária nos seus dois últimos meses de
mandato.
Segundo relatos feitos à reportagem, ele tem avaliado em conversas reservadas que não há ambiente político e disposição congressual para a votação de uma proposta neste ano, mesmo que ela sofra alterações acordadas com o seu sucessor.
No mês passado, em viagem a Nova York, Temer disse que entraria em contato
com o presidente eleito para tentar votar a iniciativa, porque, segundo ele,
não haveria "preocupação de natureza eleitoral". O alto índice de
renovação da nova legislatura, contudo, atrapalhou os planos de Temer. Com
mandatos próximos ao fim, parlamentares que não foram reeleitos sinalizaram ao
Palácio do Planalto falta de interesse em apoiar a iniciativa.
Nas palavras de um assessor presidencial, se eles já foram castigados
pelos eleitores por terem apoiado uma reforma impopular, não há motivo de serem
expostos a novos protestos às vésperas de perderem o mandato.
"Não tem margem nenhuma para votação de uma reforma previdenciária
neste ano. Há muitos deputados federais que estão machucados", avaliou o
vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MDB-MG).
A resistência em apreciar a proposta até dezembro também tem sido apresentada
por parlamentares que foram reeleitos.
O argumento é de que eles terão um maior poder de barganha junto a um novo
governo, que terá de abrir negociação para compor uma base aliada que seja
forte.
"Quem deve fazer essa reforma é o novo Congresso Nacional e quem deve
encaminhar ou não é o novo presidente", disse o presidente do Senado, Eunício
Oliveira (MDB-CE).
Se já havia dificuldades em votar a proposta antes da campanha eleitoral, o
clima piorou após o segundo turno.
O deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cotado para ser ministro da
Casa Civil de um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL), jogou água fria na
expectativa de votar a iniciativa neste ano.
"Se ele ganhar a eleição no dia 28, que nós acreditamos que vai, nós vamos
tratar desse assunto dia 1º de janeiro de 2019, nem um dia antes",
afirmou.
A declaração, seguida de uma crítica de que a proposta sugerida pela atual
gestão é uma "porcaria", irritou Temer, que vinha recebendo
anteriormente acenos positivos da equipe de Bolsonaro. A equipe técnica do
candidato queria votar a iniciativa agora para iniciar o novo governo em um
cenário mais favorável, evitando que a discussão em torno da reforma
paralisasse a pauta econômica no próximo ano.
Segundo relatos, no entanto, um interlocutor do economista Paulo Guedes,
guru econômico de Bolsonaro, sondou os presidentes da Câmara e do Senado se
havia ambiente para aprovar uma reforma neste ano. A resposta foi
negativa, o que desanimou o entorno do candidato, que preferiu deixá-la para o
início de 2019. Caso Bolsonaro seja eleito, no entanto, a equipe do candidato
discute alterações no Orçamento para 2019. Ela já sondou lideranças da
base aliada e recebeu acenos positivos sobre a disposição de mudanças no texto
final. (Via: Folhapress)
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