O presidente da Venezuela,
Nicolás Maduro, fechou nessa quinta-feira (21) o espaço aéreo do país e enviou
blindados à fronteira com o Brasil para impedir a entrada de ajuda humanitária.
Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro manteve o envio de ajuda. A decisão
ocorre a dois dias de a oposição venezuelana iniciar uma operação de entrega de
mantimentos enviados pelos EUA com ajuda brasileira e colombiana.
“Decidi que, no sul da Venezuela, fica fechada completamente a fronteira
com o Brasil, até segunda ordem”, disse Maduro, após reunião com o alto comando
militar em Caracas.
Sobre a Colômbia, o chavista afirmou que avalia uma medida similar e disse
que o armazenamento de ajuda humanitária é uma “provocação barata”.
“Responsabilizo o senhor Iván Duque (presidente colombiano) por qualquer
violência na fronteira.”
Mesmo com o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, Bolsonaro
decidiu manter a missão humanitária. O porta-voz da Presidência da República,
Otávio Rego Barros, informou que os produtos serão mantidos nas cidades de Boa
Vista e de Pacaraima, em Roraima, até que meios de transporte venezuelanos
busquem os suprimentos.
“Estamos disponibilizando os meios para a operação e continuamos
aguardando a vinda dos caminhões de transporte dirigidos por venezuelanos”,
disse. Segundo ele, os alimentos não são perecíveis e o prazo de validade dos
medicamentos é longo, o que permite o armazenamento por um longo período.
A partir desta sexta-feira (22) começa o envio de ajuda humanitária desde
Roraima para a Venezuela, afirmou ontem María Teresa Belandria, representante
de Guaidó no Brasil. “Foram definidos os procedimentos para realizar a
operação, por meio da qual serão transportadas em uma primeira fase até 100
toneladas de ajuda, composta por alimentos, remédios e kits de emergência, que
sairão da cidade de Boa Vista”, explicou María Teresa. O controle completo da
operação será das autoridades brasileiras.
A decisão de manter a operação foi tomada em reunião ontem entre Bolsonaro
e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Onyx
Lorenzoni (Casa Civil) e Santos Cruz (Governo). O chanceler Ernesto Araújo não
participou. Segundo o governo, contudo, ele foi consultado por telefone.
A pedido de Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão irá a Bogotá
para a reunião do Grupo de Lima, que ocorre segunda-feira. O tema do encontro
será a crise na Venezuela, que pode se agravar após a decisão de Nicolás Maduro
de fechar as fronteiras.
“Maduro mandou fechar a fronteira para evitar que o pessoal da Venezuela
venha ao Brasil buscar suprimento”, disse Mourão ao jornal O Estado de S.
Paulo. O vice-presidente garantiu que, “em hipótese alguma”, o Brasil entrará
na Venezuela para qualquer finalidade. “Isso não existe”, avisou.
De acordo com Mourão, “não há situação tensa”. “Está da mesma forma que
antes. Nada mudou. Vamos aguardar o que vai acontecer amanhã”, comentou,
referindo-se à decisão de Guaidó de forçar a entrada de ajuda amanhã. Segundo o
líder da oposição venezuelana, as doações chegarão por Cúcuta, na Colômbia, e
Roraima, no Brasil. No entanto, com a fronteira fechada, isso pode não
acontecer.
O aumento da tensão com o fechamento da fronteira ocorre no momento em que
o alto comando do Exército se reúne em Brasília, desde a segunda-feira, em uma
agenda previamente marcada, para definir as promoções de março. Nos encontros
são feitas avaliações de conjunturas nacional e internacional.
Durante as reuniões, os militares brasileiros descartaram qualquer chance
de confronto e demonstraram preocupação com a quantidade de alimentos que foi
levada para Roraima e poderá se perder em razão do fechamento da fronteira.
As Forças Armadas e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ainda têm
adidos em Caracas e mantêm o governo brasileiro informado. “A situação é de
observação. Apenas isso”, afirmou um general, que preferiu não se identificar,
já que a questão está sendo conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores
em conjunto com o Planalto.
Chanceler
Na viagem a Bogotá, Mourão será acompanhado pelo chanceler Ernesto Araújo.
Nessa quinta-feira (21), o vice-presidente negou que sua ida à Colômbia
represente o isolamento de Araújo. “De jeito nenhum. Ele vai comigo, só que a
reunião é de presidentes e, por isso, o presidente Bolsonaro pediu para eu
representá-lo”, declarou Mourão.
Na reunião do Grupo de Lima, na segunda-feira, na Colômbia, estarão
representantes dos 14 países do Grupo de Lima. Entre os integrantes, apenas o
México não reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela. (Via: Estadão)
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