A investigação sobre a origem do petróleo que atingiu praias dos nove
estados nordestinos, que teve início em 2 de setembro, se concentra, na fase
atual, em 23 embarcações suspeitas. O trabalho é conduzido por Marinha e
Polícia Federal. O cruzamento de informações aponta que, na região investigada,
havia embarcações de diversas origens.
O trabalho passa por cruzar rotas mais usadas no transporte de petróleo
e a direção que as toneladas de óleo tomaram até chegar às praias do Brasil. O
material identificado até agora em amostras tem a “assinatura” do petróleo da
Venezuela.
A hipótese de que o petróleo lançado no mar brasileiro seja fruto de um
naufrágio está praticamente descartada. Uma das linhas de investigações,
segundo uma fonte, considera o tráfego de “navios fantasmas”, embarcações
criminosas de piratas que poderiam atuar no contrabando de petróleo.
O governo continua a tratar do tema com sigilo. Na quarta-feira (9),
durante audiência na Câmara dos Deputados, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, afirmou que, “ao que tudo indica, se trata de um navio estrangeiro”,
sem dar detalhes.
Questionado sobre o assunto, o ministro afirmou que a pasta tem atuado
para conter os danos e recolher o material que chega às praias. Mais de cem
toneladas de borra já foram recolhidas. O trabalho é de difícil execução porque
o petróleo não avança sobre a lâmina d’água, mas no fundo do mar, até chegar ao
litoral.
Situação das praias
Até agora, apenas Ceará e Sergipe, nesta semana, passaram a identificar
praias impróprias para banho por causa do petróleo cru. “Compreendemos que
todas as praias com manchas de óleo visíveis estão impróprias para banho”, diz,
em comunicado, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Ceará.
Já o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de
Sergipe, Ubirajara Barreto, afirmou que “a recomendação é de que a população
evite locais atingidos pela substância oleosa”. “É prudente a não utilização
das praias, bem como a não retirada, por conta própria, de nenhuma substância,
mesmo com o intuito de ajudar.” O Estado procurou os demais Estados, que
afirmaram não apresentar problemas de balneabilidade.
“A grande questão é agir rápido, resolver o problema, não ficar buscando
culpados, isso pode ser feito depois”, afirmou Márcio Nele, do Programa de
Pós-Graduação da Coppe/UFRJ. Especialistas destacam que o Brasil já dispõe de
um Plano Nacional de Contingência.
“Cada lugar tem as suas especificidades, suas particularidades”,
ressalta o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gerenciamento Costeiro
da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), João Luiz Nicolodi, citando
correntes marítimas, ondas, praia e areia.
A limpeza pode ser feita de três formas, que podem ser combinadas. As
boias são usadas em derramamentos menores. Há ainda embarcações específicas,
equipadas com aparelhos capazes de aspirar o óleo. Por fim, em caso de
acidentes de proporções ainda maiores, podem ser usadas substâncias químicas
lançadas de aviões, chamadas de dispersantes.
Foz do Rio São Francisco
Técnicos ambientais detectaram, na quarta-feira (9), manchas de óleo na
foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, litoral sul de Alagoas. A detecção
ocorre no mesmo dia em que o governo de Sergipe descobriu que não poderia
instalar boias rapidamente para tentar impedir que o óleo chegue à área – pelo
fato de os equipamentos não estarem disponíveis.
A foz do São Francisco fica na divisa entre Alagoas e Sergipe. Na terça-feira (8), o governo sergipano declarou que usaria boias absorventes cedidas pela Petrobras. Nesta quarta foi informado pela estatal que não havia equipamentos disponíveis.
Dessa forma, o estado terá de comprar 200 metros de equipamento, ao
custo de R$ 90 mil, de uma empresa do Espírito Santo. A informação foi dada
pelo diretor-presidente da Administração do Meio Ambiente, Gilvan Dias. Ele
acionou os Ministérios Públicos Estadual e Federal e a Justiça Federal, pedindo
ajuda. “Ficamos de mãos atadas.”
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas confirmou que a chegada de
petróleo à foz do Rio São Francisco, em Piaçabuçu, poderia ter sido evitada com
o uso de barreiras de contenção no mar, mas a eficácia desta medida dependeria
de o material estar concentrado.
Turista pode cancelar viagem
Turistas que estão com viagem marcada para destinos afetados pelas
manchas de óleo podem negociar com as operadoras para remarcar datas ou até
cancelar a viagem, sem ter de pagar multa. Esse é o entendimento do Procon-SP,
que afirma que o consumidor não pode ser responsabilizado ou prejudicado pela
situação. (Via: Agência Estado)
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