Nesta véspera do dia em que se completa um
mês que a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou o reconhecimento da
covid-19 como uma pandemia, fazemos um retrato que reflete o comportamento da
sociedade diante das medidas de isolamento social. Das 684 pessoas que já
receberam o diagnóstico positivo do novo coronavírus em Pernambuco até esta
sexta-feira (10), 429 (63%) fazem parte de uma faixa etária em idade economicamente
ativa: dos 30 aos 59 anos. Por outro lado, a partir dos 60 anos (grupo que mais
tem apresentado complicações graves pelo novo coronavírus), são 178 casos
confirmados da doença. O restante (77 casos) está entre a população até 29
anos.
A
predominância do adoecimento entre os adultos jovens intriga e preocupa, além
de revelar muito sobre a atitude adotado por esse público diante das
recomendações preventivas que o próprio ritmo acelerado da pandemia exige.
“Essa é faixa etária de uma parte da população que precisa sair de casa porque
trabalha em serviços essenciais ou até mesmo de um grupo que infelizmente faz
questão de não respeitar o isolamento”, diz o infectologista e epidemiologista
Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do Hospital Universitário
Oswaldo Cruz (Huoc).
Mundialmente,
a doença tem sido mais frequente e grave na população idosa, mas outras faixas
etárias também são infectadas. Médico pediatra e infectologista, o secretário
de Saúde do Recife, Jailson Correia, segue sempre o tom da OMS e, a cada
pronunciamento, nunca deixa de fazer um apelo para os adultos jovens, deixando
claro que a população economicamente ativa também deve respeitar a quarentena.
“Quando a gente diz que a doença é potencialmente mais grave a partir dos 60
anos, isso não quer dizer que os jovens são invencíveis. É fundamental que os
jovens tomem a atitude de ficar em casa para proteger a si mesmos e ainda as
pessoas que amam”, destaca Jailson Correia.
O
depoimento dele só reforça o quanto não devemos nos dar o direito de abandonar
o isolamento social. Em várias localidades da capital e municípios do interior,
pessoas ainda insistem em sair de casa. Mesmo que os mais jovens não manifestem
sintomas, eles podem transportar o vírus e transmiti-lo para os mais velhos e
vulneráveis à infecção pelo novo coronavírus. “Vivemos uma situação social
complicada neste momento. Muitos trabalham e ganham o dinheiro do dia que será
usado para comer naquele mesmo dia ou no seguinte. Nesse ponto, até se
compreende a dificuldade de se permanecer em casa. Há um grupo de pessoas
(aquelas com condições de fazer o isolamento social) que não leva a sério as
orientações da quarentena”, ressalta Demetrius.
O
infectologista ainda nos ajuda a interpretar um detalhe importante do que
revelam os gráficos dos óbitos confirmados em Pernambuco. Até esta sexta-feira
(10), das 65 mortes por covid-19, 49 foram de pessoas a partir dos 60 anos.
Entre 30 e 59 anos, foram 15 vítimas fatais. “São os idosos que mais apresentam
agravamento do quadro. Por isso que a letalidade é maior nessa faixa etária.
Mais uma vez, destacamos que, ao saírem e voltarem para casa, os jovens podem
levar o vírus para a sua residência e, em contato com os mais velhos, podem ser
agentes de transmissão”, alerta o médico.
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