Rede
de Saúde de Pernambuco está a um passo pequeno de rede entrar em colapso,
devido ao avançar da epidemia do novo coronavírus - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
O Conselho
Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) divulgou uma recomendação com
definição de critérios de prioridade de internação dos pacientes infectados com coronavírus em unidade de terapia intensiva (UTI), na falta de
leitos para atender a demanda terapêutica. O documento já foi encaminhado à
Secretaria Estadual de Saúde (SES), segundo o Cremepe. A reportagem procurou a
assessoria da SES e aguarda um retorno.
A
recomendação do Cremepe foi feita no momento em que Pernambuco enfrenta uma
franca aceleração da curva epidêmica de covid-19, o que causa uma pressão
imensa no sistema de saúde, com taxas de ocupação dos leitos de UTI no limite.
Em linhas gerais, o documento do Cremepe se baseia no uso de três escalas e
orienta que devem ser priorizados os pacientes com covid-19 em estado grave que
tenham maior chance de sobrevivência.
"Nós não podemos interferir
na política de saúde do Estado. Mas, diante do cenário de leitos insuficientes
para a grande demanda de pacientes (com suspeita ou confirmação de covid-19),
podemos ajudar na tomada de decisão para priorização do acesso. Não estamos
falando em fazer um corte por faixa etária, como fez a Itália. A nossa
recomendação reúne três tipos de score para dar a decisão (ao médico) de que
pacientes estão com maior necessidade de UTI e maior chance de
sobrevivência", explica o vice-presidente do Cremepe, Maurício José de
Matos e Silva.
Parece cruel, mas alguém tem que
fazer isso
Maurício José de Matos e Silva,
vice-presidente do Cremepe, sobre a difícil decisão de uso de leito de UTI
O conselho recomenda a utilização
do Escore Unificado para Priorização (EUP-UTI) de acesso a leitos de terapia
intensiva, assistência ventilatória e paliação, como meio de hierarquização da
gravidade dos pacientes, na ausência absoluta de leitos suficientes para
atender a demanda terapêutica. O documento, publicado na segunda-feira (27),
destaca que caberá à autoridade sanitária definir o início, a duração e a
gradação do ponto de corte de utilização do EUP-UTI, conforme a necessidade de
adequação dos quantitativos de leitos à demanda existente.
"Encaminhamos a recomendação
à SES, órgão que cabe avaliar essa nossa contribuição. A secretaria deve se
pronunciar, poderá usar totalmente a recomendação ou parte dela", informa
Maurício, ciente de que a missão do médico de decidir o paciente que deve ser
encaminhado a um leito de UTI, nesse cenário de esgotamento da rede, é
extremamente difícil. "Parece cruel, mas alguém tem que fazer isso."
O vice-presidente do Cremepe
acrescenta que a recomendação de acesso a vagas de terapia intensiva leva em
consideração a condição clínica do paciente, as doenças preexistentes (ou seja,
aquelas diagnosticadas antes da infecção pelo coronavírus) e a fragilidade -
condição que tem implicações na qualidade de vida e na autonomia de cada
pessoa. "Para fazer essa recomendação, reunimos três scores que avaliam a
previsão de sobrevivência a curto prazo do paciente (com suspeita ou confirmação
de covid-19) e a longo prazo a partir da presença de comorbidades (doenças
crônicas)", diz Maurício. A previsão de sobrevivência global é avaliada
pela condição de fragilidade. "O score, vale dizer, não é fixo e deve ser
feito todos os dias (com base no quadro de cada paciente)."
Cuidados paliativos
Para os pacientes com covid-19
que não forem priorizados para o uso de leitos de UTI, Maurício frisa que deve
ser utilizada a prática dos cuidados paliativos, uma abordagem voltada para o
controle de sintomas, conforto e qualidade de vida. Além disso, é um tipo de
cuidado oferecido em conjunto com o tratamento padrão de qualquer doença que
ameace a continuidade da vida, sem ser associado com a omissão ou exclusão
(abandono terapêutico), mesmo durante uma pandemia. (Via: Jc Online)
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