O brasileiro já ouviu muitas
histórias de gente tirando gênio de garrafas. Mas nunca antes na história desse
país se ouvira falar de alguém obrigando o gênio a retornar à garrafa. Na
versão de um ministro petista é o que Lula está fazendo com Dilma. Vendida em
2010 como gestora genial, ela foi convencida a entregar ao antecessor o futuro
dos escombros que restaram do seu governo.
Numa
tentativa desesperada de se livrar do impeachment, Dilma fará de Lula um
superministro, com sala no Planalto. Ele chefiará a articulação política do
governo e projetará sua sombra sobre toda a Esplanada, especialmente sobre a
pasta da Fazenda. Depois de acusar os rivais de tramar um golpe, Dilma recorre
a um autogolpe. Lula entrará pela porta dos fundos numa espécie de terceiro
mandato.
A manobra
envolve alto risco. Ao patrociná-la, Dilma como que exerce um dos poucos
privilégios que ainda lhe restam — o privilégio de escolher seu próprio caminho
para o inferno. Com o governo esfarelando-se, madame atrelou seu destino ao de
Lula, divorciando-se definitivamente das ruas.
No
último domingo, o asfalto roncara sobretudo para exigir o impeachment de Dilma
e prestigiar Sérgio Moro, cacifando-o para punir inclusive Lula ‘Jararaca’ da
Silva. Em resposta a essas demandas, Dilma resolveu unir o inútil ao
desagradável: para se manter no cargo, concede à serpente o foro privilegiado
dos ministros, livrando a cobra criada do PT dos rigores do juiz da Lava Jato.
O
movimento é inútil porque, ainda que consiga deter o impeachment, o máximo que
Lula fará por Dilma é acomodá-la no verbete da enciclopédia como a primeira
pessoa na história a se tornar ex-presidente ainda no exercício da Presidência.
É desagradável porque a presença de Lula na Esplanada, além de não ser um bom
exemplo, é um péssimo aviso: o governo entrou na fase do vale-tudo.
Tomado
pelo que se diz dele no Planalto, Lula retornará a Brasília para operar
milagres. Na política, promete reagrupar o bloco partidário que dava suporte
aos governos petistas no Congresso. Na economia, acena com uma reviravolta
capaz de abreviar a retomada do crescimento. Falta combinar com a lógica.
Quando
ainda era um presidente da República popular, Lula só conseguiu apoio no
Congresso comprando aliados com o dinheiro sujo do mensalão e do petrolão. Os
parlamentares governistas continuam com o mesmo código de barras na testa. Mas
o governo, com a força-tarefa da Lava Jato no seu encalço, já não pode
remunerá-los como antes. O novo superministro manuseará um orçamento em ruínas.
Não
é só: retratado nas ruas como um boneco-presidiário batizado de Pixuleco,
investigado por corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e
falsidade ideológica, Luís Inácio já não é o mesmo Lula da Silva. É nessa
condição de ex-Lula que terá de convencer o PMDB, por exemplo, de que é mais
negócio permanecer com Dilma do que colocar na cadeira dela o correligionário
Michel Temer, seu substituto constitucional.
A
contabilidade do impeachment favorece Dilma. Para aprovar o pedido na Câmara,
os antagonistas do governo precisam reunir 342 votos. Para barrar o
impedimento, o Planalto tem de reunir 171 votos. Líder do governo na Câmara, o
deputado José Guimarães (PT-CE) afirma que, se o governo não tiver algo como
duzentos votos no plenário da Câmara, é porque a propalada governabilidade já
foi para o beleléu.
Na
economia, a guinada defendida por Lula e seus devotos no PT passa pelo abandono
de projetos como a reforma da Previdência e de estratégias como o rigor fiscal.
Tudo em nome de uma hipotética retomada do crescimento ainda em 2016. Como se fosse
possível colher bons indicadores sem plantá-los. (Via: Josias de Souza)
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