Se você
não soube responder, não se preocupe, não está sozinho. Outros 158 milhões de
brasileiros têm a mesma dúvida. Em pesquisa inédita do Ibope, 77% não quiseram
nem arriscar dizer a quantidade de siglas partidárias existentes no País.
Fizeram bem em silenciar: 23% chutaram um número, só 2% acertaram. A resposta é
35. Por ora.
Os 2% que souberam responder corretamente à pergunta do Ibope se
enquadram, provavelmente, em uma de três categorias: 1) é estudante ou
professor de ciência política, 2) faz política profissionalmente ou orbita em
torno dela; 3) é sortudo.
Não se deve culpar quem errou ou silenciou, pois a resposta
certa varia. Em pouco tempo, será outra. Afinal, mais 62 siglas estão tentando
se viabilizar na Justiça Eleitoral. Por ora. São agremiações tão amplas quanto
o “Partido Universal do Meio Ambiente”, tão genéricas quanto o “Participação” e
o “Igualdade”, e tão includentes quanto o “Partido dos Servidores Públicos e da
Iniciativa Privada do Brasil”. Mas há também os específicos e restritivos, como
o “Partido de Organização Democrática dos Estudantes”, “Partido do Combate ao
Desemprego” e, campeão dos campeões, o “Partido Nacional Corinthiano”.
Sim, são partidos demais: 84% dos brasileiros, segundo o Ibope,
concordam que 35 siglas já é muito. O que dizer de 97 (na hipótese de os outros
62 conseguirem se viabilizar)? É sinal de que, com a provável exceção de fundar
uma igreja, não existe melhor negócio do que fundar um partido no Brasil. É
isento de impostos, garante exposição gratuita na TV e no rádio duas vezes por
ano, permite negociar o tempo de propaganda eleitoral com outras siglas e ainda
ganha uma fatia do Fundo Partidário.
Mas, na maioria dos casos, é bom apenas para quem comanda os
partidos. É o que pensa a maioria dos brasileiros. Segundo a pesquisa, 80%
acham que haver 35 siglas é mais negativo do que positivo para o País. Só 12% acreditam
no oposto. Poucos temas conseguem galvanizar uma maioria tão ampla da opinião
pública. Portanto, parece já ter passado da hora de reduzir o número de
partidos políticos no Brasil, certo? Nada menos do que 77% dos brasileiros
concordam com essa afirmação. O problema é que entre os 18% contrários à
proposta estão deputados e senadores em quantidade suficiente para barrá-la.
Assim, chegamos a um impasse sobre o funcionamento do sistema
político brasileiro em um dos seus aspectos mais básicos. A imensa maioria da
população acha que há partidos demais (84%), que isso é mais negativo do que
positivo para o País (80%) e quer diminuir (77%) a quantidade atual (quanto
menos facilitar a criação de outros 62). Porém, as pessoas que deveriam, em
tese, representar essa maioria agem no sentido oposto.
Simplesmente porque não
lhes convém mudar. Toda vez que se dedicam a alterar alguma coisa no sistema
político, deputados e senadores facilitam a sua vida, não a dos eleitores. Um
dos exemplos mais recentes é a janela de infidelidade partidária que está
aberta até o próximo dia 19. Durante um mês, os parlamentares podem trocar e
destrocar de partido sem medo. É uma espécie de despedida de solteiro onde vale
tudo. Pelo menos 40 já participaram do troca-troca partidário. Por ora.
Como sair desse impasse? Revisão constitucional? Sabe-se como
começa, mas não como termina. A constituinte é soberana para mudar tudo o que
quiser da Constituição. E de pouco adiantaria se os eleitos forem os mesmos que
já compõem o Congresso. Candidaturas avulsas? Os parlamentares jamais
aprovariam. Talvez a solução seja criar o 98.º partido – o Partido Aleatório –,
cuja plataforma é abolir o sistema eleitoral-partidário para escolha do
Congresso. Em vez disso, deputados e senadores seriam sorteados. Teríamos
melhores chances do que hoje. (Por José Roberto de Toledo)
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