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Nas últimas horas, Brasília
esteve mais surrealista do que o habitual. Em solenidade no Planalto, Michel
Temer disse que a Câmara tem uma decisão importantíssima para tomar e que vai
respeitar o resultado, seja ele qual for. Nos subterrâneos, Temer compra um
resultado que lhe pareça respeitável. Com verbas e cargos, transformou uma
derrota em perspectiva de vitória na Comissão de Constituição e Justiça.
Deputados que votariam a favor da aceitação da denúncia contra Temer foram
trocados na CCJ por colegas que querem enterrar o escândalo vivo.
No mesmo discurso em que fez pose de presidente respeitável, Temer repetiu
que seu governo recolocou a economia nos trilhos. E celebrou antecipadamente a
aprovação da reforma trabalhista. Horas depois, noutro surto de surrealismo,
senadoras de oposição, entre elas a ré Gleisi Hoffmann, presidente do PT,
tomaram de assalto a mesa do Senado. Sem votos, decidiram atrapalhar na marra a
votação da reforma da CLT. Apagaram-se as luzes no plenário do Senado. Mas o
principal apagão é político, não elétrico.
Em meio a uma conjuntura cada vez menos respeitável, Temer pede pressa aos
aliados. Quer enterrar a denúncia que o acusa de corrupção o quanto antes. Acha
que será uma demonstração de poder. Mas a verdade é que está cada vez mais
impotente. Corre para fugir de novas delações. Mas será atropelado por duas
novas denúncias da Procuradoria. Talvez não encontre mais deputados dispostos a
se comportar como juízes que vendem a consciência três vezes. Como nunca viveu
numa democracia antes, um adolescente pode se perguntar: “E se democracia for
isso mesmo?”
Blog: O Povo com a Notícia