A mãe da menina Beatriz Angélica
Mota da Silva, assassinada há um ano e sete meses no colégio onde estudava, em
Petrolina, no Sertão de Pernambuco, divulgou uma carta que afirma ser
endereçada ao Papa Francisco. No texto, Lúcia Mota relata a dor de ainda não
saber quem foi o responsável pela morte da garota, diz que as autoridades
policiais "não possuem estrutura" para elucidar o caso e reclama da
direção da escola, que não estaria colaborando com as investigações.
"Vossa venerável pessoa,
na qualidade de Pastor Supremo da Igreja, sendo internacionalmente reconhecido
como grande líder moral da humanidade, exerce um papel profético capaz de
atingir as consciências e intervir no auxílio ou mesmo no sentido de
sensibilizar as autoridades policiais, Ministério Público e Governador do
Estado de Pernambuco, como também os administradores do Colégio Nossa Senhora
Auxiliadora de Petrolina, a cooperarem com a elucidação desse hediondo
crime", afirma Lúcia. Ela diz que o Vaticano também pode ajudar dando
"publicidade às imagens do assassino recentemente reveladas pela Polícia
Civil".
As fotos foram extraídas de
filmagens de uma câmera de segurança e foram divulgadas em março deste ano. Na
ocasião, a delegada Gleide Angelo, à frente do caso, disse ter certeza de que o homem que aparece no material foi quem matou
Beatriz. Até o momento, porém, nenhuma informação levou a
polícia até ele.
Ao longo das investigações,
familiares da vítima deixaram transparecer desconfiança em relação a
funcionários do colégio, que poderiam, na versão deles, ter envolvimento no
crime e no desaparecimento de provas, como filmagens do circuito de segurança
da escola. Na carta, a mãe de Beatriz lembra que a instituição de ensino é
católica e apela ao líder máximo da Igreja. "A instituição não nos ajuda,
omite informações. (...) Enquanto não forem esclarecidos todos os fatos e os
seus reais culpados não forem punidos, existirá uma dúvida em nossa comunidade
de que algumas instituições católicas trabalham para esconder práticas
condenáveis de alguns de seus membros", acusa.
A mensagem ao Papa é mais uma
tentativa da família de Beatriz de buscar ajuda. Os pais da menina já fizeram,
pelo menos, três protestos no Recife e tiveram encontro com o governador Paulo
Câmara, que assegurou esforços feitos para solucionar o caso. Em fevereiro de
2016, durante passagem por Juazeiro (BA), vizinha a Petrolina e onde os
parentes da vítima moram, a então presidente Dilma Rousseff também ouviu apelos
para que a Polícia Federal assumisse o caso. Beatriz foi morta com 42 facadas
durante uma festa de formatura no Colégio Auxiliadora, em 10 de dezembro de
2015, aos sete anos de idade.
Leia
a carta na íntegra:
Sua
Santidade, Papa Francisco, Bispo de Roma e Pastor Supremo da Igreja, Estado da
Cidade do Vaticano, Roma
Santo
Padre,
Com
profundo respeito, fé e esperança, entrego em vossas mãos esta carta que relata
uma tragédia familiar e a dor de uma mãe em busca de justiça.
Todo
povo brasileiro compartilha da preocupação de Vossa Santidade em se solidarizar
com as mazelas sociais que afetam profundamente nossas famílias.
Quero
compartilhar com Vossa Santidade um acontecimento que destruiu completamente
minha família.
No
dia 10 de dezembro de 2015, num evento festivo que acontecia numa escola
católica administrada pelas freiras “Filhas de Maria” – o Colégio Nossa
Senhora Auxiliadora de Petrolina-Pernambuco, que pertence a Rede Salesiana de
Escolas – a minha filha, Beatriz Angélica Mota F. da Silva (7), foi brutal
e covardemente assassinada a facadas dentro daquelas dependências.
Esse
crime ainda não foi solucionado. QUERO RESPOSTAS. PRECISO DE JUSTIÇA.
Santo
Padre,
O
Evangelho é a grande mensagem da Vida, plenamente revelada na pessoa e na
palavra de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Eu deposito minha fé na crença
de que DEUS AMA A JUSTIÇA.
Não
consigo continuar vivendo esse sentimento de injustiça. As autoridades
policiais não possuem estrutura para atender nosso clamor. A instituição
(Escola Católica) NÃO nos ajuda, omite informações, e ainda age como se
estivéssemos na idade das trevas. A administração dessa entidade se utiliza de
subterfúgios procurando esconder importantes evidências, obstruindo as
investigações e procurando descredenciar os trabalhos já realizados pelos
investigadores do caso, mesmo porque, alguns de seus funcionários são os
principais suspeitos na facilitação dessa atrocidade. E isso contradiz
radicalmente o ideal evangélico apoiado pelas instituições religiosas de nosso
país.
Existe
uma mancha indelével na nossa sociedade e esse estranho comportamento dessa escola
católica afasta as famílias do Vale do São Francisco da nossa Santa Igreja.
Papa
Francisco,
Vossa
venerável pessoa, na qualidade de Pastor Supremo da Igreja, sendo
internacionalmente reconhecido como grande líder moral da humanidade exerce um
papel profético capaz de atingir as consciências e intervir no auxílio ou mesmo
no sentido de sensibilizar as autoridades policiais, Ministério Público e
Governador do estado de Pernambuco, como também os administradores do Colégio
Nossa Senhora Auxiliadora de Petrolina a cooperarem com a elucidação desse
hediondo crime. E principalmente dar publicidade às imagens do
assassino recentemente reveladas pela Polícia Civil de Pernambuco.
Enquanto
não forem esclarecidos todos os fatos e os seus reais culpados não forem punidos
existirá uma dúvida em nossa comunidade de que algumas instituições católicas
trabalham para esconder práticas condenáveis de alguns de seus membros.
Querido
Irmão Maior, OUÇA O MEU CLAMOR e venha em meu socorro com sua palavra de ânimo
e com seus gestos divinos, capazes de expressar o Evangelho como a grande
Mensagem da Alegria, da Esperança, da solidariedade e da compaixão para com
todos.
Maria
Lúcia Mota da Silva, Mãe de Beatriz Angélica Mota F. da Silva.
Juazeiro,
Bahia.
Brasil,
10 de Julho de 2017
Blog: O Povo com a Notícia
Via: Folha PE