Seja qual for o resultado das
eleições, a reconstituição da história passará pela cadeia. Se Fernando Haddad
for eleito, Lula terá feito a campanha mais espetacular desde a chegada das
caravelas, elegendo o inacreditável. Se Jair Bolsonaro vencer, Lula descerá ao
verbete da enciclopédia como um manipulador fracassado que elegeu com sua taxa
de rejeição um presidente da República inimaginável.
Lula chega à beira da urna em posição constrangedora. Realiza um
derradeiro esforço para evitar um fiasco:
a vitória de Bolsonaro no primeiro turno. Expediu mais uma de suas correspondências
do cárcere. Endereçou-a ''ao meu querido povo brasileiro”. Anotou:
“Dia 06 de outubro é meu aniversário oficial. Espero ganhar de presente no dia
07 de outubro o voto do povo brasileiro no Haddad para presidente. Haddad é 13.
Haddad é Lula. Um grande abraço do Lula. Sem medo de ser feliz''.
Em verdade, Lula nasceu em 27 de outubro. Deve-se a menção ao dia 6 a um
erro cometido na hora em que a certidão de nascimento foi lavrada. Com medo de
que Bolsonaro o faça infeliz, Haddad apressou-se em trombetear a notícia falsa
nas redes sociais nesta sexta-feira. ''Amanhã, se completam 73 anos do
nascimento do maior líder brasileiro da história'', escreveu.
Haddad entrou na disputa tardiamente cantando como um tico-tico em terra
que tem palmeiras e cabo eleitoral presidiário. De repente, caiu-lhe a ficha.
Notou que a hospitalização não impediu que Bolsonaro voasse com o vigor de um
sabiá que come o fubá do antipetismo pelas beiradas. O poste havia se
programado para encerrar sua campanha em São Paulo. Na última hora, transferiu
a agenda para o Nordeste.
Teleguiado pelo controle remoto de Curitiba, tenta deter o avanço do capitão
sobre uma cidadela do PT.
Não demora e todos saberão se Lula sairá de 2018 consagrado ou
desmoralizado. Por ora, a única certeza à disposição é a seguinte: num Brasil
empregocida, com quase 13 milhões de desempregados, a influência política da
cadeia revela que o único empreendimento que prospera é a indústria da
decadência. (Por Josias de Souza)
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