Deflagrada nesta terça-feira
(15), a operação que mira o presidente do PSL, Luciano Bivar, em Pernambuco,
demorou quase dois meses para ser autorizada pela Justiça.
O aval foi dado pela segunda instância nesta segunda-feira (14), quando
seis dos sete juízes do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) concordaram com o
pedido da Polícia Federal e do Ministério Público - um dos juízes foi contra.
O inquérito foi aberto em março, após reportagens da Folha de S.Paulo
terem revelado o esquema de laranjas do partido do presidente Jair
Bolsonaro.
Os pedidos de buscas foram enviados pela PF e pela promotoria no dia 21 de
agosto, com endereços da sede do PSL em Pernambuco e do deputado Luciano Bivar,
presidente da sigla, entre os alvos.
A juíza Maria Margarida de Souza Fonseca, da 6ª zona eleitoral do Recife,
indeferiu as buscas em seguida, no dia 9 de setembro, dizendo não haver
elementos suficientes para a operação.
Três dias depois, em 12 de setembro, o Ministério Público apresentou um recurso
ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), reafirmando a necessidade da realização
das medidas.
O relator, mantido sob sigilo, poderia ter despachado individualmente, mas
preferiu levar o pedido para análise do plenário. Nesta segunda-feira (14), os
juízes do tribunal, enfim, autorizaram as buscas.
A PF montou a operação de um dia para o outro.
Antes do indeferimento das cautelares, o caso tinha ficado paralisado por
cerca três meses na Justiça, à espera de definição de qual seria o juízo
competente.
Além da casa de Bivar no Recife e da sede do partido, estão entre os alvos
endereços de três candidatas, Maria de Lourdes Paixão, Érika Santos e Mariana
Nunes, e de duas gráficas, Itapissu e Vidal, bem como seus representantes,
também tiveram busca e apreensão.
O esquema deu início a uma crise na legenda e tem sido um dos elementos de
desgaste entre o grupo de Bivar e o de Jair Bolsonaro, que ameaça deixar o
partido.
A operação desta terça-feira ganhou o nome de Guinhol, fazendo referência
a um marionete, personagem do teatro de fantoches criado no século 19. A
polícia apura se as candidatas foram criadas apenas para a movimentação de
recursos de forma ilegal.
Em fevereiro, o jornal mostrou que o grupo de Bivar criou uma candidata de
fachada em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na
eleição de 2018.
Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal
e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em
todo o país, mais do que o próprio presidente Jair Bolsonaro e a deputada Joice
Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.
À época, a Folha de S.Paulo visitou os endereços informados pela gráfica
na nota fiscal e na Receita Federal e não encontrou sinais de que ela tenha
funcionado nesses locais durante a eleição.
Em outra reportagem, o jornal também revelou que o partido liberou R$ 250
mil de verba pública para a campanha de Érika Santos, uma assessora da legenda,
que repassou parte do dinheiro para a mesma gráfica.
Ela declarou ter utilizado o restante dos recursos em uma outra empresa,
uma gráfica de pequeno porte, a Vidal, de um membro do diretório estadual do
PSL. Durante a eleição, Érika assessorava Gustavo Bebianno, presidente interino
da legenda, que virou ministro de Bolsonaro. Ele foi demitido em meio à
repercussão do caso.
A Vidal foi a empresa que mais recebeu verba pública do partido em
Pernambuco nas eleições.
Sete candidatos declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e
partidário na gráfica Vidal, que nunca havia participado de uma eleição e
funciona em uma pequena sala na cidade de Amaraji, interior de Pernambuco.
RAIO-X DO PSL
271.195 filiados (em ago.19)
3 governadores (SC, RO e RR), de um total de 27 estados
53 deputados federais, de 513; 2ª maior bancada, atrás da do PT (54)
3 senadores, de 81; a maior bancada, do MDB, tem 13
R$ 110 mi - repasses do fundo partidário em 2019 (estimativa)
Blog: O Povo com a Notícia
Via: Agência Brasil