Parece enredo de filme sobre a máfia italiana. O ex-deputado federal
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) combinava com executivos da Odebrecht de receber
propina em dinheiro vivo.
Acertavam o valor e marcavam o lugar da entrega. No dia e local
combinados o deputado ou algum emissário seu ia ao encontro de um desconhecido
que esperava com um pacote de dinheiro.
Para sair de lá com a propina, porém, Cunha (ou seu emissário) deveria
dizer uma senha, fornecida previamente pelo lobista da empreiteira. Esse
esquema foi descrito por Cláudio Melo Filho, responsável pelo lobby da
Odebrecht em Brasília. Em seu depoimento a investigadores da Lava Jato, ele
detalhou como a empresa entregava dinheiro a Cunha.
"Íamos até ele e dizíamos: senhor Eduardo Cunha, o Benedicto Júnior
e a empresa pediram para comunicar o senhor que deve haver um pagamento em
valor aproximado de tanto em determinada data." Benedicto Júnior era o
diretor de Infraestrutura da Odebrecht, que mantinha relações com Cunha.
"Esse pagamento, pelo o que me foi dito na empresa, era em espécie.
Então através dessa senha, acredito eu, a pessoa dizia a senha. Portanto aquela
senha identificava que ia ser entregue algum valor", disse Melo Filho. A
procuradora que tomava o depoimento de Cláudio Melo Filho pediu para o lobista
explicar melhor o que a senha significava.
"A senha identificava um valor, né? Certamente ele ia em algum
lugar, era recebido por alguma pessoa, dizia a senha e automaticamente aquela
senha, conforme a área de operações estruturadas já tinha programado, equivalia
a um valor específico", explicou o delator.
Cunha era identificado na planilha da Odebrecht como Caranguejo. Melo
Filho deu exemplo de como o esquema funcionava. "A área de operações
estruturadas gerava a programação financeira dela. (Vou) pegar um exemplo
qualquer aqui. Trinta do sete de 2010. Consta aqui um valor de R$ 500 mil.
Avisava a gente sobre qual era a senha para esse pagamento. E a gente transmitia,
solicitava a reunião, e aí transmitia. Ele já sabia porque já tinha combinado
isso com a empresa. Então ele já sabia que ocorreria isso. E a mim, pelo menos,
nunca transmitiu nenhum local porque eu acho que ele já tinha combinado isso
previamente coma empresa."
A reportagem tentou contato com o advogado de Cunha e deixou recado, mas
ainda não obteve uma resposta. (Via: Folhapress)
Blog: O Povo com a Notícia