Após as críticas do escritor
Olavo de Carvalho terem chegado ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas
Bôas, considerado um decano entre os militares, o núcleo fardado do Poder
Executivo adotou nova estratégia.
Na tentativa de enfraquecer a influência do ideólogo de direita sobre Jair
Bolsonaro, a ala pretende reforçar a contraposição entre os grupos militar e
ideológico, ressaltando ao presidente que o primeiro oferece resultados
concretos, enquanto o segundo só gerou barulho e sucessivas crises políticas.
Para evitar que o escritor ganhe a atenção dos veículos de imprensa, a
ordem a partir de agora é ignorá-lo. A avaliação dos generais do governo é de
que já deram a resposta que tinham que dar a Olavo, por meio das manifestações
públicas de Villas Bôas, que o chamou de “Trótski de direita” e de “pivô de
todas as crises”.
O núcleo militar conta com respaldo de boa parte da classe política,
assustada com o bate-cabeça e a falta de ação concreta dos ideológicos.
Além disso, os sucessivos ataques de bolsonaristas aos políticos do
centrão no Congresso faz com que eles pendam para o lado dos militares.
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de
Governo e um dos alvos de Olavo, passou a receber nos últimos dias uma série de
vídeos com discursos feitos por políticos em defesa dele e dos militares do
governo.
Outra manifestação de apoio foi feita por governadores durante reunião com
Bolsonaro no Palácio do Planalto na última quinta-feira (9).
Os militares ficam incomodados com os sinais trocados dados pelo
presidente sobre o conflito entre os dois grupos. Enquanto em declarações
públicas e feitas por meio do porta-voz o tom é de “virar a página”, nas redes
sociais, as contas oficiais de Bolsonaro defendem Olavo.
Os aliados veem nessa duplicidade de postura uma clara ação do vereador
Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente e que é um dos
responsáveis por fazer suas postagens na internet.
O núcleo militar já se conformou que Bolsonaro não romperá com o escritor
ou enquadrará os seus filhos, seguidores de Olavo. O esforço agora é tentar
neutralizar o ideólogo, convencendo o presidente de que ele tem criado crises
sem sentido que prejudicam a recuperação econômica do país.
A avaliação, por exemplo, foi feita a Bolsonaro em almoço com os comandos
militares, na última terça-feira (7).
Em conversas reservadas, generais demonstraram a ele insatisfação e
afirmaram que Olavo não tem contribuído com a pacificação nacional.
Os militares do governo também têm argumentado que acabaram se tornando
fiadores da gestão atual e que uma eventual saída deles poderia desestabilizar
o mandato do presidente.
As críticas do escritor começaram logo no início do governo e se dirigiram
inicialmente ao vice-presidente, Hamilton Mourão. Olavo reclama da atenção dada
pelo general à imprensa, a quem sempre se refere de forma pejorativa.
O segundo alvo dos ataques foi Santos Cruz, por estar sob o seu comando a
Secretaria de Comunicação Especial.
A ala olavista defende que o Palácio do Planalto mantenha o mesmo tom
hostil adotado com a imprensa durante a campanha eleitoral e direcione verbas
publicitárias apenas para “veículos amigos”.
Já os militares defendem uma relação cortês com jornalistas e veem nesse
embate um desgaste desnecessário para o governo, que precisa transmitir para a
população propostas e projetos para garantir o apoio à gestão.
Na visão dos militares, as ofensas dos olavistas começaram em tom pessoal
e direcionado, mas ultrapassaram os limites atingindo a instituição das Forças
Armadas.
Com o silêncio de Bolsonaro, o núcleo militar resolveu dar uma resposta
aos ideólogos. Segundo relatos feitos à Folha, ela foi costurada a várias mãos,
com o consentimento, por exemplo, dos ministros e generais do GSI (Gabinete de
Segurança Institucional), Augusto Heleno, e da Defesa, Fernando Azevedo.
O escolhido para formular e assinar o texto foi Villas Bôas, que comandou
o Exército até janeiro e é considerado um líder das Forças Armadas, além de
contar com admiração fora das unidades militares.
A aposta era de que, por conta da credibilidade do general, o escritor
fosse criticado pela opinião pública caso fizesse provocações contra ele. Para
que a iniciativa não fosse brecada, o presidente não foi informado. Segundo
assessores palacianos, ele ficou sabendo da resposta apenas após a sua
publicação nas redes sociais.
Olavo não respondeu de imediato, mas, depois, chamou o militar, que sofre
de uma doença degenerativa, de um “doente preso a uma cadeira de rodas”. A
reação foi imediata. O general recebeu manifestações de desagravo tanto de
parlamentares simpáticos como de oposição ao governo, o que levou o escritor a
se explicar nas redes sociais.
“Eu não gosto de brigar nem com quem está resfriado, quanto mais com quem
está com doença grave”, disse.
Mesmo após o revés, Olavo continuou a atacar Santos Cruz, mas as críticas
tiveram menos repercussão e acabaram ignoradas pela ala militar.
Na semana em que se intensificou a ofensiva contra ele, Santos Cruz
promoveu três agendas de repercussão, em uma tentativa de demonstrar que produz
resultados e que conta com respaldo político.
O general promoveu café da manhã com deputados federais, anunciou
calendário de projetos do PPI (Programa de Parcerias em Investimentos) e
organizou reunião do presidente com governadores, incluindo nomes de oposição.
A ideia é que o esforço tenha continuidade nas próximas semanas, com
reuniões com investidores para que participem de leilões de obras federais e
encontros com congressistas simpáticos ao governo. (Via: Folhapress)
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